Termômetro Emocional (Autor Ricardo de Faria Barros)



Um dos indicativos de que as coisas não vão bem com o organismo é a febre. Quem já criou crianças sabe do aperreio de uma febre alta. E tome banho frio, tome remédio, tome preocupação que cavalga noite adentro. O termômetro indica como as coisas estão se passando dentro do organismo.  Já se passaram uns bons 400 anos da invenção do termômetro, feita por Galileo Galilei (1592), e a descoberta de seu uso médico, feita pelo fisiologista Sanctorius de Pádua, em 1612.  Quantas vidas se salvaram graças a este aparelhinho tão simples?
Seria muito bom se algo do tipo fosse descoberto para medir o grau de nossas emoções.
Já imaginaram se houvesse um termômetro que nos alertasse sobre a nossa temperatura emocional interna?
Os marcadores deste termômetro poderiam ser estes: Desanimado -> Desmotivado -> Apático -> Ressentido -> Desiludido -> Desamparado -> Prostrado -> Culpado -> Frustrado -> Chateado -> Triste -> Irado  -> Decepcionado -> Ácido -> Descrente -> Ranzinza -> Crítico -> Pessimista  
Para cada um dos humores acima, haveria um nível aceitável e um nível doentio, que recomendaria uma intervenção imediata, para controlar o processo de infecção da alma.
Aí, poderíamos parar o que estávamos fazendo, e entrando em contato conosco mesmos, escanear nossas emoções, pensamentos e acontecimentos que provocaram este elevar da temperatura emocional.  Uma vez identificada a fonte de nossa febre emocional, poderíamos sobre ela atuar. Em processos de autoconhecimento, autoconsciência e autonomia do ser.
Em muitas das situações, o que elevou esta temperatura foi o foco perceptivo seletivo negativo do que nos ocorreu.  Expressos em narrativas cheias de coisas ruins, filtradas de forma doentia da realidade.
Imagine a seguinte cena:
Quando começou a narrar a semana o Sr. Amaro (60), visivelmente chateado, disse que a tinha perdido, pois ficara de “molho” em casa. Contou que houvera comido algo que lhe fez mal, e foi parar numa emergência de hospital que atendia seu plano de saúde.  Após triagem, colocaram-no numa enfermaria, para tomar soro e fazer exames.  Umas longas três horas depois, o médico plantonista deu-lhe alta, dizendo que a infecção intestinal ainda estava no início, e que ele poderia se tratar em casa, tomando antibiótico por 7 dias, e “nada de álcool e comidas gordurosas” durante o tratamento, recomendou-lhe o doutor. Amaro falou que ficou triste, pois perdeu de aproveitar a festa do batizado da sobrinha, regada a muita bebida e churrasco.
Se colocássemos o termômetro em Amaro o que revelaria? Quais emoções negativas estão com os valores alterados, e para cima, causando-lhe infelicidade?
Imagine agora que o Amaro aprendeu a identificar a subida da temperatura emocional e passou a intervir nela, alterando a polaridade das cenas que são captadas na realidade – do negativo para o positivo.  Ele vai contar a semana, abaixo, com a polaridade positiva:
Quando começou a narrar a semana o Sr. Amaro (60), visivelmente em paz, disse que a tinha ganhado, pois ficara de “boa” em casa, convivendo mais intensamente com a família. Contou que houvera comido algo que lhe fez mal, e foi parar numa emergência de hospital que felizmente atendia seu plano de saúde.  Seu atendimento foi perfeito, o reidrataram, pediram exames, e todo mundo estava querendo que ele logo melhorasse.  E que pouco tempo depois, umas 3 horas, o médico deu-lhe alta. Já que graças a Deus a infecção intestinal não evoluiu, podendo ser debelada em casa mesmo. E que havia uma boa opção de antibiótico pra o tipo de bichinho que apareceu na cultura.  Ele seria o motorista da vez, na festa do batizado da sobrinha, liberando a esposa para tomar uns champagne, coisa que ele nunca fazia, pois ela era quem voltava dirigindo. E que assumiria a churrasqueira, para colocar legumes e frutas para grelhar, já que não podia comer nada gorduroso, enquanto se recuperava do piriri.
Percebem a temperatura do segundo Amaro?
A situação e realidade são as mesmas.  O que mudou?
A narrativa, a leitura que ele vai fazendo, minuto a minuto, sobre tudo que lhe ocorre. Mudou a polaridade da alma, de negativa, para positiva. Vejamos:
Na segunda narrativa, Amaro extrai e colore o seu existir com aspectos positivos. Ele vai preenchendo o que poderia ser negativo, com fortes doses de gratidão, bondade, compaixão e acolhimento.
Tem que ficar em casa de repouso? Então ele se propôs a melhorar a intimidade no lar.
Não pode comer carnes gordurosas? Então ele vai grelhar frutas e legumes.
Não pode tomar álcool? Então, ele será o motorista da vez, liberando a esposa para os brindes.
Adoeceu?  Mas pelo menos tem plano de saúde, foi prontamente atendido, não ficou internado, e existe medicação para debelar a infecção, ele pode comprá-la.
É preciso fazer este escaneamento de nossos pensamentos e emoções toda as horas.
Para identificar quando estamos ficando com febre emocional. Quanto de nossa leitura da realidade está sendo contaminada apenas pela polaridade negativa.
Com narrativas da mesma repletas de ódio, desejo de vingança, medo, desconfiança, pessimismo e rabugice. 
É preciso aprender a nos conhecer, a nos ler por inteiro, identificando o que nos ocorre, quais vulcões estão querendo entrar em ebulição, quais áreas estão em polvorosa, para sobre elas atuar - mudando a ênfase e a valorização que lhes estamos dando.
Ser mais feliz passa, necessariamente, pela reescrita de nossas narrativas, particularmente sobre aquilo que saiu fora do planejado, controle ou nos causou algum tipo de aborrecimento.
Assim como dar um banho frio é uma dica que contribui em baixar a febre, eu tenho umas que melhoram a temperatura emocional positiva. Use-as sem moderação.

          1. Cultive a gratidão sobre tudo que lhe ocorre.
2. Seja menos perfeccionista e exigente consigo mesmo.
3. Aprenda que o maior perdão que a vida lhe pede, talvez seja para consigo mesmo.
4. Seja mais empático às necessidades dos outros.
5. Seja mais generoso e menos individualista.
6. Pare de achar que o mundo gira em torno de você.
7. Tenha menos expectativa sobre os outros.
8. Mude a si mesmo, diante de uma situação ruim e imutável.
9. Acolha algumas situações e vire a página. No mínimo, desenvolverão aprendizados.
10. Para cada ruminação de coisas chatas pelas quais passa, traga à mente coisas boas, legais e virtuosas que ainda lhes resta. Muitas delas, esquecidas, desvalorizadas, e à margem de teu viver.



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