Onde mora seu etarismo?

 


No Dia do Idoso: uma confissão, um perdão, uma revolução

Eu tinha 35 anos. Era um jovem recomeçando a vida em Brasília, pelos anos 2000, cheio de dúvidas e marcas de recomeços. Foi então que, em Cuiabá, num curso que eu ministrava, conheci uma mulher. Ela não era aluna, mas amiga de um dos participantes, o Aldo — meu amigo de tantas jornadas. Ele me pediu que a escutasse. Disse que ela estava em um luto profundo, precisando de apoio.

Eu não podia, em apenas cinco dias de curso, oferecer terapia. Mas podia estar presente. Assim, entre uma aula e outra, fora do horário, ofereci uma escuta improvisada, uma “bar-terapia”, como chamei. Ficávamos conversando longamente. Ela me contava suas dores. Eu, as minhas. Dois perdidos diante dos rumos da vida, dois corações tentando achar chão. E, sem que eu percebesse, nasceu um encantamento.

Ela tinha força no olhar, uma coragem silenciosa que me atraía. Eu sentia que podia nascer dali uma história. Mas dentro de mim se ergueu um muro: ela era dez anos mais velha. E eu, com meus 35 anos, não soube atravessar essa barreira inventada. O preconceito me roubou a coragem. E segui meu caminho de volta ao DF, carregando a dúvida do que poderia ter sido.

Hoje, no Dia do Idoso, faço uma confissão pública. Eu nutria um preconceito contra ela — e contra mim mesmo. Um etarismo íntimo, silencioso, que me fez acreditar que diferença de idade era abismo. Vinte e cinco anos depois, percebo: era só um detalhe. Se tivesse ousado, poderia ter escrito uma história diferente. Carrego essa culpa, mas também aprendi: a vida não mede amores em décadas de nascimento.


Onde mora o preconceito contra o idoso?

Muitas vezes, mora em nós.
Não é só a sociedade que diminui. Somos nós que repetimos frases como: “já não posso mais”, “isso não é pra minha idade”, “estou velho demais”. E assim alimentamos os mitos que nos aprisionam.

A gerontolescência é um tempo de redescoberta. Não somos restos de juventude. Somos uma nova estação da vida, uma primavera de possibilidades.


Como tratamos mal os idosos – às vezes sem notar:

  • Falando por eles, como se não tivessem opinião.

  • Infantilizando, reduzindo sua autonomia.

  • Excluindo de projetos e decisões.

  • Rindo de seus esquecimentos.

  • Impondo silêncio com frases como “isso não é para sua idade”.


Como romper esse círculo e florescer na longevidade:

  • Trocar o “não posso” por “ainda posso”.

  • Aprender algo novo: um idioma, uma dança, uma tecnologia.

  • Partilhar saberes: cada experiência é um tesouro.

  • Celebrar vínculos: família, amigos, comunidade.

  • Cuidar do corpo e da mente com movimento, espiritualidade e alegria.

  • Ousar: amar de novo, viajar, empreender, recomeçar.


Meu pedido e meu chamado

Hoje, no Dia do Idoso, peço perdão — àquela mulher, a mim mesmo, e a todos que já foram vítimas de meus preconceitos silenciosos.

E faço um chamado: que cada idoso, e cada jovem que envelhece, escolha florescer. Que não aceitemos mais o peso das frases que nos diminuem. Que sejamos protagonistas da revolução da longelescência — um tempo de flores, de raízes profundas e frutos novos.

Que nos perdoemos pelos preconceitos que nutrimos contra nós mesmos.
E que nunca esqueçamos: a vida sempre nos oferece recomeços.



Histórias não Escritas do BB - As Bolachas do Funrural




Dois toques que encerravam o dia e faziam a fita do caixa cantar. Primeiro, o balanço: conferência minuciosa, o frio na barriga que nenhum veterano perdia. Ninguém quer fechar caixa com diferença — nem pagar para trabalhar. Depois, a cortina baixava: saldo confirmado, missão cumprida.

Era como se a agência respirasse aliviada junto com a gente, soltando um suspiro de tarefa concluída. Aquele momento tinha cheiro de papel térmico e gosto de vitória.

O palco das siglas que viravam música

O Banco do Brasil era um grande palco, e as siglas eram instrumentos de uma orquestra secreta. Cada uma trazia um som próprio, um ritmo de bastidores:
- ESCAI – onde a roça virava linha contábil, escrituração que transformava semente em número.
- 0613 – a chave dourada que abria a porteira do financiamento agrícola.
- DEB 724 – o clarim da manhã, revelando a posição das contas correntes antes mesmo de o sol esquentar o telhado.
- CPR 740 – soprando a melodia guardada da poupança, a música dos sonhos em repouso.
- SLIP – a carteira de identidade das operações rurais, documento minucioso que dava rosto e história a cada contrato do campo.
- BIP – o batimento mensal da equipe: um jornal interno que misturava inaugurações, “Histórias não contadas” e notícias de conquistas.
- SETEX – local que fervia de clientes: sacando, pagando, depositando ou dizendo que o dinheiro não tava mais na conta. kkkk
- RETAG – mãos de costureira, tecendo lotes com documentos semelhantes dos caixas, alinhavando o expediente para que cada papel encontrasse seu lugar certo.
- CESEC – quase um gigante de silício, que mastigava dados e devolvia, em ritmo de pamonha e canjica contábil, a matemática da agência.
Até o MVS, com seu Mapa de Volume de Serviços que todos adoravam odiar, fazia parte da sinfonia inevitável do expediente.

Onde o papel virava vida

Mas a agência não era só papel.
Havia a Rural, com cheiro de terra molhada e café passado, onde liberar um financiamento agrícola significava ver dignidade brotar do chão. A gratidão, muitas vezes, vinha em forma de presente vivo: uma galinha, ovos fresquinhos, um quilo de feijão recém-batido.
A Plata, sala de visitas, era quase uma sala de estar: ali se falava de colheitas, de sonhos, de filhos na escola.
O Setop tecia linhas de crédito como quem borda esperança.
O Compe 30, maestro final, fechava a partitura do dia: saldos de cheques e documentos dançando em harmonia.
Cada código era mais que um comando: era um pequeno rito de transformação.

