Tirei zero, e daí!

Convivo diariamente com pessoas que pararam de focar suas carreiras em desempenho, e ficam alucinadas em ascender, ascender, ascender. Pessoas até com pouco tempo de empresa, e de idade, que desconsideram que nossa carreira é de no mínimo 30 anos.
E, como as promoções que quer participar e vencer não acontecem na velocidade que almejam, na velocidade que esperam e que acham merecer, ficam resignadas e entram no piloto automático.
Crescer é bom, mas tem que ter paciência. Não pode queimar o filme e ser percebido como carreirista. Não pode involuir após um processo no qual não passou.
Ou não pode participar.
Ou até involuir depois que é promovido, entrando numa zona de conforto.
Ambição é excelente, nos faz querer mais e mais. Porém, se a dose é grande, ela nos fará sempre infelizes. Sempre ansiando algo, procurando algo. Nunca contente com meu fusquinha. A satisfação com o trabalho vai além de promoção. Fui muito feliz por cinco anos como caixa efetivo, durante os quais perdi umas 4 promoções para outros colegas, que a empresa achou melhor preparados para outros cargos.
Processava meu luto com mais trabalho ainda. E também vi um monte de Zé Ruela sendo promovido e trabalhando ao meu lado, em funções melhor remuneradas. Cagava e andava para eles. Nunca me nivelava por eles.
Nem tampouco deixava que eles me tirassem do sério. Nunca fiquei olhando a carreira do vizinho, seu cargo, procurando razões para sofrer numa inveja mórbida.
E não existe nada pior, no mundo altamente competitivo das organizações do trabalho, do que assumir um cargo para o qual não está preparando e lhe falta maturidade, cancha e um dos componentes do CHA: conhecimento, habilidade ou atitude. Ah, mas conheço um cara que assumiu. Deixa ele quieto.
Não queira para você o inferno de trabalhar sem motivação, sem sentidos no trabalho - só pelo apego ao cargo que este Zé Ruela viverá nas suas horas de jornada.
Pense num cara que vai sofrer!
Nada pior do que assumir um cargo e ninguém te considerar legítimo para ele. Cada vez mais raro, este fenômeno é o ruim para todos.
E assim foi na minha carreira de 27 anos de BB.
Ajustei meu estilo de vida às condições econômicas que o cargo me permitia.
Quando caixa, às de caixa. E aprendi a viver com pouco e ser feliz comendo bode com farinha na feira livre.
Via colegas endividando-se para fazerem festas de quinze anos, para proporcionarem roupas de marca, viagens aos filhos, carrões do ano.
Resisti, eu e meus bravos filhos. A festa de 15 anos de minha filha, feita por ela mesma, não me sai da cabeça: Pizza e guaraná com as amigas do colégio, lá em casa.
Carrego menos fardos em meu viver e aceito as bênçãos de um dia feliz, mesmo que seja sem almoço, para economizar. Ah! quantas vezes fiz isso, comendo pão com manteiga ou pipoca. E fui vivendo. Buscando prazer em coisas simples e acessíveis ao meu padrão de vida.
Lembro do dia que ligaram para mim e disseram que eu havia sido indicado para um importante cargo gerencial. Mandaram até que eu arrumasse as gavetas.
Passaram-se os dias e nada, e nada. Por uma questão de ética não liguei cobrando nada.
Meses depois soube do preenchimento da vaga num informativo interno que publicava o nome dos promovidos. Um telefonema explicando-me o que ocorrera não recebi. Engoli em seco e continuei a trabalhar e a viver com o que tinha.
E, quando fui participar de uma seleção para um cargo que amava, que ficaria perto de minha Paraíba. Não é que rolei na Segunda Etapa, a que pedia uma redação sobre gestão de pessoas. Sabem minha nota? ZERO. Estou falando, zero!
E já era professor de disciplinas da área.
Quase endoido. Mas, só por um dia. Então rasguei aquele zero que machucava meu viver. Deletei ele de minhas recordações. Pouquíssimas pessoas sabem disso. Só hoje falo dele nove anos depois. Se endoidasse daria razão a quem corrigiu aquela prova, ou não aceitou meu recurso. E assalariado não tem direito a endoidar, tem que continuar batalhando e sendo bom profissional senão sai do circuíto. Simples assim. 

