Mudam-se os jogos, as estratégias..., na vida tudo é mudança.



“A Holanda começou a prorrogação com uma postura diferente,
tomando a iniciativa. O técnico Louis van Gaal trocou Van Persie por
Huntelaar, apostando em sangue novo no ataque. Eu teria feito a
mudança (dos goleiros), mas já tinha usado minhas três
substituições, então não pude", declarou Van Gaal após a partida.”

Com essa decisão – a de substituir um atacante cansado por um inteiro, queimava-se a última substituição, das três possíveis que o time da Holanda fez contra a Argentina, nas Semifinais da Copa do Mundo Brasil 2014.
Quando Persie chegou ao Banco de reservas, deu um tapinha no goleiro reserva, para consolá-lo, não seria naquele dia que ele novamente entraria em campo e poderia vir-a-ser mais uma vez o herói da partida, a exemplo da anterior contra a costa rica, na qual ele pegou dois pênaltis.
Vi a cena e fiquei pasmo. Nunca imaginei que a estratégia vencedora iria ser abandonada por outra, no mesmo contexto e cenário.
Se você estivesse numa prorrogação de uma partida de futebol, cujo empate levaria aos pênaltis, e se no jogo anterior foi justamente por ter tirado do banco e botado para pegar os pênaltis o II reserva de goleiro, queimaria sua última substituição com um atacante?
Tirando de você a possibilidade de repetir a estratégia do goleiro reserva, caso houvesse pênaltis?
O que Van Gaal fez foi desconsiderar o trunfo que tinha no banco, a arma agora não mais secreta, que tinha encantado a todos que amam o futebol.
Desconsiderou um talento, no enfrentamento de uma estratégia similar, mudando o posicionamento tático em relação ao iminente fim de jogo.
Ele quis matar logo o jogo, sem ir aos pênaltis. Mas, ao fazê-lo substituindo o seu atacante, por um mais inteiro, matou a si mesmo na outra substituição possível.
E o pior, deixou o goleiro “que não tem bom fundamentos em pegar pênaltis” em campo, num momento difícil.
Passei a admirar mais ainda o Van Gaal. Pelo menos ele decide. Gestor é quem decide. Ele decidiu por uma nova estratégia: a troca de um atacante, e seguiu sua intuição de que poderia matar o jogo fora dos pênaltis.
Arriscou-se muito, mas ser gestor é se arriscar
Em toda decisão há risco. Só não há risco na indecisão.
Na indecisão reina a mediocridade, a monotonia, a burrice. Amigas da fatalidade como o oportuno álibi do apagão, como diria nossa Comissão Técnica.
Virei fã do Van Gaal. Um gestor que um dia acerta, noutro erra, mas que faz acontecer.
Não terceiriza culpas, não adia responsabilidades, faz acontecer.
Pode ser amado, ou odiado, mas é presença.
Tenho dó dos gestores do tipo Comissão Técnica Brasileira que não mudam esquemas táticos, que não se arriscam, que não valorizam outros talentos no banco de reservas.
Gestores que se escondem atrás de processos, normas e padrões de comportamentos para não decidirem.
Omissos. Eminências pardas. Querem ficar bem com todo mundo e protegem sua imagem, mais que suas equipes e interesses de trabalho.
Pavões.
Van Gaal não é pavão.
Ele sabia que estava apostando. Poderia ter continuado na mesma estratégia do jogo com a Costa Rica, mas resolveu agir diferentemente.
Apostar em novas fichas.
Ele viu o invisível, sentiu o não sentido, tocou um lugar que só líderes ousam tocar, um lugar chamado risco, num futuro incerto.
Contra a Argentina não deu certo. O atacante entrou, e o jogo não alterou o placar.
Tudo bem. Faz parte. Quem garantiria que o goleiro reservas pegaria os pênaltis? Na incerteza do futuro, o gestor Van Gaal apostou todas as fichas no presente.
Van Gaal nos ensina que estratégias podem ser troadas, que não existe uma única fórmula, do tipo Neymar, para se ganhar uma partida.
Mostrou fibra, conhecimento das capacidades de seus integrantes e, sobretudo, inovação.
Inovação, até em não repetir a fórmula de sucesso anterior, sob condições bem parecidas, sacando da cartola uma outra possibilidade.
Van Gral é um apanhador de possibilidades nos campos do infinito.
Não ganhou o jogo, mas ensinou um monte de gente que o lugar que ele ocupa, o cargo, o papel, é um lugar de decisão. Não de omissão, ou terceirização de culpas e responsabilidades.
Não é um lugar para contemplar pernas correndo, bola e grama, apenas.
A Disciplina Van Gaal deveria ser ensinada nas pós-graduações para gestores. Nela seria ensinado a tomar decisões, a alterar trajetórias, a mudar, a valorizar os talentos, a romper paradigmas e a aprender com os erros. A sair da protegida posição de aversão ao risco e decidir. A sair da posição de concordar com tudo que o padrão Fifa oferecia e botar a boca no trombone, sem medo de se expor. Com ética, segurança e consistência profissional. Van Gaal reclamou de um monte de coisas da Fifa e sua organização.
Para um monte delas tinha razão. Os outros técnicos calaram. Falar pegaria mal.
O estilo Van Gaal é quem muda os processos, produtos e serviços e os normativos interno das Corporações.
É o de quem se abre ao novo, quem experimenta, quem não teme o ridículo.
De quem não compactua com esquemas políticos, mediocridades técnicas, status-quo quase místico, tão presentes nos gestores das organizações de trabalho.
Naqueles que fazem e tudo para manterem-se no poder e na pose do cargo.
Valeu Van Gaal, de agora em diante tu farás parte das minhas aulas.
Pensar que eu teria repetido a estratégia anterior.
Você ensinou-me a manter minha essência, a continuar a apostando no insight, intuição, a decidir, mesmo quando todos ao lado já se calaram, ou as condições não recomendarem.
Todos os dias tenho decisões Van Gaal a tomar. Daquelas em cuja três opções são possíveis.
Mudar a realidade. Adaptar-me à realidade. Abandonar a realidade.
Em todas estará presente a decisão. Só não posso fingir que não existe uma realidade que pede decisões. Mudar, adaptar-se ou abandonar são as escolhas possíveis. As outras são enganação, procrastinação e alienação
.

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