"Amarre seu arado a uma estrela"


Aprendi a descarregar minhas emoções num celular-pedra. Quando estou nervoso, estressado, ligo para um "ente" qualquer e desabafo. Ou xingo! Ou ambos...
O pessoal da equipe se assusta. Param o que estão fazendo. Depois, ao perceberem que é uma pedra, riem e também relaxam.
Por outro lado, aprendi a carregar minhas emoções contemplando um frágil pássaro de papel que fez ninho no meu celular-pedra.
Faço votos de amor ao infinito, contemplando-o.
Somos assim; rocha e liberdade. Utopia e realidade.
Esperança e cansaço. Fortaleza e fragilidade. Brutalidade e poesia.
Somos assim. E e E. E não é e ou. Somos completos, enquanto diversos. Em nós cabem muitos nós. Todos os nós, nós nossos, nós que tecemos nos encontros com os outros e que agora constituem nossos próprios nós, e dão sentido à nossa rede existencial.
O lastro no qual apoiam-se o celular-pedra e o pássaro-alado é feito de esperança. Ela, filha do amor de Utopia com Realidade, está sempre grávida de possibilidades.
Assim, não desanime. Haverá em seu viver dias mais fortes, dias mais frágeis.
O que nos diferenciará é a mística e magia de viver. É a abertura ao aroma do viver, com todas suas contradições e dificuldades.
É o "amarrar nosso arado a uma estrela". Isso fará toda a diferença no sobreviver.
Hoje foi um desses dias, rocha e pássaro.
Um dia difícil. Duro de engolir. Repleto de sentimentos contraditórios, de impotências comportamentais. Eis que caminho envolto em sentimentos-rocha, caminho por entre silêncios de carros em movimento, contemplo o nada.
Paro, para atravessar para outra calçada, fito o alto de uma bela árvore.
Miro numa flor que desafia suas folhas e irrompe no alto em busca de luz. Quase uma flor-troféu. Ajeito a máquina e tiro uma foto.
Pronto, a poesia invadiu a dureza do dia, da rocha, e eternizou meu olhar num fim de tarde, um olhar em busca de horizontes, que chamamos de amanhã.
Respiro fundo e agradeço as pitadas de poesia que atenuam o meu existir. Melancólico e feliz aceito as dores do parto do existir.

3 comentários:

  1. Alguns dias da minha semana são assim... parece que tudo que me rodeia são a frieza e a aridez... a frieza das pessoas, das palavras, das ações e a aridez de sentimentos nisso tudo... e assim o dia vai, até quando chego em meu apartamento, abro a janela do quarto e vejo o sol a se por, belo, majestoso, gigantesco e as maritacas sentadas na antena parabólica ao lado do prédio a gritar e gracejar... uma paz surge, então, em mim e brota um sorriso que faz com que o dia que, durante seu decorrer se acinzentou, ganhe novas cores... e uma nova alegria.

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    1. Thiago, obrigado por compartilhar. Lindo comentário, expressa a pessoa bela que tu és!

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    2. Seus textos sempre me tocam profundamente... refletem mto a minha vida... grato fico eu por compartilhar suas pérolas preciosas conosco!

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