Sejamos Páscoa!

Manhã de quinta no trabalho, semana santa da Páscoa, pensamentos encaracolando-se na leitura de importantes documentos, e preparativos das reuniões dos Conselhos da semana vindoura.
Aí a Joyce, uma de nossas copeiras, adentra a sala oferecendo-me bolo.
Nego a generosa doação, não gosto muito de doce.
Mas, ela insiste.
"É de milho. Foi nossa comemoração da Páscoa. Comprado por nós, com o dinheiro de papelão reciclado.”

Aí, já mudo a história, e passo a gostar de doce desde pequeno. rsrs
Pego logo um pedaço farto, dou uma dentada, e pergunto-lhe:
“Que história é essa do papelão? ”. Já antevendo tesouros.

Afinal, sinto-me como um garimpeiro de preciosidades cotidianas. Um garimpeiro social. Depois, lapido as preciosidades e as compartilho, para que sirvam de inspiração a outras pessoas.
Joyce me falou que a “Encarregada”, Sra. Fabiana, aquela de camisa rosa na foto, motivou a todos para juntar papelão, daqueles de embalagens descartadas. Tanto os da Empresa, como os que achavam na calçada, no retorno do almoço, ou na chegada ao trabalho. É que ao lado de onde trabalho tem uma agência dos Correios, e é comum ver caixas de papelão na calçada, esperando o carro do lixo.
Dou meu celular pra Joyce documentar o evento. Um evento digno de registro.
Precisava, sem atrapalhar o evento deles, participar daquilo.
Afinal, não é todo dia que alguém tem uma boa ideia e a utiliza em prol do grupo. Ela poderia usar para interesse próprio, prática tão comum em pessoas que exercem algum tipo de poder em nosso país. Infelizmente.
Ela não. Ela mobilizou o grupo dos copeiros e zeladores para fazer uma caixinha com o dinheiro da venda do papelão, quando apurassem.
Na segunda-feira passada, Fabiana vendeu a mercadoria e apurou R$ 90,00.
Com o dinheiro, ela preparou uma celebração à vida.
Comprou bolos e refrigerantes. E, hoje cedinho pela manhã, ofereceu um café da manhã de Páscoa aos zeladores e copeiras do prédio, umas 12 pessoas.
O gesto da Fabiana foi minha Páscoa.
Quando Jesus percorreu a via-sacra, ressuscitando ao terceiro dia, foi para nos ensinar a amar. Ensinar a nos colocar como servidores dos mais simples, a ser bênção para quem cruzar nosso caminho.
A visitar os doentes, presos, ajudar o mendigo, amparar a viúva e o órfão. A ser bom, grato, de paz e justo. A perdoar e não atirar a primeira pedra.
Fabiana, doou-se em serviço indo além do preceito do cargo, e, com criatividade, fez a diferença na vida de pessoas – muitas das vezes esquecidas dentro das Organizações de trabalho.
Imagino-lhe abrindo caixa a caixa, para dobrá-la em volumes menores. Imagino-lhe negociando a mercadoria com o comprador de recicláveis. Imagino-lhe indo comprar uns bolos e investir o troco em refrigerantes de 3 litros.
Pessoas assim são Páscoa! São passagem do egoísmo à comunhão.
Da morte à vida. Pessoas assim, influenciam na vida dos outros, e para melhor. Pessoas assim deixam um legado por onde passam.
Antes de postar a foto, notei que aqueles profissionais tinha um coelhinho da páscoa em suas mãos. Chamei a Joyce e perguntei-lhe se tinha sido também com os R$ 90,00.
Aí ela falou que não. Que os coelhinhos da páscoa, com um sonho de valsa no interior, eram doação de Dona Giselda, a do segundo andar.
Que ela, ao saber da ideia da Fabiana, juntou-se a ela para abrilhantar o café da manhã, presenteado o pessoal com os coelhinhos. E que ela mesma tinha feito um a um à mão.
Mais uma que foi Páscoa para o outro, a Giselda.
Creio que o principal ensinamento do Mestre foi o de que é preciso “amar ao próximo como a si mesmo”.
Foi isso que Fabiana e Giselda, e por que não dizer a Joyce, ao me oferecer o bolo, fizeram.
Amor traduzido na palavra doação.
De gesto em gesto, de ação em ação, cada um pode tornar o lugar em que vive melhor.
Mesmo que seja juntando papelão, cortando e pintando coelhinhos da Páscoa - em plástico EVA, ou doando parte de seu bolo.
Ou seja, sendo bênção na vida do outro.
Que bolo de milho gostoso.
Vem cá, coma um pedacinho de bolo comigo, e Feliz Páscoa!
E, que sejamos Páscoa para quem cruzar nossos caminhos, nunca muros. Menos chocolates e mais amor nessa Páscoa e sempre.

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