Eu digo sim à vida!

Fiquei matutando o porquê de tanta indignação dos CRMs para com o Programa Mais Médicos, e por extensão, com a vinda de médicos estrangeiros para suprir vagas não preenchidas por médicos brasileiros.
Faz parte dessa orquestração desqualificar a iniciativa e politizar uma questão de Estado.
Tenho pessoas amigas nessa frente – de protestar contra o Mais Médicos, pessoas amadas e inteligentes. Escrevo para elas. Para que se permitam ver por outro ângulo a questão.
Então pergunto-me quem as insuflou e a que objetivo?
Hoje li que uma das médicas que desembarcou, vai trabalhar numa aldeia indígena no Amazonas. Outros, em áreas de baixíssimo IDH no Maranhão e Piauí.
O que há de tão ruim nisso?
Será que sou alienado?
Será que estou vendo o que esse pessoal não vê, ou vice e versa?
Então resolvi quebrar o assunto em partes para melhor analisa-lo:

• Sobre Estrutura de Saúde
Qual o tipo de estrutura requer o Programa Mais Médicos, nas ações de atenção primária à saúde?
Será que esse outro modelo de medicina, pouquíssimo praticado por aqui, o da saúde básica e atenção primária, precisará mesmo de tantos recursos?
Noutros países onde praticado ele necessita de forte aparelho técnico?
Pelo que li, não. Faz-se esse tipo de medicina com visitas domiciliares, com o velo e bom médico de família. Casos que justifiquem uma maior atenção são encaminhados para cidades melhor aparelhadas.
Mas, supondo que precisará, o que diferenciará da situação de hoje?
Dos que já estão vivendo sob essa condição.
Quanto tempo levaria para aparelhar essas localidades?
Os centros maiores com atendimento pelo SUS são aparelhados? São essa “Brastemp” que apregoam por aí...? Ali tem todos os recursos?
A ida de médicos para esses locais abalizará essa discussão. Com um facilitador, agora eles terão alguém para reclamar, de forma qualificada, melhores condições para o trabalho. Antes eles só tinham um politico interesseiro que com uma ambulância caindo aos pedaços barganhava votos em troca de um “frete” para um hospital da cidade grande.
É verdade mesmo que as 700 cidades não possuem estrutura? Tenho lido depoimento de moradores dessas cidades afirmando o contrário.
Mas, suponhamos que seja verdade. E se houvesse uma estrutura de primeiro mundo, os médicos brasileiros fariam a adesão. Creio que não.
Não é fácil para uma geração criada sob a égide de “tenho que ser feliz agora e já”, da cultura Y, renunciar às regalias que possuem em trabalhar nos grandes centros e migrar.
Isso está fora de cogitação para uma geração criada achando que merece tudo, pode tudo e que não aprendeu a lidar com perdas.
Há outras variáveis que impactam a escolha. O modelo de medicina brasileiro privatizou a saúde. E, no mato não “corre dinheiro”. Simples assim.

• Sobre a Saúde Brasileira
Aqui tem outro ponto de reclamação nesse debate. Botam tudo no mesmo saco alegando que a ação é politiqueira, eleitoreira.
Trata-se de uma ação de Estado. Como de Estado é a ação de enviar recursos para prefeituras em situação de calamidade pela seca, para que custeiem carros-pipas visando ao abastecimento das populações sedentas.
Faz parte de um Governo sério, independente dos partidos que o apoiam, intervir na gestão pública em favor dos desfavorecidos.
Agora que em muitos locais o cara usa isso para barganhar votos, usa sim. Quantos rpefeitos usarão esse Programa para suas plataformas eleitoreiras?
Muitos, e a isso se chama política. Diferente disso é ditadura ou governos militares.
Os governantes capitalizam para suas gestões todas as ações que levam aos seus municípios que melhoram a vida do povo. E não é só aqui no Brasil. Para combater isso só com educação política, na qual o povo saberá que já paga por isso e que o governante não fez nada mais do que sua obrigação, como o seu servidor.
Feito essas ponderações, vamos às demais.
Falta tudo na saúde brasileira. Faltam leitos, medicamentos, equipamentos, profissionais, humanização, reconhecimento, salários, correção tabela do SUS.
Quem já foi a algum hospital público teve a visão de Dante nos seus corredores.
Há um caos por aqui instalado.
O fato de enviar médicos de família para 700 localidades sem médicos não resolverá esses problema. Lógico.
Aqui considero a maior falha dos protestos das entidades de classe. Ao invés de abrirem um debate sobre a qualidade das condições atuais da prática de medicina no Brasil, atacou justamente uma ação que ajuda, não resolve, mas ajuda.
Outra questão sobre o mesmo tema é o tipo de medicina que estamos praticando por aqui. Altamente especializada, com pedidos de exames a mil, com muita medicação, com internações desnecessárias.
Falo isso a partir da leitura de inúmeros manifestos da própria classe médica sobre a indústria do exame, do remédio, da doença.
Em residências médicas para áreas de saúde social sobram vagas. Ninguém quer fazer saúde preventiva. Justamente o forte da formação dos médicos que estão vindo ao Brasil.
Veja abaixo:

