Mamute Alexandre, um Cantor-Pescador de Esperanças (Por Ricardo de Faria Barros)

Alexandre Lins é um pescador de esperança.  Têm pessoas que chegam em nossa vida e a iluminam. Não precisam dizer muita coisa, não precisam aconselhar, não precisam nos oferecer nada, apenas sendo quem são.

O pescador Alexandre é uma destas pessoas.

Ele é dos pescadores da Ilha de Itamaracá, situada a uns 40 km de Recife. 

Às vezes, ele sai para pescar com sua pequena e valente embarcação, a Nayara. Outras, esegue com a Aninha, barco que construiu para seu companheiro de pesca, o "Renamp".

Você deve estar se perguntando o que há de especial no Alexandre, o que há de inspirador nele? 

Responderei com uma palavra: tudo.  

No primeiros anos de pesquisa e produção de conhecimento em Psicologia Positiva, entre 1998-2005, foram entrevistadas pessoas no mundo inteiro que sob as mesmas condições dos outros, ou não adoeceram, emocionalmente falando, ou se reinventaram, ou tinham um enorme entusiasmo pela vida e o viver, e elas eram pessoas inspiradoras e diferenciadas.  

Alexandre, bem que poderia ser uma destas pessoas.  Vou contar pra vocês alguns dos saberes do Alexandre, não é justo ficarem só comigo. 

1. Ser grato em todas as ocasiões e sob todas as condições.  Muitas das vezes, só somos gratos quando as coisas vão bem, quando elas dão certo. Com Alexandre é diferente. Ele, quando puxa suas redes de pesca, ou despesca os Covos (espécie de armadilha colocada no fundo do mar) e o resultado é pequeno, com pouco ou nenhum peixe, nunca o vi não agradecer.   Ele diz assim: "Está de bom tamanho. Nós não botamos nenhum peixe no mar..."  É ou não é um pescador diferenciado, alias, um ser de luz  A mesma coisa quando pessoas más roubam os peixes de suas redes. Ele diz assim, "certamente ela estava precisando mais do que eu, e pelo menos não roubou as redes". 

"Nós não botamos nenhum...".  "Pelo menos não roubou as redes".   Quanta sabedoria em lidar com os reveses da vida. 

2. Se alegrar com o que se tem. Um dia de pescaria em alto mar é muito desgastante. Alexandre acorda de madrugada e só volta para casa pela tardinha. E ele sabe extrair poções de felicidade desta dura jornada, enfrentando chuva, ventos, ondas e o sol, numa pequena, rústica e frágil jangada, a Nayara, que não tem coberta, nem quarto, nem cabine,  e sem nenhuma estrutura de apoio, que torne a pescaria mais cômoda. Mas, Alexandre cultiva o dom de se alegrar. Com o sol que está nascendo, com a lua que já se vai, com os peixes que pesca, conversando com eles antes de colocá-los na caixa de isopor. Alegra-se com o "ventilador" do vento que balança a jangada, e faz a bandeira dela tremer. Pela tardinha, voltando para casa, muitas das vezes sem nem o dinheiro da "Lambaca", como ele chama um apurado bom que terá com os peixes, aquele que cobrirá os custos com o óleo diesel e sobrará um dinheirinho de lucro, ele cozinha no convés da Nayara.  Animado, começa a tratar os peixes e frutos do mar, e quanto maior a variedade deles mais "adubado" diz que ficará o cozido. 
Ele prepara o almoço-janta num fogareiro à lenha, disposto dentro de uma lata de tinta, e que se, segura em pé por milagre, a cada balanço do mar. Com o caldo do cozido, ele faz um pirão rústico, bem grosso, que serve de base para sobre ele deitar o cozido de peixes. Esta argamassa deliciosa é colocada numa tampa de isopor, que vira um prato-mesa, sendo nele comido com as mãos mesmo. Todo o preparo é só alegria. Alegria de viver, de desfrutar do que a vida tem a oferecer. Veja um Atoleiro em: https://www.youtube.com/watch?v=ZTdh4AFR--4

3. Mover o Carrossel do Destino.  Alexandre não é de desanimar com coisa pouca. E não é de ficar esperando a vida passar, olhando-a pela janela. Outro dia, o motor da Nayara falhou, quando estavam a uns 10 km da costa. Não havia sinal de celular para pedir socorro. E, pelo avançado da hora, nenhuma outra jangada estava voltando pra casa, e passaria perto deles. Então, ele não contou conversa, amarrou uma corda em si mesmo, pulou na água, e começou a nadar em direção à costa. Nadou por uns bons 60 minutos, até conseguir sinal de celular e chamar o socorro.  Noutra ocasião, ele resolveu fazer uma jangada maior, que pudesse pelo menos receber uma coberta, protegendo-o das chuvas, ventos e sol.  Ele foi em cidades vizinhas, atrás de madeira apropriada e a preço justo, e num barracão abandonado, começou a desenhar seu projeto, em toscas folhas de papelão, que serviam de molde. Percebendo que seu ajudante de pescaria precisava mais do que ele de uma jangada, pois ele já tinha a Nayara. Ele alterou o carrossel do destino do Renan, abriu mão do sonho da sua jangada maior, e passou a construir uma jangada para seu companheiro de pesca, que foi batizada de Aninha. Alexandre tem sempre um sonho no forno de seu viver. Ele é daqueles que busca realizá-los, e não fica só reclamando da vida, sem nada fazer para mudá-la. Neste sentido se insere a carreira dele como compositor e cantor. Sim pessoal, o Alexandre tem CD gravado, o "Chama na Calanga!" e já se apresentou até em programa de TV. Move ou não move o carrossel do destino uma pessoa assim? Pessoa que faz dos sonhos de futuro, pequenas realidades no agir do presente. 

