A juventude é uma consquista da alma. (Por Ricardo de Faria Barros)


Comecei a trabalhar com aposentados na Fundação Telepar (Telecomunicações do Paraná) em 1997, em Curitiba, Londrina, Cascavel, entre outras cidades do Paraná.
Os convites para minha participação eram custeados pela Sistel. Instituição que ainda hoje faz a gestão do plano de previdência das Teles.
Confesso-lhe que o namoro com o tema longevidade, encarnado em forma de grisalhas expressões, foi paixão à primeira vista. Desde então, não larguei mais os estudos e práticas com o pessoal desta  área.
Àquela época, eu tinha acabado de me formar na clínica psicológica, e como os encontros eram nos finais de semana, eu conseguia ali exercer alguns conhecimentos da Logoterapia (Terapia do Sentido na Vida), sem prejuízo de minha atividade principal como bancário.
Naqueles eventos, eu ficava impressionado com a garra e vitalidade de muitos sessentões, que não mais aceitavam a visão da velhice como incapacitante, como uma espécie de doença, e que de forma profética eram os arautos de uma revolução social que estava ocorrendo mundo afora, derivada do aumento da expectativa de vida.
Uauu!!!
Afinal, Viktor Frankl, pai da Logoterapia, dizia: "Pode-se tirar tudo de um Homem exceto uma coisa: a última das liberdades humanas - escolher a própria atitude em qualquer circunstância, escolher o próprio caminho".

Escolher a atitude diante de situações. Quanta sabedoria de Frankl.

O mesmo Frankl que à luz de sua experiência como prisioneiro no campo de concentração de Auschwitz (1942-1944) escreveu: "Quando a situação for boa, desfrute-a. Quando a situação for ruim, transforme-a. E, quando a situação não puder ser transformada, transforme-se!."

Corta a cena, e mais de 20 anos depois sou convidado pela mesma Sistel para proferir um ciclo de palestras para os aposentados das teles, país afora. Missão que venho assumindo desde 2018, e com muita honra e satisfação Desde então, já estive com o pessoal da Telerj, Telesp, Telemig, Telern, Telce, Telpe e Telepará. Em agosto, encontrarei-me novamente com o pessoal da Telepar, e será muita a emoção, vinte anos depois.

Naqueles idos de 1997, nos eventos com os sessentões da Telepar, eu os encerrava afirmando que precisávamos chegar com qualidade de vida aos 80 anos.
Nos eventos que agora conduzo, encerro convidando o grupo a chegar com qualidade de vida a pelo menos s 100 anos. Lógico, se Deus assim permitir!

De cada evento, saio muito mais rico do que cheguei. Em determinada parte da palestra eu peço que uns cinco voluntários, compartilhem testemunhos de como tornaram a vida algo pelo qual vale a pena se viver.

No último evento, o do Pará. uma senhorinha, de uns 90 anos, disse que o que faz - pelo o qual vale a pena viver é ensinar as tarefas para netas e bisnetas. Ela falou com uma altivez de iluminar pálidos  candeeiros emocionais.

Já o outro disse que se dedica às pastorais da igreja, assim não tem tempo para ser infeliz, relembrando as coisas que lhe fez sofrer e os lutos que já tivera.  "Afinal, tem mita gente precisando de minha ajuda."

Uma outra, tão linda, disse que era uma pessoa muito agitada, muito estressada e com tudo, e que descobriu que a vida pode ser melhor diminuindo a intensidade, as cobranças e controle sobre ela mesma,  e sobre todos da família, inclusive a mania de absorver os problemas deles, como se dela fossem.

Já uma outra, dirigiu-se a mim, após o encerramento, e disse que o valor da vida estava nos cuidados que prestava à mãezinha, que sofria da doença do Alemão. E que, no inicio, enxergava aquilo como um exaustivo fardo e sofria bastante, Mas que, de uns anos pra cá ela tinha entendido que era uma oportunidade que Deus tinha houvera dado. A de ser melhor, cuidando da mãe. E que se sentia mais jovem a cada dia, após ter alterado a forma que percebia aquele servir ao próximo.

Este pessoal que conserva a vontade de viver nunca se perderá nos abismos e guetos sombrios da vida. Sem a vontade de viver não se chega a lugar algum.
Eles aprenderam a lutar pela maior causa da jornada da vida e do viver,  e pelo maior de todos os tesouros: aqueles advindos da conquista da juventude da alma.

Se eu tivesse que resumir todos os aprendizados que já obtive com este grupo, eles caberiam nesta frase que criei e uso nas palestras: A juventude é uma conquista da alma.

E é mesmo. E isto não tem relação com idade. Existem jovens cheios de juventude. Existem jovens velhos. Existem velhos cheios de juventude. Existem velhos velhos. Aliás, já existem crianças velhas também.
A juventude é um estado de espírito, uma postura disposicional e intencional do ser, frente às circunstâncias a que são expostos, e a forma pela qual reagem aos limites que se apresentam.
Cultivando vários espaços de sentido na vida, seja cuidando do jardim, seja cantando para crianças que residem em abrigos, seja cuidando da mãe, ou apoiando causas sociais. E até que seja sobrevivendo mais um dia, a situações difíceis, sem desistir de viver!

Não vejo a hora de encontrar os velhos amigos e amigas, aposentados das Telecomunicações do Paraná, e dizer-lhe o quanto eles foram proféticos, nos idos de 1997, ao enfatizarem que não estavam prontos ainda para adentrarem aos aposentos e esperarem o dia da morte chegar, pois tinham aprendido que a juventude é uma escolha pessoal, revolucionaria, intransferível e inadiável.

Falaram tudo!

Afinal, como também mais uma vez tao bem disse o fundador da logoterapia Viktor Frankl:

"Nada proporciona melhor capacidade de superação e resistência aos problemas, e dificuldades em geral, do que a consciência de ter uma missão a cumprir na vida!"
Meus pais, uns oitentões que sabem fazer a vida valer a pena de ser vivida!

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