• Sobre a Medicina Brasileira
A medicina brasileira virou um negócio, muito caro, e para poucos. Aqui em Brasília, uma das instituições privadas de ensino mais tradicionais lançou nesse semestre seu curso de medicina. A mensalidade é de R$ 6.000,00. Existem outras privadas que não estão longe desse preço, indo de R$ 3.000 para cima.
Nesse ecossistema da saúde habitam a indústria de medicamentos, as prestadores de serviços em exames especializados, clínicas e hospitais, planos de saúde e os médicos.
Há inúmeros interesses em jogo, nesse lucrativo mercado.
Pergunte a quem participa de áreas de auditoria de Planos de Saúde os absurdos que precisam glosar por se tratarem de fraudes, de falcatruas, do uso indevido da boa fé e desconhecimento do paciente para aumentar o “saque” sobre os Planos de Saúde.
Mas, esses mesmos Planos de Saúde que se defendem de cobranças de procedimentos indevidos, também aumentam sua lucratividade reduzindo procedimentos e coberturas demandados.
Não há mocinho nesse tema.
Na outra ponta tem o acesso ao profissional de saúde. Muitos desligaram-se dos planos de saúde, imagine do SUS. Não se paga menos do que R$ 200,00 por uma consulta particular. Várias especialidades não atendem planos de saúde, ou quando atendem o agendamento é muito longo.
Quem só depende do SUS fica em pior situação ainda.
E o que o SUS paga aos profissionais de saúde uma vergonha dobrada.
Viu como o tema é rico e explosivo. Só lamento terem perdido o momento de entrar com essa pauta, deslocando burramente a questão para os grotões do interior.
Falta tudo na rede pública de atendimento. Inclusive respeito.
Esse tipo de medicina é fortemente apoiado em procedimentos caros.
Há um outro tipo de medicina. A medicina da escuta. Da palavra.
Do toque, do apalpar, do conselho, do ouvir.
Essa medicina pode não curar o doente, mas ajuda a prevenir que adoeça.
Um estetoscópio, um manômetro, uma tabela de vacinação, um teste de glicose, uma visita domiciliar, poderão fazer a diferença.
Essa medicina se contrapõe a outra. É um modelo diferente. Que até com plantas, reza, massagens, relaxamento intervêm.
Um modelo de saúde holístico, muito praticado nas comunidades orientais.
No fundo é isso que está em conflito, em guerra.
Modelos antagônicos de se fazer medicina. O primeiro enfoca na doença. O segundo enfoca na saúde.
No fundo, teme-se que funcione. Teme-se que dê certo.
A ponto de dirigentes maiores de entidades médicas dizerem que não atenderão casos encaminhados por esses profissionais para Centros mais capacitados, ou “corrigirem os erros deles”.
Então, queridos amigos, que tal visitar uma dessas cidades e conversar com seu povo. Checar em campo o que é não ter sequer um médico sequer para auscultar um pulmão carregado, para ouvir uma mãe aflita com seu filho febril (é virose mãe...), para a saúde da mulher, jovem e idoso, para monitorar a pressão, para identificar sinais de verminose, anemia, etc. Para educar sobre as doenças sexualmente transmissíveis e hábitos saudáveis de alimentação e higiene...
Então, queridos amigos, que tal botar uma mochila nas costas e aderir ao Programa. Serão dois anos maravilhosos na tua vida.
Será um doutorado em vida popular. Coisa que os grandes centros não te ensinarão.
Sei que vai “perder” de rentabilizar seu investimento. Perder posições. Mas, garanto-lhe, a experiência humana que adquirirá, e que livro algum ensina, te capacitará melhor e mais fortemente para novos vôos quando voltares, se é que vai querer voltar.

Clique nesse link após ler o resto e veja quem está aderindo.
É por amor!

