Decante Impurezas Emocionais


Tonhão e Prego são dois piscineiros conhecidos.
Todos os sábados os vejo trabalharem.
Daquele carro, caindo aos pedaços, vão tirando os instrumentos da labuta.
Sempre começam os trabalhos com uma rede, uma espécie de puçá, que com ele vão tirando as folhas e lixos depositados na superfície da piscina.
Depois, jogam um pó químico num balde, juntam-lhe água, mexem e despejam em várias partes da piscina.
Sempre fiquei invocado com aquilo.
Nesse sábado perguntei o que era.
Eles disseram-me que se tratava de um produto químico, à base de alumínio, cujo papel é o de aglutinar as partículas menores, em suspensão na água, e que não são pegas pela rede.
Após o jogarem na piscina, esperam um tempo, e o efeito de aglutinação ocorre.
Uma a uma, o monte de poeira, e de sujeira que estava em suspensão, vão se juntando.
Assim, vão ficando pesadas e caem para o fundo da piscina, em flocos.
Ali, são retiradas por uma espécie de rodo que as sugam.
O produto age como uma espécie de de floculizador. Se é que existe esta palavra.
Quando terminam de retirar as impurezas, jogam o cloro e partem para outra piscina.
Pensei, não é que nossa saúde mental é como a limpeza de uma piscina.
Tonhão e Prego me deram uma excelente dica.
Na nossa "piscina mental", dia-a-dia vai caindo no seu interior sujeira, poluição emocional, coisas que tiram a pureza de propósitos e o sentido de nosso viver.
Uma mágoa aqui, um luto acolá, uma desilusão ali, uma intriga de onde não se espera...
E nossa piscina vai ficando turva.
Aí vamos com nossa rede interior tirando os problemas de letra, superando as dificuldades, fechando ciclos de relacionamentos doentios.
Outros tipos de danos á nossa psiquê pedem uma intervenção mais profunda. Não conseguimos tirá-los de nossa vida tão facilmente.
Pedem o "Alumínio".
São sujeiras de difícil tratamento. Culpas mais profundas, sofrimentos, expectativas não realizadas, desamor sofrido, perdão não recebido, etc.
E, nosso aparelho psíquico é forte o suficiente para lidar com isto também.
Leva mais tempo para purificar-nos novamente, mas conseguiremos.
Se não o fosse, estaríamos todos num hospício.
Ou entupidos de tarjas pretas da vida.
Todos temos uma rede interior para as coisas que nos sujam e magoam mais superficiais.
E, temos o pó químico, para processar dores mais difíceis de serem limpas.
Somos condenados à liberdade e autonomia. Somos fortes.
Contudo, alguns de nós, ou eu e você, em algum momento de nossas vidas podemos precisar mandar para baixo traumas e mágoas difíceis de serem eliminadas, na superfície de nosso ser.
É quando precisamos transcender á dor e recriar a nós mesmos.
E tome "Alumínio" para processar esse tipo de pesar.
São sujeiras interiores que pedem um tempo próprio de cura. De processamento e curtimento do luto.
Conheço um monte de gente que fala dos traumas que sofreram, há dez anos atrás, como se tivesse sido ontem.
Falam de seus ex-cônjuges, e o processo de separação, como se acontecesse recentemente.
De seu ex-chefes, ex-empresas, ex-tudo, como se fosse agora.
Conseguem, inclusive, trazer novamente à tona toda a dor e energia ruim que um dia sentiram com aquilo.
Conheço pessoas que perderam entes queridos há décadas e ainda processam o luto. ainda carregam em si a dor da separação de amantes.
A piscina interior está suja.
Não conseguem forças para decantar o lixo, para que no interior dos seus corações possam ser devidamente convertido em algo mais produtivo, menos doloroso.
Nessas pessoas, a sujeita está em suspensão, à flor da pele em "piscina emocional.".
Não conseguiram ainda que elas sejam trabalhadas no fundo de seus corações-piscina e sejam sugadas pela rodo da vida.
Estão ali, bem presentes, a infernizá-las e a apodrecerem suas águas existenciais.
Decantar culpas, sofreres, lutos de qualquer natureza é uma arte. A arte do existir.
Tonhão e Prego mostraram-me que nem toda sujeira pode ser retirada com a rede.
Algumas, precisam decantar.
Precisam pesar em nossas vidas, para que dela saibamos que precisamos nos livrar. Já deram. Já pesaram mais da conta.
Decantar algumas impurezas de nosso viver, será preciso para que nossa piscina interior rejuvenesça.
Mas, exige uma postura corajosa diante da vida. Uma postura de quem não mais espera respostas da vida, mas as oferece.
Exige desprendimento, renúncia, aceitação.
Exige recomeços, esperanças torpes, otimismos bestas.
Decantar é um ato de sabedoria.
É a capacidade de transcender à existência e superar a si mesmo, cotidianamente.
Exige tirar o foco de si mesmo, numa vitimização mórbida, e olhar para a vida que lhe rodeia.
Exige paciência para consigo mesmo, e uma santa urgência em "amorosidar" os interiores do eu.
Decante sua dor, culpa, luto... já é chegada a hora.




Outros precisam mergulhar em suas águas límpidas e refrescarem-se em teu ser.































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