Personagens que viraram eternos

Na Agência 2520-8, em Remígio-PB, nos anos 80, cada cliente tinha um rosto, uma história, um cheiro.
Seu Juvenal fechava o dia me oferecendo vitamina de banana na bodega.
Dr. Passos, o maior aplicador, confiava seus milhões a um bloco de notas de bolso.
Edmilson perfumava o balcão com alho.
Dona Lurdinha trazia o cuidado das farmácias.
Petrônio abastecia sonhos com o mercadinho.
Sr. Mizinho, dono do posto, chegava com cheiro de gasolina e conversa boa.
Neto Bronzeado, prefeito com nome de sol, espalhava carisma.
E Catão… ah, Catão.
Rei das filas, cigarro aceso entre os dedos, humor que fazia o tempo escorregar. Sua fila dobrava, mas ninguém se importava: saía todo mundo rindo e com o caixa certo. Ele me ensinou que atendimento é encontro — que um simples pagamento de conta de luz pode virar conversa de alma.

A família de dentro

Nos bastidores, seis corações que cabiam numa Kombi: eu, Catão, Loyola, Jocimá, Severino e Barbosa — depois o Gomes.
Mais que colegas, cúmplices. Cada expediente era um jogo coletivo, em que cada um conhecia o passe do outro.
Havia heróis silenciosos:
- Marcelo, da agência de Areia, um verdadeiro Shaolin do ESCAI, capaz de desarmar as diferenças mais teimosas.
- Amadeu e Bartolomeu, vigilantes-poetas, que além de guardas eram conselheiros, informantes, guias de Funrural, e cronistas da cidade.
E tinha um comportamento delee que hoje minha memória me agraciou, e que partilho com vocês.  Amadeu e Bartolomeu sempre tinham por perto um copo de leite, água, café e bolachas, para acudir idosos que chegavam dos sítios de madrugada, para pegar um bom lugar na fila, e vinham muitas das vezes em jejum. Eles faziam isso por livre iniciativa. Hoje, 35 anos depois, tenho a comprensão do valor inestimável daquela atitude do Bartolomeu e do Amadeu. Quanta empatia e compaixao para com aqueles velhinhos que vinham de longe receber suas aposentadorias. 
Esse cuidado simples era uma aula de hospitalidade e humanidade.
Quando chegavam os dias de pagamento da prefeitura ou do Funrural, a agência virava uma festa: cheiro de café, gente que vinha de longe, papéis amassados que valiam como prova de vida. Uma pequena cidade cabia ali dentro.


Para quem chega agora

Aos novos bancários, deixo um convite:
olhem cada cliente como pessoa inteira, não como conta-corrente.
Cultivem amizades de equipe, pois são elas que sustentam nos dias mais duros.
Celebrem cada microvitória — um problema resolvido, um sorriso conquistado, uma dúvida desfeita.
Aprendam algo novo em cada expediente, mesmo que pareça repetição: a novidade pode estar no detalhe de uma história.
E mantenham o propósito vivo. É ele que transforma anos de serviço em fonte de alegria.

E lembrem-se: há vida além do banco. Essa foi uma das lições mais preciosas que levei comigo.
- Estudos e leituras: investir em conhecimento fora do expediente alimenta a mente e abre horizontes.
- Família e amigos: reservar tempo para estar com os filhos, netos, companheiros e velhos amigos é nutrir o coração.
- Igreja ou comunidade de fé: a espiritualidade fortalece e ajuda a processar os dilemas do dia.
- Boteco e roda de conversa: uma mesa simples, uma prosa longa, uma risada demoram mais a passar do que qualquer tensão.
- Esporte e natureza: caminhar, nadar, jogar bola, cultivar uma horta ou cuidar do jardim são maneiras de devolver paz ao corpo.
- Cultura e música: um show, uma peça, um filme ou um disco de vinil são lembretes de que a vida é maior que o saldo final do dia.

No dia a dia do trabalho bancário, aprendi a força do coletivo, do trabalho em grupo. Do sentido do que eu fazia, ou seja do meu trabalho com sentido, e não do sentido do meu trabalho. Também da gratidão, do propósito e da amizade.
A perceber que trabalho é lugar de significado, de realização, de encantamentos e propósitos, quando o cotidiano é costurado com humor e cuidado.
Esses respiros eram meu contraponto ao barulho das cifras. Eles me ajudaram a mediar tensões, a processar frustrações, a renovar forças. O Banco pode ser exigente, mas não deve ser o único enredo da sua história.

Porque, no fim das contas, o Banco do Brasil é mais que uma instituição financeira.
É um território de crescimento humano, onde cada meta pode virar semente de esperança e cada atendimento, um gesto de cuidado.
Quem entra hoje tem a chance de continuar essa sinfonia: não apenas guardando cifras, mas plantando humanidade — e também vivendo plenamente fora do expediente.
Há vida também fora do BB!

Entre Siglas e Afetos: Memórias da Agência 2520-8


Há palavras que não morrem. E há pessoas que vivem em nós. 

Ficam gravadas na pele como um carimbo datador, teimando em viver no presente.
O vocabulário que aprendi no Banco do Brasil é um desses baús: ESCAI, 0613, CPR 740, RETAG, CESEC…
Quem nunca habitou o coração de uma agência não imagina a música secreta que cada sigla escondia.
O ESCAI era o primeiro acorde: escrituração dos contratos de financiamento, a roça virando linha contábil.
O 0613 era a chave-mestra para registrar o financiamento agrícola.
A Ficha Cedep amarrava o enredo: conciliava contas internas que saíam de um departamento e repousavam, pacificadas, nas agências.
O DEB 724 inaugurava as manhãs com a posição das contas correntes.
O CPR 740 soprava os números guardados da poupança.
E o XER 601 destrinchava, com rigor de escriba, a contabilidade do crédito rural.

A Partida 0101 era coreografia pura — débitos e créditos girando em torno de um histórico escrito como quem narra pequenas epopeias.
O LIC condensava a doutrina bancária; o CIC, seu pai, guardava o saber dos primórdios.
O BIP, nosso jornal interno, batia o coração mensal da equipe, entre "Histórias não Contadas", inaugurações, e as últimas do BB, e seus triunfos. 

