Para quem já se sentiu como um bolo que queimou. (Autor Ricardo de Faria Barros)


Era um dia de aula especial para a Milena, lá no IBMEC-DF.
Ocorre que o professor autorizara que naquela noite os alunos poderiam levar seus amigos, para junto com eles refletir sobre o papel do Bem Estar Subjetivo Positivo, uma das mais importantes descobertas da psicologia positiva.

Os alunos, Milena e Jean, convidaram seus pais.
Milena, depois de um dia super atarefada no trabalho, e umas duas horas antes da aula, teve a ideia de preparar uma de suas especiarias culinárias, para fazer um mimo pra turma, levando um delicioso bolo.
Mas, era muita coisa pra Milena pensar. Banho, unhas, cabelo e o bolo.
E, de tanto pensar, eis que enquanto toma banho um odor de bolo queimado invade o chuveiro.
Jean, seu irmão, grita: 

- Milena, o bolo tá queimando, acuda!

Ela, sai do banho correndo, pingando água por toda a casa, desliga o forno, e olha desolada para o que sobrou do bolo, totalmente esturricado.
Sentada na cozinha, desconsolada, não sabia como reagir a tamanho infortúnio, que quebrou suas expectativas de mimar a turma com um de seus quitutes.
Jean, sai de perto. Deixa a irmã viver seu próprio luto. E até pensa em passar numa padaria.
Mas, não seria a mesma coisa. Não era o bolo da mana.
Milena, levantou a cabeça, e lembrou-se da aula anterior, de Capital Psicológico, na qual um dos temas foi a Resiliência Sábia. Que é a capacidade de se adaptar à determinada situação, meio que dar um passo para atrás, avaliar a situação, aprender com ela, e saltar à frente.
Saindo da posição de vítima das circunstâncias. Saindo da posição de esperar respostas da vida, e, no lugar, oferecer respostas à ela.

E foi o que a Milena fez.

Ela tirou o bolo do forno. Avaliou os estragos. E percebeu que talvez o recheio tivesse escapado do fogaréu.
Então, raspou uns 10 cm da crosta queimada, e percebeu que o seu interior ainda estava perfeito, sem ter passado do ponto e com uma aparência deliciosa.

E, convenhamos, o bom do bolo é o recheio, não é?

Aí, ela pegou uma lata de Leite Moça, que era como eu a chamava antigamente, misturou com flocos de coco, e criou uma nova cobertura.
Ao chegarem na aula, ela e seu mano, sorriram pra mim e disseram: “Professor, trouxemos um bolo e os nossos pais como convidados.”
A ideia era que os convidados fossem recebidos com uma espécie de lanchinho de boas-vindas.
Aí, ela toda feliz foi logo me dando uma fatia de seu bolo.
Confesso que hesitei, por alguns segundos. Desde pequeno não como doce. Não porque meus pais não me deram. Mas, algo em mim não sente muito prazer em doces.
Mas, como não comer o bolo da Milena? Peguei minha fatia, deixei em cima da mesa, e disse que abriria uma exceção pelo gesto tão bonito dela, o de fazer um bolo para nós.
Comi e estava delicioso, molinho, suculento, com um sabor de carinho.

Aí, no meio da aula, ela compartilhou a história daquele bolo. E ficou melhor ainda. Agora, com o contexto, não era qualquer bolo. Era o bolo da redenção, quase uma fênix.
Um bolo com sabor dos que se reinventam, após as dores, sofreres, decepções e lutos.
Um bolo que se chama Resiliência.
Um bolo que nos representa.
Então, se você que me lê está passando por um momento difícil em teu viver.
Se acha que teus sonhos e projetos de vida mais especiais queimaram, enquanto tomava banho.
Faça como a Milena.
Raspe a parte queimada, mergulhe no fundo de si mesmo (a), e veja o quanto de coisas boas ainda lhe resta, lá no recheio de teu viver, naquele lugar onde as coisas realmente importam.
O resto e a casca são aparências.
Tem um monte de coisas boas no recheio de tua vida. Bote por cima delas um pouco de Leite de Moça, e tá feito novamente a beleza de teu degustar da vida e do viver.
Se ficarmos focando na parte queimada, acharemos que não tem saída. Que acabou. Que não tem mais jeito.
Se olharmos para nossa força interior, para nossa essência, encontraremos lá dentro a coragem de recomeçar, de nos reinventar, de nos transformar em algo melhor ainda, do que o antigo bolo, caso não tivesse sido tostado.
Porque agora temos o sabor de quem joga o jogo da vida, e quem joga o jogo da vida se sente vulnerável, muitas das vezes.
Se sente perdido, desencantado, desanimado. Mas, são sentimentos volúveis. Que se dissolvem tão rápidos quanto à corrida do chuveiro da Milena, para desligar o forno.

Porque os que encaram a vida com bravura não tem tempo, nem disposição, para ficarem chorando o leite derramado, à beira do caminho. Eles são daqueles que se levantam e voltam pra casa, embora tristes, mas cheios de esperança, que num amanhã possível as vacas darão leite novamente, e que ele não mais deixará o vasilhame cair.
Bora gente, vamos tratar de raspar a parte do bolo da vida que queimou. Tratar de arrumar uma nova cobertura. Acredite, teu recheio continua bacana!
Obrigado Milena, a aula foi você!

4 comentários:

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  2. Ricardo, obrigada por sempre nos motivar e nos ajudar a encontrarmos o que temos de melhor. Vida que segue, levanta sacode a poeira e dar a volta por cima. Namastê

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  3. Parabéns professor Ricardo por ver a essência das pessoas!
    Parabéns Milena por praticar as pérolas do aprendizado!

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  4. Parabéns pela inspiração Professor! Conheço a determinação dessa linda Menina e posso lhe assegurar que o Céu é o limite para os seus sonhos! Hoje, ao ler seu belo texto, descubro que ela está em ótimas mãos para impulsiona-la na conquista dos seus ideais! Parabéns a ambos Prof Ricardo e Milena que nos brindam com uma bela historia de vida!

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