4.  Nobres valores. Alexandre é uma pessoa otimista, boa, mansa e justa.  Os peixes menores, sem valor comercial, ele doa aos ajudantes de pescadores que ficam na praia, esperando aparecer um serviço de carregamento, ou descarregamento dos barcos maiores. Ele costuma dizer que pescador vive de esperança. E que não desiste nunca.  Seu primeiro Covo era grande e meio desengonçado, e recebeu o apelido de Mamute. E assim ficou sendo o Pescador Mamute, o Mamute Alexandre.  Em dias de vento forte não sai para o mar. Ele respeita a natureza e seus propósitos. Neste dia, ele vai para o seu "Estaleiro" e continua a fazer sua nova jangada. Sua relação com a família é de paz e de interesse para com todos. Chama as crianças de Mamutinhas e para cada uma delas tem uma palavra de inventivo. Quando as coisas estão difíceis, ele costuma brincar com a situação, dizendo que na casa dele as formigas estão comendo até o sal. Ou seja, já não há mais nada que elas possam se aproveitar, e comem o sal.  O que restou. Usa de um esperto humor pra levar a vida, com mais leveza. Ele fala sorrindo, com olhos amigos e ternos para com a vida, sem murmuração, sem se maldizer, dizendo que ao redor do caldeirão tudo é beira. Fita o horizonte e professa que no outro dia a pescaria será melhor, esperando que no amanhã que se aproxima as redes sejam mais generosas para com ele, que está "sendo judiado".

5. Sabedoria e Espiritualidade.  Um dia perguntei ao Alexandre com que olhar ele vê a vida. E ele respondeu de forma muito bonita, a que reproduzo aqui:  "Devemos ter fé, positividade e alegria de viver. A vida já é bastante dura para você andar se lamentando. Devemos procurar viver com esperança e alegria, acreditando que Deus tem preparado o melhor para os que Nele acreditam.  Tenho uma máxima sobre o Passado, o Presente e o Futuro.  O Passado, nos ensina mutia coisa, dele tiramos aprendizado tanto das coisas boas como das ruins. O Presente, nele se vive da certeza que tivemos um passado, qual ele tenha sido, e assim podemos viver o presente mais intensamente. Colocando em prática, com os aprendizados do passado, a melhor forma de viver com o nosso semelhante e a natureza. O Futuro precisa ser planejado, esperando que Deus possa realizá-lo. E eu entendo que todo mundo vive o Futuro, porque a cada milésimo de segundo que passou, vivemos o passado, o presente e o futuro, e ao mesmo tempo".  Uauuu!!!  Para quem leu filosofia existencial, na obra de Sartre, por exemplo, chamada o Ser e o Nada, o Alexandre resolveu uma das inquietações daquele autor, sobre a brevidade e singularidade da vida. Um humilde pescador, ensinou o que doutores em filosofia ainda procuram aprender. Que o sentido na vida está em cada segundo vivido, em viver o que se vive de forma intensa, pois logo ali já será passado, e que longe de assustar, este passado, se tece ao presente, antecipando o futuro planejado, em ações cotidianas, no aqui e agora.  Caraca, o Alexandre foi longe nesta sua descrição, transcrita de forma literal, do seu olhar sobre a vida e o viver. Um olhar holístico, integrado, complexo e multifacetado, que considera o tempo como capital, investido num aqui e agora sempre presente.

Deixo-vos com um trecho da música Mundo Melhor, composta e cantada por ele, vejam que bela mensagem:

"Pense nas coisas que trazem alegria.
O mundo precisa de paz e harmonia.
Esqueça as mágoas, esqueça o rancor.
Viva a vida com mais amor..."

Falou tudo amigo pescador!
Um Pescador de Esperanças.


Contatos com Alexandre:

Canal Youtube:  https://www.youtube.com/channel/UC9ZalI3xTcPdOHn8CFzyjoA
Instagran: https://www.instagram.com/mamutealexandrelins/
https://www.facebook.com/alexandre.lins.7315

9 comentários:

  1. Chama na calanga e Apertar a mura cavalo de pau Casa que tem menino chora logo kkkķķ Ricardo Belo trabalho você escreveu sobre o Alexandre muito emocionante e muito gratificante para o Alexandre

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    1. Obrigado amigo, por este retorno incentivador. De fato, o Mamute é um cara diferenciado, um anjo de luz entre nós.

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  2. Perfeitas descrição do nosso Amigo Mamute' (Alexandre Lins ).. Parabéns

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    1. Obrigado pelo reconhecimento. Ainda tinha muito mais coisas pra registrar, contudo o texto tava ficando grande.

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  3. Assim começa a sua história ( Mamute Alexandre Lins cantor e pescador ) lidas Descrições, parabéns forte Abraço do seu Amigo CHICO OLINDA.....

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  4. Mamute, tenho casa na Ilha há muito tempo.
    Qual o teu contato?

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  5. Mamute, tenho casa na Ilha há muito tempo.
    Qual o teu contato?

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