No palco das operações, cada setor era um planeta.
O SETEX, a verdadeira porta da esperança, era onde se processavam os valores depositados, transferidos, aplicados, sacados.
Ali, cada operação carregava uma história de vida — o sonho de um eletrodoméstico, o salário que "caia", a lavoura que ia brotar, a escola do filho, o conserto de um telhado.
O SETIN cuidava dos bastidores, processando papéis. Quase invisível, que só aparecia nas horas que algo dava muito errado. 
A RETAG preparava os papéis que viam dos caixas, embalava-lhes em lotes prontos, como quem fecha cartas de um correio invisível.
O AIA transmitia as captações, e o MVS media produtividade — um espelho frio diante do calor humano de cada atendimento. O Mapa de Voluime de Serviços  (MVS) era uma unanimidade, odiado por todos. kkkk

A Rural tinha cheiro de terra molhada e café passado.
A Plata, sala de visitas do BB, recebia clientes com jeito de casa de conversa.
O Setop operava com as linhas de crédito.  
O DAD e o DCD corrigiam diferenças da COMPE, mesmo as minúsculas, quase invisíveis.
O Compe 30 era maestro do fechamento: resumia o saldo dos cheques e documentos de débito em trânsito de compensação, enquanto boletos e DOCs faziam o mesmo para os créditos.
Os boletins BAL e BAC afinavam a contabilidade da Rural.
O Anexo Extracaixa guardava o que escapava da rotina, e o "bagaço de caixa".
A Ficha de Lote capeava conjuntos de documentos contábeis, como quem costura capítulos inteiros de uma história.
O oitavado — a oitava parte de um A4 — era o nosso post-it de raiz, servindo para pequenas anotações que faziam girar a engrenagem. Em alguns casos, substituia o email.  
E o Carimbo Tanque deixava, no verso dos cheques, as anotações que selavam seu destino.
No centro de tudo, o CESEC — para nós um quase gigante computador - que debulhava tudo que vinha das agências, transformando aquilo em pamonhas e canjicas contábeis.  

Mas ,a agência não era feita apenas de papéis.
Não havia alegria maior do que liberar um financiamento agrícola, sobretudo para pequenos produtores. A expressão deles, de alívio e consuideração, guardo até hoje nas lanternas do meu coração. 
Era quando eu via o papel do BB, ao sentir que o crédito virava colheita, dignidade, futuro.
E não raro, a gratidão vinha em forma de presente: uma galinha viva, uma dúzia de ovos, um quilo de feijão recém-batido.

Ali, na Agência 0520-8, em Remígio-PB, onde fui caixa na década de 80, cada dia tinha rosto, sabor e aromas.
As filas ainda eram por caixa — nada de fila única — e cada cliente tinha seu atendente preferido.
O seu Juvenal, por exemplo, gostava de ser atendido por mim. Seu Gonçalo, era o dono da padaria, e também gostava de minha fila. Era o último a chegar na agência. Com ele, eu sempre me lascava, já perto de fechar meu caixa, porque ele chegava com o dindin embrulhado num saco de pão, com o dinherio todo desarrumado, puído e moedas a rodo. Mas, eu gostava do jeito manso dele. 
Quando o expediente interno terminava, pelas três da tarde, os que moravam em Campina subiam a ladeira para pegar o ônibus, que fazia parada na bodega de Sr. Juvenal. Ali, ele preparava uma vitamina de banana para mim. Era sua forma de agradecer o atendimento. E era o sabor do dia encerrado.
Tinham outros personagens-clientes: o meticuloso Dr. Passos, maior aplicador da agência, que organizava tudo em um simples bloco de papel. O Edmilson, que vendia alho, transformando cheiros fortes em negócio. 
Dona Lurdinha, da farmácia.
O Petrônio, do maior mercadinho.
O Sr. Mizinho, do posto de gasolina.
O Neto Bronzeado, prefeito com nome de sol.
Cada um trazia sua história para dentro do balcão.
E havia o Catão, o caixa mais rápido que já conheci.
Um cigarrão firme entre os dedos, uma comunicação aberta, cheia de humor, e com um dialeto que qualquer cliente entendia. Catão conseguia transformar o "rebucetei" em algo sereno.  
Ele era o rei das filas: a sua dobrava de tamanho e, no fim do dia, raramente dava diferença.
Catão sabia compreender cada cliente como único.
Foi ele quem me ensinou que atendimento é mais do que agilidade: é encontro e presença amiga.
Com ele comecei a aprender  arte de humanizar cada relacionamento, de transformar um simples pagamento de conta de luz, numa breve conversa sobre a vida.

Assim, o retalho do dia se costurava, cheio de afeto, cumplicidade e humor, mostrando que trabalho também é lugar de alegria.

Nos bastidores, éramos seis. 6 corações que cabiam numa Kombi: eu, Catão, Loyola, Jocimá, Severino e Barbosa. Depois, após anos de choramingo com o Funci, veio o Gomes. 
Um grupo pequeno, mas que se completava e se ajudava como se cada expediente fosse um jogo coletivo.
Nosso grande herói era o Marcelo, da agência de Areia, um verdadeiro Shaolin do ESCAI.
Era ele que, com paciência e precisão, nos ajudava a arrumar as diferenças do SCAI. 
Porque ESCAI podia ser a própria sigla de inferno: diferença nele era a chapuletada do capeta: expressão que fazia sentido cada vez que um número teimava em não bater. E, poucos iluminados sabiam os labirintos dos códigos de comando do SCAI, como o Marcelo. 

Em dias de pagamento da prefeitura, a agência se tornava uma festa: um caos animado e produtivo.
Quando era o Funrural, o trabalho virava quase oficina de cidadania — explicando a muitos como transformar velhos papéis, “de embrulhar confetes”, em prova de vida. Ou acolhendo com água, café e biscoito, aqueles que vinham de sitios de madrugada, e estavam pálidos de fome. Amadeu e Bartolomeu eram os encarregados de prover um pequeno cafe para eles, custeado pelos colegas da agência. 
Amadeu e Bartolomeu? Posso dizer que sem eles a agência não funcionava. Amadeu e Bartolomeu eram os vigilantes da agência. Muito simpáticos que, além de cuidarem da segurança, erma conselheiros, informantes, guias de procedimentos do Funrural e relações-públicas da cidade. Se eles dissesse que o cliente tinha uma "vida pregressa boa";  era correr para o abraço e financiar! 
Naquele tempo, os vigilantes do BB eram patrimônio imaterial do banco, especialmente nas pequenas cidades.

Havia também os territórios de processos que nos impactavam. 
O Funci-Movim definia remoções e transferências.
A AUDIT, sinônimo de auditoria, fazia corações dispararem.
O Desed, depois Gepes, era pouso de cursos e reinvenções.
O Pronaf segurava o produtor rural.
O CTRL BAL revelava o saldo do caixa; o CTRL Z encerrava o terminal, como quem baixa a cortina de um palco.
E, ao final, o Espelho, nosso contracheque, refletia em números o suor que nenhuma cifra traduzia.

Mesmo o lazer falava essa língua.
O Satélite, famosa AABB, e a própria AABB eram quintal de futebol, música e riso.
O lendário 001, número do Banco do Brasil, soava como selo de pertencimento a um país inteiro.

