Limpe os lixos emocionais de teu viver.


Desde sexta passada não voltava no cantinho que tinha preparado para ver o jogo Brasil e Alemanha.

Fiz um altarzinho especial, para ver o jogo do Brasil. Tudo bem planejado, figuras da copa, alemães de cabeça pra baixo, iluminação, sinal digital, freezer perto...

Preparei as cadeiras reclináveis, a bebida, o som plugado na TV, a pipoca, amendoins, e tudo que se pode comer sem tirar os olhos da TV. A torcida Brasil seria reduzida. Eu e o filhão de 5 anos, o João Gabriel e a Cristina. Dona patroa estava presente, mas ausente, trouxe a tábua de passar roupa para o nosso estádio e languidamente “engomava” roupa. Como alguém pode passar roupa em pleno jogo do Brasil? Nem Freud entenderia.

Depois da sexta feita passada, dia da emocionante decisão de uma das semifinais da Copa do Mundo de Futebol Brasil 2014, não voltei ao local em que assisti o jogo.

Sempre volto para arrumar a bagunça, no outro dia. É que a dona patroa é muito brava com sujeira.

Faz oito dias que fechei a porta que dá acesso à área de lazer e não aqui voltei. Nem no sábado seguinte, nem no domingo.

O local ficou em ruínas por exatos oito dias.

Trata-se de um lugar da casa integrado com a área de lazer, o pomar e o canil de Balu. Meu refúgio, o refúgio do guerreiro.

Hoje, amanheci disposto a abrir aquela porta novamente e fechar esse ciclo.

Resolvi assumir a limpeza, a limpeza de mim mesmo, de tudo que me desagradara e que deixara apodrecendo num canto qualquer de minha vida.

Ou encarava, ou aquilo iria virar um atentado à saúde emocional.

Entrei no local e os sons ainda estavam ali. Ao longe, escutei: gol, é gol, mas é gol, não é possível é gol novamente...

E, o JG gritando Flamengo!

As emoções voltaram à minha mente. Aquele pesadelo de 5 gols contra o Brasil, e em 29 minutos. Revisitei a cena do luto e sofri.

O lugar estava intacto, do jeito que eu deixara.

Sujamente intacto. Uns 4 pacotes de pipocas jaziam com a boca aberta pelo chão. Latinhas de cerveja, ainda cheias, denunciavam o abrupto corte da comemoração.

Amendoins espalhados pelo chão evocavam uma saída ríspida do local.

Fiquei matutando que todos temos um tempo para encarar a bagunça de algo que aconteceu conosco.

Um tempo para arregaçar as mangas e com vassoura, detergente e pá, retirar o lixo para bem longe, limpar o local e deixa-lo pronto para outras emoções.

Com nosso coração é assim, ao vivermos estados de luto.

Um dia chega o tempo, um belo tempo, de abrir o quarto escuro, encarar os medos, revisitar as cenas doloridas e processá-las de outra forma em nossas vidas, ou seja: recomeçar.

Tem um tempo de arrumar a bagunça e começar.

As imagens daquele dia agora não mais me assombravam. Passou, vida que segue.

JG teimava em querem me ajudar. E, vez por outra, ele me perguntava se iríamos ver um outro jogo. Sim, veríamos a muitos outros jogos.

O luto pede dormências, pede silêncios, pede portas fechadas.

Pede cinco ciclos cuidadosos, para ser processado, como um bom vinho.

São eles: O ciclo da negação: ‘não é possível que isso esteja acontecendo.” É pegadinha”.

O ciclo da raiva: “bando de filhos da puta, fizeram uma nação se envergonhar perante ao mundo ao levar de 7 a 1.”

O ciclo da barganha: "Não ganhamos a copa, mas fizemos a melhor das Copas.”

O ciclo da resignação: "Chegamos tão perto...”

O ciclo da aceitação: “Temos coisas mais importantes para nos preocupar. Copa tem de quatro em quatro anos.”

Vivi em 8 dias todos esses ciclos.

Saber a hora de descer as escadas, ao porão de seu viver, e encarar as coisas sujas que te fizeram sofrer – limpando-as de tua existência, é fundamental para o bem viver.

Parar de ficar remoendo, de ficar resmungando, de ficar se vitimizando.

Parar de viver o personagem: O Sofredor.

Pronto, passou, já deu...

Aquele luto incapacitante por um ente que faleceu, pronto tá na hora de passar, na hora da limpeza.

Aquele luto amoroso por um amor desfeito, pronto tá na hora de passar, na hora da limpeza.

Aquele luto afetivo por uma ingratidão sofrida, pronto tá na hora de passar, na hora da limpeza.

Tenha coragem.

Volte ao lugar da dor, revisite-o, e cresça com a experiência de se perdoar, perdoar a quem te fez sofrer e com isso rejuvenescer sentimentos adormecidos, num entulho de tranqueiras emocionais guardados em teu coração.

Limpe-se de tantas toxinas que os lutos foram produzindo em teu ser.

Encare de frente a vida que segue, sinta-se como criança - aberta a outras possibilidades e relativizando as situações acontecidas; procurando extrair delas ensinamentos e aprenderes.

É urgente e fundamental ser feliz. E, ser feliz é decisão. Nem que seja a decisão de limpar o lixo emocional que se acumula em teu ser, vez por outra.

Agora tá tudo limpo. Até cheirando ficou. Boto um samba pra tocar. Ligo a churrasqueira. Telefono para pessoas que amo.

E sinto a vida entrando em meu ser novamente.

Limpando tudo que estava morrendo e mofando pela culpa, dor e sofrer.

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