Um carro de um vendedor da feira-livre, carregado com sua mercadoria - cavalinhos de balanço, que embelezam o prejudicado veículo.
Disse-me que a primeira coisa que fez, no barraco onde foram morar, foi comprar um beliche e um guarda-roupa para as meninas.
Um bingo inusitado, num forró de pé sujo.
Dois jovens guardadores de carro da feira.
Os jovens das fotos fazem bico guardando carros na feira de Sebastião-DF.
O de camisa azul Marcos Antônio, o de camisa listada Luiz Carlos.
Luiz contou-nos que se casou semana passada com uma jovem que já tinha três filhas.
Falei para ele que comigo e a Cristina foi assim também. Ele olhou para seu amigo que zoava com ele e disse: "Tá vendo!".
Disse-me que a primeira coisa que fez, no barraco onde foram morar, foi comprar um beliche e um guarda-roupa para as meninas.
Mobiliou o único cômodo existente e foi com sua esposa dormir na sala-cozinha-banheiro.
Ele disse: "primeiro a gente ajeita elas, não é?". Enchi os olhos e agradeci intimamente haverem pessoas como ele. Chamou-me para ir no próximo domingo conhecer seu lar. Claro que iremos.
Sua dignidade em prover, com o pouco que tinha, em primeiro lugar um cantinho melhor para as meninas é de uma altivez singular.
Se os políticos tivessem esta prática com o povo a que representam este país seria outro.
O de azul, Marcos, adora brincar com o JG. Todo o domingo, enquanto carregamos o carro, ele brinca de correr com o JG, ou vai com ele ver o tanque com peixes vivos, à venda numa das extremidades do estacionamento.
Ou correm, voltado do tanque, sempre perdendo para o JG.
Ele deixa de "cobrar" de uns três clientes, enquanto vê os peixes com o JG, mas volta com a aparência rejuvenescida
Aliás, os dois.
Tem gente que vê a periferia, e os que nela habitam, como um reduto de pessoas más. Nunca penetram neste meio.
Tem medo e aversão. Lêdo engano, há famílias de trabalhadores que lutam pela sobrevivência, e possuem sonhos simples, "como o de ganhar o bingo de uma galinha" rifada num pé sujo empoeirado.
Eles se viram com dificuldade, mas sem perder a alegria de viver.
Galgam com uma esperança quase mística, milimetro a milimetro, a escala social em que se encontram
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