Hoje, quando fecho os olhos, não vejo apenas um banco.
Vejo vidas entrelaçadas, amizades que se transformaram em escola de empatia, generosidade e humor.
Cada colega, cada cliente, cada gargalhada e cada desafio contábil foi um convite silencioso para cultivar as forças que a Psicologia Positiva chama de essenciais para o florescimento:
gratidão, pela confiança depositada e pelos presentes inesperados;
propósito, ao perceber que um simples lançamento podia gerar dignidade e futuro;
resiliência, ao enfrentar diferenças de centavos ou sistemas complexos sem perder a serenidade;
amizade e humor, que tornavam o trabalho leve e a vida mais saborosa.

Aprendi que, mais do que números, o que conta é a capacidade de transformar rotina em significado, de perceber que cada atendimento é oportunidade de fazer o bem, de criar vínculos que atravessam décadas.
Essas experiências seguem me ensinando que a verdadeira riqueza está em relacionamentos genuínos, na coragem de recomeçar e no prazer de celebrar as pequenas vitórias cotidianas.
Tudo o que vivemos ali continua a me lembrar que florescer é possível em qualquer tempo, quando escolhemos viver com gratidão, cultivar o bom humor e manter a esperança de que o trabalho, quando é humano, vira poesia para sempre.

E para quem hoje chega ao Banco do Brasil, deixo um recado:
olhe para cada cliente como pessoa inteira, não como um número de conta.
Aproxime-se com curiosidade e respeito; celebre cada pequena conquista do dia — um problema resolvido, um sorriso conquistado, uma dúvida desfeita.
Invista em amizades de equipe, pois são elas que darão sustentação nos momentos de pressão.
Pratique a escuta generosa, que é mais valiosa do que qualquer manual de atendimento.
Busque aprender algo novo a cada expediente, mesmo quando as tarefas parecerem repetitivas; a novidade pode estar em um detalhe, em uma história, em um olhar.
E, sobretudo, mantenha o sentido de propósito vivo: saber por que você faz o que faz é a energia mais poderosa para atravessar anos de trabalho com alegria.

Porque, no fim das contas, o Banco do Brasil não é apenas uma instituição financeira.
É também um território de crescimento humano, onde cada atendimento pode virar um ato de cuidado, e cada meta pode se transformar em oportunidade de desenvolvimento pessoal.
Quem entra hoje tem diante de si a chance de continuar essa história — não apenas guardando cifras, mas plantando esperança e colhendo humanidade.

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Obs: Na foto, da esquerda para a direita, Catão é o de barba. Tem também o Gouveia de camisa branca, e o Arimateia, de camisa listrada vermelha. Tem a Corrinha e a Silvia. Grandes amigos e amigas.  Eles são pessoas que vivem em mim. 

Malotes, Lacres e Memórias que o Tempo Carrega


Num sábado qualquer, num brechó escondido de Brasília, arrematei um antigo malote por dez reais. O cheiro da lona gasta, o zíper pesado, a costura firme: bastou o toque para que um clarão de memórias me invadisse. Era como se o passado, dobrado e quieto, respirasse de novo, abrindo-se como um livro esquecido que sabe exatamente onde a história parou.

Nos anos de Banco do Brasil, na agência de Remígio, cabia a mim a honra de abrir o malote. O supervisor me concedera essa deferência com a solenidade de quem confia um segredo. E, de fato, o malote era o coração do dia. Ao romper o lacre, a agência despertava. Ali vinham o DEB 744, com o listão de saldos; o temido DEB 724, com as contas devedoras; o CPR 740, com a poupança. Havia respostas de transferências, os famosos “Funcionário-Assunto-Razões”, e os indispensáveis talões de cheque personalizados — quando cheque era o “pix” de uma época, com direito aos célebres voadores que, às vezes, pousavam antes do tempo, provocando pequenas tragédias que faziam o gerente suspirar.
O malote era mais que um saco de lona: era um cordão vivo que ligava agências, colegas e afetos. Dentro, podiam vir bilhetes carinhosos, pequenos embrulhos, livros, recados, favores — um correio interno mais ágil que a própria ECT, um fio de humanidade costurado em pano. Alguns envelopes gritavam “Confidencial – A/C do Gerente Geral”, e a simples leitura desse carimbo acendia murmúrios e olhares cúmplices. Eu, com vinte e poucos anos, sentia-me o maestro que fazia a orquestra começar. A agência só respirava depois do meu gesto, como se a vida do prédio dependesse daquele rasgo no lacre.

Mas se abrir o malote era festa, fechá-lo para o envio a João Pessoa ou Campina Grande era pura tensão. Lá iam cheques acolhidos na boca do caixa, comandos do SCAI (Processamento do Crédito Rural), acertos do DEB e, sobretudo, o formulário 0101 — a peça-chave de todo acerto contábil, que movia contas internas com um débito, um crédito e um histórico. Sem o 0101, nada se conciliava. Era o formulário da harmonia, a pequena partitura que garantia que tudo chegaria ao seu destino certo, contabilmente falando.

Voltando ao malote, o nosso "maloteiro" era o lendário Galego do Malote, com sei ic^}onico Fiat Uno. Ele vinha de Cuité, passava por Barra de Santa Rosa, Remígio, Esperança, Lagoa Seca e seguia para Campina Grande. Tinha um sorriso fácil e um gosto simples: bodes, galinhas, conversa boa. Nos fundos da agência, eu criava um casal de caprinos à espera de mudança para o sítio em Jenipapo. O Galego, antes de seguir viagem, espiava os bichos, e, nesse ritual, eu ganhava uns preciosos dez minutos para um último comando no XER ou uma derradeira correspondência, ou um acerto na Via CEDEP. Galego era feliz por natureza, um homem de estrada, mas também de pausas, daquelas que ao contemplar galináceos, no quintal de uma agência bancária, é capaz de atrasar a pressa do mundo. Seu jeito manso, farto de ser gente boa, parecia segurar nossa ansiedade do tempo pela aba do chapéu.

E como esquecer o Plano Cruzado, quando plantões de fim de semana tentavam acalmar correntistas de poupanças congeladas? No começo, alguns apareciam. Depois, ninguém mais. Eu e Catão ficávamos de nove da manhã à uma da tarde, jogando dominó e esperando o cozido de galinha do boteco vizinho. O silêncio dos plantões tinha gosto de espera e de tensão contida. Muitos estavam revoltados com o sequetrso de suas economias, e queriam alguém para bater. Foi nesse tempo que nasceu um dos trotes mais saborosos da minha vida.