Acontece que o funil vai ficando estreito. As oportunidades rareando à medida que subimos na "cadeia alimentar". E não é porque você não foi promovido que deve odiar seu trabalho e a empresa. Não há espaço para todos serem gerentes. E isso não torna os não gerentes menos felizes ou competentes. Apenas, a conta nem sempre fecha. 
Então, desencuque, caso você ainda não tenha sido reconhecido em processos seletivos. E, não peça a Deus. Vai que Ele te atenda. Nem sempre a promoção é o melhor para nós. Carreiras exigem escolhas. E exigem prontidão. Esteja pronto para pegar a oportunidade passando a galope à sua frente. Prepare-se e rale!
E tome ralação! Quando eu era Escriturário, eu ralava na substituição do Caixa. Quando eu era Caixa, eu ralava como Assistente, após fechamento. Quando era Júnior, eu ralava como Pleno, nunca escolhendo trabalhos. Quando era Pleno, eu ralava como Sênior, liderando grupos e projetos. Quando Sênior eu ralava como gestor, conduzindo e influenciando na mudança das coisas. Quando era Gerente de Núcleo, eu ralava como de Divisão, articulando-me e negociando globalmente. Prontidão é isso! Essa é a parte que tenho controle sobre o processo. Sim, subi um a um os degraus da carreira, e no meio da subida, ainda tive que estacionar em alguns. Mas nunca quebrei a escada. A mesma que subimos pode ser a que desceremos. É preciso ter humildade e compreensão do todo.Tem gente que ganhou um cargo e perdeu a família, o lazer, a si próprio. São escolhas. Todas têm preço. A cada escolha uma renúncia. Mas, uma escolha inadiável e que te fará feliz, é a escolha de viver o dia de hoje nas graças e bênçãos que ele oferece. De agradecer até onde chegou e sossegar o coração, esperando tempos melhores. Uma espera trabalhando. Plantando sementes que germinarão no amanhã. E, caso não germinem, nem sempre foi culpa sua. Continue a lançá-las, o tempo e solo poderão mudar e quando menos esperar verá elas germinarem. Acredite em si mesmo. E nunca pare na estrada da vida. Se parar, que seja apenas por uma noite e um dia. Depois, enxugue as lágrimas e continue a lutar.

6 comentários:

  1. Pense num cabra transparente! Aliás, convém deixar claro: essa foi sempre uma de suas marcas.
    Estou certo de que suas palestras estão cada vez mais atraentes.
    Grande abraço,

    Dodó Macedo.

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    1. Amigo, obrigado pelo retorno. Transparente, mas esperto! rsrsrs

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  2. Muito bom, as pessoas deviam mesmo refletir mais sobre escolhas e realizações.

    Não escolha uma profissão por quanto ela paga e sim pelo prazer que vai ter em realiza-la.

    Não queira escalar uma montanha de helicóptero, pois assim não aprenderá a superar os obstáculos. Escalar uma montanha exige preparo, paciência, força de vontade e tempo. Tempo para preparar o material, estudar a montanha, o clima e ter paciência para voltar ao caminho toda vez que deslizar e tiver que subir o mesmo caminho novamente.
    Mas quando chegar ao todo terá a satisfação e o prazer de mostrar a todo mundo que conseguiu subir e que antes e durante a escalada aprendeu muito e chegou lá pelos seus esforços e não porque foi colocado lá.

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  3. Tenho uma história, vou tentar resumir:

    O gerente geral e eu não nos demos bem. Ideias e ideais distintos. Adoeci, me afastei, retornei quando ele se aposentou. Ufa! Vai com Deus, meu filho!

    Chegou GG novo. Novo mesmo, de casa e de vida. Mais novo que eu. Ideias e ideais semelhantes. Mas o outro pintou uma reputação falsa a meu respeito até na Regional. O novo chefe, com o pé atrás.

    Um mês depois, primeira redenção: 'Louise, estou gostando do seu trabalho. Você não é aquele monstro que me pintaram.' Eu sabia, sabia que eu não era ruim! Não era possível, mas até eu estava já acreditando que quem não servia para o BB era eu.

    O novo chefe sai de férias, mas diz que quem vai substituí-lo é o colega mimizento, que reclama de tudo, quebra o celular quando trava, dá murro na mesa quando se frustra... Ainda não confia 100% em mim, o chefe. O meu esposo, indignado, diz que eu devo puxar o freio de mão. Boicotar.

    Então, uma obra do destino: um novo aplicativo de gestão de RH que vem com promessas, mas não funciona. Um fiasco, infelizmente. O colega surta. O substituto abre mão da substituição, que só queria pelo dinheiro, pelo visto, pois os contatos negociais, atender às ligações e responder mensagens aos assessores, representar a agência em audioconferências, coordenar e motivar a equipe, tudo isso eu já estava fazendo. Entro em contato com a Super e digo que agora a bola tá comigo.

    O chefe retorna, dizendo que, pela primeira vez, viu uma inversão de papéis: ele não recomendou o funcionário ao Regional, mas o Regional havia me recomendado a ele, tecendo elogios sobre o trabalho desempenhado. Segunda redenção.

    Alma lavada.

    E fica a lição: não é porque não fui a escolhida que devo mostrar que ele tinha razão para não fazê-lo. A gente segue em frente todos os dias provando o contrário, com atitudes.

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