Cortesia É Coisa Rara

Hoje saí para levar o carro na oficina e aproveitar para fazer exames complementares no SABIN de São Sebastião. Levei o carro para uma grande oficina e central de troca de óleo que tem bem perto dali. Era umas 8h30min e tinha uns 10 funcionários, todos de jaleco azul. Entrei, ninguém me deu bola. Perguntei quem era o responsável, ao que um deles apontou para o de boné branco. Cheguei perto e perguntei se poderia alinhar , balancear e verificar os freios. Ele disse algo, mais parecido com um resmungo, e gritou para alguém para verificar. cri cri cri...
Esperei esse alguém por uns dez minutos. Naquele tempo, outros passavam por mim e não me viam. Cada um com seus problemas, devem ter pensado.

Fiquei exercitando meu poder de observador cotidiano. Após uns 15 minutos, enfastiei-me de bancar o fantasma.

Entrei no carro, liguei o motor, dei ré de dentro da oficina e saí. Não sem antes trocar um olhar com o de boné branco. Li a sua mente: "menos um cliente".

No caminho para o Sabin vejo uma minúscula oficina, com uma placa estampada na sua fachada: "Especialista em Freios". Paro o carro lá e pergunto se enquanto faço os exames ele pode checar os freios. Tudo ok.

Vou ao Sabin. As mocinhas que tiram sangue não estavam felizes. Notei na pele. Fico numa sala de recuperação aguardando 2 horas para a outra coleta. Uma hora se passou eis que mecânico do freio ali adentra. Imagino o quanto ele negociou na portaria para ali entrar. E diz, "Sr. as pastilhas estão estragadas, mas aqui em São Sebastião não tem para vender, só no Plano". Fico sem jeito com tamanha delicadeza dele vir me informar.

Pena que saiu sem ganhar um café das mocinhas do Sabin. Bem que merecia.
Ao pegar o carro com ele, não quis aceitar nada. Disse que não tinha dado trabalho.

Quanta elegância e dignidade num simples mecânico de uma oficina de fundo de quintal.
Outro dia fui com a Angela Souza almoçar na feira do Paraguai. Ela queria comprar sapatos e eu óculos. Ali perto do BB, todos os estacionamentos estavam lotados. À minha frente um carrão tentava estacionar na única e cobiçada vaga disponível. Fico parado esperando. Eis que um senhor me aborda. Abro o vidro e ele diz:
"Dê uma ré que estou saindo ali atrás e você bota na minha vaga". 
Fiquei uns segundos sem reação. Custando a acreditar no que ouvia. 

Então, fiz o que ele pediu e estacionei no seu lugar, e ainda numa sombra.
Saí me beliscando. 
Essas coisas de doação gratuita de amor, de atenção e respeito deveriam ser comuns.
Estamos tão acostumados com tratamentos impessoais, no piloto automático, hostis... que aquele gesto do mecânico solícito. Aquele que entrou Sabin adentro para me encantar como seu cliente, avisando-me que não tinha a peça; Ou a do sr. da vaga que apareceria com sua saída, causam em nós um sentimento gostoso de que ainda é possível reverter tanta impessoalidade nas nossas relações interpessoais.

Vou comprar as pastilhas de freio no Plano e voltar lá para colocá-las, ele merece!

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