Numa manhã preguiçosa, num daquees derradeiros plantões de final de semana, liguei para meu irmão Guga, que estava sozinho na agência de Esperança. Escrevi uma ata oficial, com assinatura e tudo, atestando a presença completa da equipe e pedi ao Galego que a levasse. E que ao chegar na próxima agência, de seu circuíto, mostrasse ao meu irmão. Não é que o  Guga acreditou, e mobilizou meio mundo, muotos em casa, para irem assinar. E, satisfeito, , ligou para saber  o setor do endereçamento, já que na minha não constava. E eu era doido? “Rasga tudo, era um trote!”, revelei. Do outro lado, um silêncio, depois gargalhadas nervosas. O Galego ria até chorar, cúmplice de minha traquinagem. Aquele riso parecia ecoar pelas estradas poeirentas que o levavam adiante, costurando as cidades com sua alegria discreta.

O episódio teve seu gran finale quando Anselmo, avisado da brincadeira, deixou a família em Areia e veio, bufando, “me pegar”. Eu me escondi debaixo da mesa da cantina, erguendo apenas o litro de uísque que seria o brinde da galinha: “Vem comer e beber conosco!”, desafiei. Anselmo confiscou a garrafa e saiu batendo o pé, meio furioso, meio divertido. Catão ria até doer a barriga, e o Galego, em algum ponto da estrada, certamente ria sozinho. Entre risos, galinha e dominó, selávamos a amizade no balanço tranquilo daquelas tardes.

Hoje, com o malote comprado no brechó entre as mãos, entendo que a vida é feita de malotes invisíveis. Cada encontro é a abertura de um deles: um lacre rompido que revela afetos, segredos, esperanças. Dentro, depositamos palavras, gestos, emoções. Quando a convivência termina, o malote se fecha. O meu e o do outro seguem viagem, carregando paz ou inquietação, bondade ou mal-entendidos. Alguns malotes da alma chegam abarrotados de paz, doação, gratidão, esperança, fé, ética, respeito e solidariedade. Outros trazem silêncios, cansaços, aprendizados mais duros. Mas todos, de algum modo, nos transformam.

O segredo da vida é esse: abrir lacres de malote, nos permitindo ao novo; e fechar lacres de malote, zerando pendências, fazendo a vida fluir.
Cada manhã é um convite para abrir um malote diferente — um abraço inesperado, uma conversa que nos atravessa, uma boa notícia que se aloja no coração. E cada despedida, quando bem vivida, é o fechamento sereno desse malote, selado com o que de melhor soubemos enviar.

Enquanto houver um Galego para rir com a gente, um Guga para cair em nossos trotes, um Catão para dividir galinha e dominó, e um Anselmo para protestar e perdoar, haverá sempre malotes a abrir e a fechar na grande agência do tempo. Porque, no fundo, a vida é uma contabilidade secreta de encontros: lacres que se rompem, histórias que se escrevem, malotes que se enviam cheios do que somos e do que ousamos compartilhar. Entendedores, entenderão.

Os Longelescentes, da Revolução da Longeslescência


Eles não apenas envelheceram — evoluíram. Conheça os longelescentes, protagonistas de uma revolução silenciosa, vibrante e necessária.

Alguns dos longeslescentes que conheço:

👩‍🎨
Dona Lourdes, 74 anos, está aprendendo aquarela depois de uma vida como professora de história. Toda terça, ela dá aulas de cidadania para jovens em situação de vulnerabilidade.

🚴 Seu Mário, 68 anos, pedala 20 km três vezes por semana e lidera um grupo de cicloturismo na zona rural. Já completou cinco viagens intermunicipais sobre duas rodas.

🎭 Neuza, 70 anos, faz teatro, cuida da horta comunitária e iniciou um podcast sobre sexualidade na maturidade chamado “Desejos Grisalhos”.

Esses são apenas três rostos da geração longelescentes — um termo inédito que tive a alegria de criar para dar nome a um fenômeno real e transformador: um novo jeito de viver, pensar e representar a velhice. Esqueça a imagem da velhice como um fim de linha, marcada por silêncios e salas de estar eternamente ligadas à TV. Os longelescentes assumem o controle remoto da vida e recusam o papel de coadjuvantes.

💡 Quem são os longelescentes?

São aqueles que:

  1. Cuidam do corpo e da mente com intenção e disciplina.

  2. Aprendem novas habilidades constantemente.

  3. Reivindicam seu espaço no debate público e nas redes sociais.

  4. Vivem sua sexualidade com autenticidade.

  5. Têm hobbies, causas e projetos.

  6. Planejam o futuro com entusiasmo.

  7. Questionam estereótipos etários.

  8. Cuidam de suas redes de afeto.

  9. Participam ativamente da sociedade, como voluntários ou empreendedores.

  10. Praticam o autocuidado e o autoconhecimento como estilo de vida.

Mas mesmo esses protagonistas são frequentemente silenciados por atitudes sutis, quase imperceptíveis, como:

  1. Serem interrompidos em conversas com “você não entende isso”.

  2. Terem suas decisões revistas ou ignoradas pelos filhos.

  3. Receberem presentes e convites que pressupõem limitação (como pantufas ou bingo).

  4. Não serem incluídos em discussões familiares sobre o futuro.

  5. Serem chamados de “fofos” em tom infantilizante.

  6. Terem suas dores emocionais minimizadas como “coisa da idade”.

  7. Serem ignorados em ambientes de tecnologia.

  8. Não serem estimulados a aprender ou a criar.

  9. Terem seus corpos tratados como frágeis, mesmo sendo ativos.

  10. Ouvir “na sua idade, não precisa disso” como forma de desestímulo.

❌ A sociedade ainda quer empacotar essas pessoas em estereótipos ultrapassados: frágeis, cansados, ultrapassados. E pior — o faz com a conivência de instituições públicas que ainda não criaram políticas decentes para apoiar esse novo idoso. A violência contra os longelescentes não é apenas física — é psicológica, simbólica, estrutural.

CRÍTICA SOCIAL: O MUNDO AINDA QUER NOSSOS VELHOS ENGAVETADOS

Empresas que demitem aos 50+. Planos de saúde que cobram fortunas como se envelhecer fosse pecado. Filmes que só mostram idosos como figuras frágeis ou cômicas. Famílias que os tratam como móveis antigos – “até quebram, mas dói jogar fora”. O Brasil não está preparado para os Longelescentes. Falta política pública, falta emprego, falta representação. Mas sobra ageísmo – o preconceito mais normalizado do mundo. Aos que insistem em vê-los como “porcelanas frágeis”: cuidado. Porque essa geração já quebrou o vaso. E está plantando flores no caco.