Se minha filha fosse médica eu a diria.
“Filha, ficarei feliz se você ajudar essas populações desassistidas. Mas, caso sua escolha seja outra, a respeito.
Mas, antes de atirar a primeira pedra no Programa Mais Médicos, lembre-se para quem está trabalhando em assim o fazer. A quem está defendendo? A que interesse?
Cuidado com interesses dissimulados que te induzem a agredir profissionais que também fizeram o juramento de Hipócrates.
Se não quer ir para a roça, eu respeito e aprovo tua decisão.
Mas, poupe seu pai de uma vergonha em atacar quem vai, ou essa bela e rara iniciativa.
Não quero sentir-me parte de uma burguesia elitista que segregou a medicina brasileira criando os Médicos Com Fronteiras.
Não quero me sentir responsável, pela paternidade que em ti exerço, pela hipoteca social que os CRMs e Cia. estão assumindo com essas populações.
E, quanto a Cuba, cuidado com tudo que lê ou escreve. Os profissionais de saúde daquele país merecem nosso respeito.
Lembre-se que aquele país vive há anos sob bloqueio econômico dos EUA.
E, mesmo assim, conseguiu desenvolver padrões excelentes em muitas políticas públicas.
Se for para avaliar a qualidade dos políticos, em relação aos profissionais que o país gera, nós do Brasil seríamos os piores do mundo.
As questões internas de Cuba são deles. O Mais Médicos não tem alçada para resolvê-las.
Não misture uma coisa com outra que não dará em nada. E é esse nada que os CRMS querem no momento para a discussão. Essa é mais uma tentativa, infeliz, de desqualificar a vida de médicos estrangeiros. O pessoal que veste branco e se instituiu como liderança da área, nem fode nem desocupa a moita. Desculpe a expressão.
Não apresentam uma proposta concreta para levar saúde a essas localidades, desviando o debate para outros temas. Uma pena! Enquanto isso uma mãe grávida espera acompanhamento, e uma criança com diarreia idem. Não falarei mais sobe essa questão, estou adoecendo de indignação. Combati o bom combate e me posicionei contra a tirania das corporações.” 

Veja abaixo as qualificações de quem chega:

5 comentários:

  1. Ricardo, sou completamente a favo do que você escreveu acima, mas se o que eu li no blog do Adolfo Sachida for verdade, eu sou contra a vinda dos cubanos, não porque eles são cubanos, mas pelas condições que Cuba impôs a Eles. Veja abaixo:

    Manifesto Contra a Escravidão: O Caso dos Médicos Cubanos

    Não vou entrar no mérito da necessidade de se importar médicos. Esse post se concentra no ponto realmente importante: a maneira como os "médicos" cubanos estão vindo ao Brasil equivale a um regime de escravidão.

    Os "médicos" cubanos não poderão ficar com seu passaporte. Este ficará retido com autoridades cubanas. Retenção de documentos é crime no Brasil. Mais importante ainda: a retenção do passaporte objetiva evitar que os cubanos fujam do país.

    Os "médicos" cubanos que conseguirem escapar já foram avisados pelo advogado geral da União que não terão asilo no Brasil... isso se assemelha a seguinte situação: o escravo (médico cubano) foge de seu dono (governo cubano), mas tão logo seja localizado pelo caçador de escravos (governo brasileiro) é devolvido ao seu dono. Isso é escravidão!!!!

    Os "médicos" cubanos não tem direito a qualquer escolha de ambiente de trabalho ou de formas de remuneração. São colocados numa lavoura (cidade brasileira) e se fugirem de lá serão caçados.

    O governo petista está importando escravos. Eu sou contra tal medida e aviso, dessa eu não irei me esquecer. Se Deus me der a honra, e a oportunidade, de um dia ter influência o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e o Advogado Geral da União, Luis Adams, irão responder por esse abominável crime contra a humanidade. Desnecessário dizer que a Secretária Especial de Direitos Humanos, Maria do Rosário, será igualmente processada.

    A maneira como os médicos cubanos estão vindo ao Brasil equivale a importar escravos. Eu sou contra, e não me esquecerei dos que foram a favor desse ato detestável. Se Deus me der a chance, todos os responsáveis responderão na justiça, e passarão um bom par de anos na cadeia.

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  2. Marcos, as questões de Estado de Cuba são alvo de informações e contra-informações. Não esqueça a poderosa CIA. Já li de tudo sobre Cuba. Associar a vinda de médicos cubanas á escravidão é um disparate que não vale a pena discutir. Esse texto é repleto de ideologia tanto americana quando dos CRMs.

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  3. Veja aqui: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/por-que-os-medicos-cubanos-assustam

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  4. Ricardo, eu espero que realmente não seja nada do que eu disse acima, pois, por mim viriam logo uns 50.000 medicos cubanos para ensinar a forma correta de tratar a saúde que no Brasil é um verdadeiro descaso. Considero a medicina Cubana um exemplo para o mundo.

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