Moradas


Nesse domingo curto a casa

da árvore do JG. 
Ele diverte-se com lançamentos
de brinquedo no pai. 
Diverte-se mais ainda pulando
a janela e me deixando preso no interior. 
A tramela da porta da frente fecha por fora.
Uma questão de segurança que não pensou na traquinice de meu filho ao prender o pai. 
Depois de alguns apelos infrutíferos, ele vem me soltar. Rimos os dois. 

Aquela cena compensou a frustração de ter rodado 80 km, até Sobradinho-DF - ida e volta, e não ter visto o filho caçula. 

É que hoje saímos de casa cedinho com o firme propósito de visitar o jovem casal, na sua morada nova. Contudo, Rodrigo e Carol não estavam em casa. 

Tinham ido comprar pratos e talheres. Pensei, sou mesmo nordestino que cisma em visitar as pessoas queridas sem se anunciar antes, só pelo prazer da surpresa. Na semana que passou, assinei mais dois contratos de morada dos filhos. O do Tiago & Carol e o da Priscila & Hugo. 

Todos agora possuem um CEP alugado e pra chamar de seu aqui no DF. 

Agora todos os meus filhos possuem suas próprias tocas. Agora eles começam de fato suas construções interiores. 
Seus voos para um lugar no infinito, tão perto, tão longe.

Fico pensando no quanto somos caverna, toca, buraco, tenda, oca, gruta, cabana, casa, apartamento e , árvore e catedral. Somos morada. Um ethos que se faz sentido no nós. 
No fundo, queremos um lugar pra acender a fogueira, pintar as paredes, nos proteger, alimentar, orar, repousar e celebrar o desafio e a beleza de viver.
Estou lendo um livro do Seligman que me remete à beleza das moradas. Chama-se Florescer. Ele fala do que realmente importa para o bem estar: Emoções positivas, engajamento, relacionamentos saudáveis, sentido de propósito e realizações.
A busca da primeira morada, longe do ninho dos pais, tem dos cinco elementos do bem-estar um pouquinho de cada, por isso tão gostosa a sensação. 

A noite se aproxima. Vem ofegante abocanhando os mais tenros raios de luz, então vou na cozinha e preparo um capuccino, está frio.
Aproveito pra ligar para meus pais. Quem atende é Celina, que mora com eles há 20 anos. 
Celina pergunta-me se eu tava vendo na TV as cenas do enterro do Eduardo Campos.
Respondi-lhe que não, que optei por não ligar a televisão nesse domingo.
Mas, que como o tema do que estava escrevendo era sobre morada, aproveito para dizer:lhe: Celina, não se entristeça teu coração: "na casa do Pai há muitas moradas".
E, com certeza ele será recebido por lá. 
Todas as outras moradas acabarão um dia virando pó.
A única morada que ficará de pé, 
quando tudo for caos, é a de um espírito órfão que todos os dias chora e suplica em nosso peito com saudades do regaço de seu Pai.
Mas, só Ele saberá a hora e dia do encontro.
Podemos até estar tomando cafezinho num lugar em que um avião cairá, em poucos minutos, e de lá ter saído a tempo de não ter acontecido nada, e, ao orar agradecendo, uma porta passar voando por cima, motivada pela explosão do querosene do avião que jaz no quintal. Não era o dia.
Aí escuto um sussurro dizendo-me: "bota umas linhas Minhas aí na tua crônica". 

Obedeço.

"Ei, enquanto não Te chamo, contribua em tornar esse mundo melhor do que encontrou. Este é o valor do bilhete para a eternidade, um lugar em que cada lágrima tua, de choro ou riso, fez germinar frutos de um banquete de vida plena que tu ainda irás prová-lo."

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