🎓 Como psicólogo com mais de 20 anos de atuação com aposentados, com especializações em Psicologia Positiva, e em Gestão de Pessoas, e mestrado em Gestão Social e Trabalho, eu, Ricardo de Faria Barros, proponho: chegou a hora de reconhecer, respeitar e celebrar os longelescentes.

Porque a velhice, quando vivida com propósito, pode ser a fase mais potente da existência. Repito, 🌱 Eles não apenas envelheceram — evoluíram. 

Na foto, minha mãe e irmãos, que integram a revolução da longelescência!

🔁 Compartilhe este manifesto. Espalhe o termo. Dê voz aos longelescentes.

Balões ao Vento: Sobre a Vida que Permanece


O céu de Brasília tinha um tom de azul profundo, quase infinito, como se quisesse abraçar o Campo da Esperança em um gesto silencioso de conforto. A brisa vespertina sussurrava entre os galhos das árvores, espalhando pétalas que teimavam em florescer, mesmo em meio à tristeza. Era como se as flores soubessem que a despedida não era o fim, mas um recomeço. Lágrimas discretas escorriam pelos rostos, silenciosas, mas intensas, irrigando os canteiros de brevidades. Naquele campo sagrado, a eternidade parecia tocar o chão com delicadeza, enquanto o vento balançava suavemente os balões brancos que se preparavam para subir.

No Campo da Esperança, cada adeus era um sopro de saudade, e o vento se encarregava de levar as preces, os pensamentos e os gestos de carinho até onde nossos olhos não alcançam. Os balões, leves e flutuantes, carregavam consigo mais do que apenas ar: levavam histórias, sorrisos, abraços e toda a imensidão que Ronaldo deixava para trás. Não era apenas um ritual; era uma celebração da vida que permanece, mesmo após o último suspiro. Vida que se perpetua em legado, em afeto, em lembrança.

Sabe, Ronaldo, eu nunca tinha pensado em balões brancos como símbolos de despedida. Para mim, eles sempre foram sinônimo de festa: aniversários, formaturas, batizados, casamentos. Mas, naquele dia do seu adeus, eles ganharam um novo significado. Balões ao vento, subindo aos céus, também podem ser celebração da vida – da vida que não morre, da vida que deixa um legado e permanece conosco. E a sua é uma dessas vidas que não se apagarão.


Os balões brancos no céu celebravam sua entrega para a mãe-vida, em um estado de evolução contínua. Você evoluiu até o último minuto, Ronaldo. E só fez o bem. Agora, nos deixa um vazio imenso, pois sua presença transbordava alegria e fazia tanto bem a todos nós. Mas, olhando para o alto, eu tenho certeza de que você estará lá, entre as nuvens, sorridente, esperando um dia nos reencontrarmos.

Fiquei muito comovido com as inúmeras mensagens que seus colegas de trabalho compartilharam. Às vezes pensamos que o mundo corporativo é frio, impessoal, especialmente no relacionamento com os gestores. Mas você, Ronaldo, provou que pode ser diferente. Gerente de TI na ANABB, você mostrou que é possível liderar sem ser autoritário, sem ser truculento, sem perder a ternura. Na sua área, sempre tão exigida e cobrada, você conseguia manter a leveza. Sua presença zen e seu sorriso acolhiam a todos, quebrando o estereótipo do gestor distante e insensível.

Você, Ronaldo, era uma estrela rara no céu corporativo. Enquanto muitos profissionais antigos se tornam ranzinzas e descrentes, você permaneceu doce e amigo de todos. Em um curso de Psicologia Positiva que fizemos juntos, lembro como você participou com entusiasmo, provando que o coração também cabe na TI. Seu exemplo foi um alento para os colegas, mostrando que ser líder é, antes de tudo, acolher e incentivar.

Perto de você, todos ficávamos melhores. Sua casa, especialmente na época de São João, era um porto seguro de acolhimento e alegria. Você fazia questão de reunir pessoas, compartilhar histórias e fortalecer amizades. Até no ambiente de trabalho, sua capacidade de encantar e agregar pessoas fazia toda a diferença.

Eu queria balões no meu velório também, mesmo que seja depois da fogueira, mas não sei se merecerei tanto carinho. Hoje, aposentado, não tenho mais tantos colegas por perto como você tinha. Ainda me lembro da foto no Libanus, no encerramento do treinamento da ANABB em Psicologia Positiva. Naquele dia, planejamos tantas coisas juntos. Mas, pouco depois, veio a pandemia e o mundo entrou em compasso de espera.


Ronaldo, meu amigo, obrigado por tudo que você nos ensinou. Sua falta será sentida por aqui. Mas o legado que deixou sempre será inspiração. E, por favor, mande lembranças ao Papa Francisco, ao Mujica Pepe e ao Divaldo Franco. Agora vocês já podem jogar um carteado, porque formaram-se as duplas.

E quem disse que só existem poucos Ronaldos? Talvez a lição que ele nos deixa é justamente essa: cada um de nós pode ser um Ronaldo, doando paz, amizade e respeito por onde passar. Podemos ser aquele sorriso acolhedor, aquele abraço que conforta, a palavra que incentiva. A vida é curta demais para ser pequena, e Ronaldo nos provou isso. Que possamos inflar nossos balões da generosidade, soltar ao vento as amarras da indiferença e celebrar a vida, todos os dias, com a grandeza de quem sabe que amar é o verdadeiro legado. Até um dia, amigo.

Que o reencontro seja tão leve quanto os balões que te levaram, Ronaldo. Que o vento nos traga o sopro da tua paz, e que um dia possamos celebrar, juntos, o grande abraço que a eternidade promete.

E aqui, no Campo da Esperança, o canteiro de brevidades, irrigado pelas lágrimas, faz nascer frutos de amorosidades, que fortalecem a jornada dos que por aqui ficaram.

"A morte não é nada. Apenas passei para o outro lado do caminho. Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês, continuarei sendo. Me deem o nome que sempre me deram, falem comigo como sempre fizeram. Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador." Santo Agostinho

O Vigilante da Esperança e as Goteiras da Capela Sistina


Tem uma telha fora do lugar, e um pássaro alado, no telhado da Capela Sistina.

Na majestosa Capela Sistina, onde as obras de Michelangelo dançam sob o olhar atento dos fiéis e curiosos, uma goteira solene nos recorda a fragilidade das estruturas, tanto físicas quanto emocionais. Uma telha, solapada pelo vento, escorregou de seu lugar, permitindo que a água se infiltrasse, uma metáfora perfeita para as fissuras que surgem em nossos próprios sentimentos e pensamentos.

Perto da chaminé, um pássaro, incansável em sua vigília, parece ser um guardião da esperança. Ele pousa ali, como se soubesse que mesmo o mais belo dos templos pode enfrentar a erosão do tempo e das tempestades da vida. Sua presença nos lembra que, assim como as telhas, nossas emoções também precisam de manutenção. Não podemos permitir que as dificuldades nos tornem aborrecidos, rabugentos ou negativos. Precisamos, ao contrário, aprender com as pancadas que a vida nos proporciona.

Este pássaro, em seu voo gracioso, nos ensina a poetizar nossa existência, a olhar para a fragilidade humana com compaixão e misericórdia. É um lembrete de que não temos controle sobre tudo; os ventos da vida podem, a qualquer momento, deslocar nossas telhas emocionais. Assim, é imperativo que façamos revisões periódicas de quem somos. O autoconhecimento é a chave que nos permite evoluir e tapar as goteiras que ameaçam nosso bem-estar.

Por mais admirável que seja a versão de nós mesmos que apresentamos ao mundo, sempre há espaço para melhorias. Às vezes, é preciso que um olhar externo, um feedback amoroso, nos aponte as falhas que não conseguimos enxergar. Como é bom avisar ao Vaticano, por exemplo, que ali vem água, prestes a danificar o madeiramento do telhado. Esse gesto de cuidado é um ato de amor, tanto para com a estrutura física quanto para com nós mesmos.

A vida exige que não parem os aprimoramentos. Assim como um monumento grandioso, que requer atenção constante para preservar sua integridade, nossa essência também demanda carinho e revisão. Precisamos nos permitir olhar para dentro, aceitar a fragilidade e, a partir dela, construir um ser mais forte e resiliente. A cada goteira consertada, a cada telha realocada, encontramos um novo sentido, uma nova esperança.

Portanto, que possamos sempre lembrar do pássaro na chaminé da Capela Sistina. Que ele nos inspire a sermos guardiões da nossa própria esperança, a não temer as goteiras que aparecem em nossa jornada e a buscar sempre a beleza na fragilidade. Pois, a vida é uma obra de arte em constante construção, e o verdadeiro milagre está na nossa capacidade de renovação e crescimento.

Quando olhamos para um telhado antigo, a goteira que insiste em escorrer pelos cantos desgastados é um convite à revisão. Não é apenas um incômodo ou um problema a ser ignorado; é um sinal claro de que algo precisa de atenção, de reparo, de cuidado. As goteiras nos dizem que, por mais sólida que seja a estrutura, o tempo e as intempéries deixam suas marcas, revelando fragilidades. E, ironicamente, é por meio dessas fragilidades que enxergamos onde podemos melhorar.

Assim também acontece com as nossas vidas. As falhas que experimentamos — aquelas quedas inesperadas, os tropeços e os erros cometidos — são como goteiras em nossa estrutura emocional e cognitiva. Elas nos mostram onde existem vazamentos de autoconfiança, onde há rachaduras em nossa resiliência, onde a madeira do nosso caráter precisa de reforço. Ignorar essas falhas seria como tapar uma goteira com um pano: temporário e ilusório. Mas quando decidimos encará-las, entendê-las e, principalmente, aceitá-las como parte do nosso processo de evolução, abrimos caminho para o crescimento genuíno.

A aceitação das falhas é um ato de coragem. É reconhecer que, por mais que nos esforcemos, sempre haverá ajustes a serem feitos. Porém, esse reconhecimento não deve ser um peso, mas sim um incentivo à melhoria contínua. Assim como um telhado revisado e consertado resiste melhor às próximas tempestades, um ser humano que aceita suas falhas e trabalha nelas se torna mais forte diante dos desafios da vida.

A Goteira da Capela Sistina e a Manutenção da Alma


Há uma goteira no telhado da Capela Sistina. Ali, onde pincéis de séculos atrás traçaram o dedo de Deus tocando a criação, onde os afrescos desafiam o tempo e os olhares se perdem em contemplação, uma gota insiste em cair, lenta, persistente, um sussurro de vulnerabilidade em meio à grandiosidade.

Pode parecer um detalhe, um desvio quase insignificante no esplendor daquele lugar sagrado, mas essa goteira é um lembrete profundo da nossa condição humana. Por mais belas que sejam as obras que construímos — nossas vidas, nossos sonhos, nossas relações — elas estão sempre sujeitas aos ventos que afastam as telhas, à tempestade que desafia nossas estruturas. E é nesse ponto que compreendemos: precisamos de revisões periódicas do ser.

Assim como o Vaticano precisa saber que aquela gota insiste em cair, que a água aos poucos corrói a madeira, nós também precisamos ter consciência das nossas goteiras internas. Muitas vezes, acreditamos que somos versões acabadas de nós mesmos, como se o afresco estivesse completo e intocável. Mas, dependendo do ângulo de quem nos observa, há rachaduras que não enxergamos, falhas que o tempo revelou e que precisam de reparo.

Há uma beleza silenciosa em aceitar que não damos conta de tudo, que não controlamos os ventos que movem nossas telhas. Permitir-se ao autoconhecimento é abrir o telhado da alma, deixar a luz entrar, perceber onde há umidade, onde a estrutura está frágil. É ter coragem de aceitar que, por mais imponentes que sejamos, sempre haverá um ponto vulnerável — e que isso é belo.

Quando alguém nos avisa, com amor e cuidado, que há uma goteira em nós, é um gesto de graça. Como um peregrino que avisa ao Vaticano sobre o telhado, para que a história continue intacta, para que o legado permaneça. Não é crítica, é zelo. É amor que conserta.

E assim, seguimos em manutenção constante, impermeabilizando mágoas, trocando telhas quebradas de velhos traumas, alinhando as vigas da paciência, limpando as calhas do rancor. Porque evoluir é um processo infinito de reparo, onde cada goteira revelada é a chance de nos tornarmos mais inteiros, mais humanos, mais próximos da grandiosidade que habita em nós.

Se há uma goteira, que seja um convite para subir ao telhado da própria alma. Afinal, o que está por dentro também merece ser protegido da chuva.

A metáfora da goteira é poderosa porque ela não finge que o problema não existe; pelo contrário, ela o expõe. Da mesma forma, quando nos permitimos olhar para nossos erros com compaixão e lucidez, encontramos não só a oportunidade de corrigir o que está errado, mas também a chance de evoluir em aspectos que antes estavam ocultos. Cada falha, quando acolhida, é uma porta para o aprendizado.

Portanto, que possamos enxergar as "goteiras" da nossa existência com um olhar atento e um coração aberto. Que possamos identificar essas fragilidades não como um fim, mas como um começo, um convite ao aperfeiçoamento. Porque, no fim das contas, a evolução é feita de pequenos consertos, de revisões periódicas e de uma disposição permanente para sermos melhores do que éramos ontem.

Felicidades Mal Curadas


Hoje, acordei com dores de felicidades mal-curadas. Daquelas que o tempo não levou por completo, que ficaram presas nos cantos da memória, empoeiradas, mas vivas. Não doem como feridas abertas; ardem como um frio de outono que passa pela fresta da janela, lembrando que o calor do verão já se foi.

Lembrei de tantas dessas felicidades guardadas – aquelas que vivemos com a pressa de quem acredita que haverá outras tantas, em fila, esperando para serem sentidas. Era uma época em que achávamos que a felicidade era um estado permanente, um território vasto, quase infinito. Éramos tão jovens. Imortais em nossa ingenuidade. E fomos vivendo os dias como quem bebe água, sem sede, sem pressa, sem urgência.

A mesa cheia nos almoços de domingo, os sorrisos que se misturavam ao cheiro de comida caseira, as conversas atravessadas, a risada solta que fazia doer o estômago. Não sabíamos, mas aquilo era raro. Aquilo era felicidade pura, sem filtros, sem receios, sem o peso do tempo. Não soubemos guardar. Não soubemos prestar atenção suficiente.

Achávamos que as mãos que segurávamos estariam sempre lá. Que os abraços estariam sempre disponíveis. Que os olhares seriam eternos. Não sabíamos que o tempo viria, com sua marcha lenta e implacável, para nos mostrar que a maior parte dos dias é de luta, de preocupações, de rotinas apressadas. Só depois entendemos que aquelas felicidades eram exceções; pequenos milagres diários que passamos despercebidos, achando que eram apenas mais um dia comum.

Hoje, essas felicidades mal-curadas doem. E dói porque sabemos que não voltam. Porque sentimos que poderíamos ter vivido com mais intensidade, prestado mais atenção aos detalhes, aos cheiros, às vozes. Talvez se tivéssemos dado mais valor, segurado por mais um segundo, fechado os olhos para sentir mais profundo... talvez durassem um pouco mais.

Mas é isso o que elas fazem: voltam em forma de nostalgia, latejam no peito e lembram que o que foi vivido não pode ser remediado, apenas lembrado. São dores de uma felicidade que foi inteira, mas que, por falta de entendimento, ficou mal-curada. E talvez seja isso que as mantém vivas dentro de nós. Porque o que foi bem vivido, permanece; mas o que foi mal-curado, retorna sempre para doer de novo – e para lembrar que, quando a felicidade vier outra vez, saberemos que não é corriqueira.

Mas essas felicidades mal-curadas têm um propósito. Elas são um convite à gratidão pelo que ainda podemos viver. São um lembrete de que, mesmo que o tempo tenha levado alguns dias felizes, ele ainda nos oferece novas oportunidades de abraçar o que importa. Talvez de uma forma mais discreta, mais espaçada, mas ainda assim possível.

A maturidade nos ensina a identificar essas pequenas alegrias que, em outros tempos, poderiam passar despercebidas. O café quente numa manhã fria, o abraço de um amigo que chega sem avisar, o pôr do sol que pinta o céu de dourado... são esses pequenos milagres que, quando acolhidos com gratidão, preenchem os espaços vazios deixados pelas felicidades que ficaram para trás.

As felicidades mal-curadas são professoras silenciosas, que nos ensinam a amar mais devagar, abraçar mais demorado e agradecer mais intensamente. Porque agora sabemos que o tempo passa, que o vento leva e que as memórias são o que de mais precioso nos resta. E, se não podemos mudar o que já se foi, podemos sim, escolher viver o agora com mais presença, para que, no futuro, as felicidades não sejam apenas mal-curadas, mas bem vividas e eternamente lembradas.

Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental


Amanhã, dia 3/04, fará uma semana da promulgação da lei 14.831, de 27/03/2024, que criou o Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental. Infelizmente, ainda com pouca, ou nenhuma repercussão. E este é o objetivo deste post, convidá-los a ecoar esta matéria.

Que é muito salutar e que ajudará a valorizar e alicerçar práticas, programas e
políticas que já vem ocorrendo, no seio das Instituições.
Assim, conclamo vocês a debaterem esta lei, no âmbito de suas organizações, uma vez que a criação deste Certificado Federal, é algo muito positivo, e que vai induzir e reforçar ações na área de saúde mental, que anda tão sofrida e cambaleante.
 
Em qualquer que seja o relatório de tendências, do mundo do trabalho, ou de temas emergentes na área de gestão de pessoas, vai sair a preocupação com a saúde mental no trabalho, ou seus correlatos: bem-estar e qualidade de vida.
O nível de adoecimento mental está muito
alto no trabalho, e louvamos qualquer ação que fomente as práticas que reduzam
o adoecimento e que promovam a saúde são muito bem-vindas, como a criação deste
Certificado.
 
Para este caminho, o da Certificação, são propostas um conjunto de sete ações:
 
1. Implementação de programas de promoção da saúde mental no ambiente de trabalho;
2. Oferta de acesso a recursos de apoio
psicológico e psiquiátrico para seus trabalhadores;
3. Promoção da conscientização sobre a importância da saúde mental por meio da realização de campanhas e de treinamentos;
4. Promoção da conscientização direcionada à saúde mental da mulher;
5. Capacitação de lideranças;
6. Realização de treinamentos específicos que abordem temas de saúde mental de maior interesse dos trabalhadores;
7. Combate à discriminação e ao assédio em todas as suas formas.
 
Gosto do número sete porque ele se refere ao infinito e à plenitude. Creio que a colocação em práticas destas 7 ações ecoará na carreira e saúde de nossos trabalhadores, com impactos muito positivos.
 
Também, no documento, são propostas 6 políticas, cada uma melhor do que a outra, em termos do aperfeiçoamento das relações de trabalho:
 
a) promoção de ambiente de trabalho seguro e saudável;
b) incentivo ao equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional;
c) incentivo à prática de atividades físicas e de lazer;
d) incentivo à alimentação saudável;
e) incentivo à interação saudável no ambiente de trabalho;
f) incentivo à comunicação integrativa.

Mas, cada Instituição poderá ir além do ali proposto, e investir na revisão de seus processos de trabalho e gestão, prevenindo o adoecimento mental e fomentando a saúde no espaço laboral.

Nós da Ânimo Desenvolvimetno Humano, temos trilhas de desenvolvimento que poderão ajudar na capacitação e formação nesta temática. Veja no link:
https://lnkd.in/duEvUqth

#saudemental

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