Contigo Aprendi...

Acordei com uma sensação estranha: não triste, melancólica ou asfixiante, apenas estranha.
Estou a uma lua cheia de meu jubileu de ouro.
Datas podem ser marcações na partitura da vida, pontos de reflexão.
Para mim, essa será uma data especial.
Nem acredito que nela cheguei.
Refiz minha vida algumas vezes nessa jornada.
Retomei cursos de meu viver que estavam saindo do controle.
Desapeguei de tanta coisa que pra mim um dia fizeram sentido.
Perdi fotos maravilhosas, e crônicas de tirar o fôlego.
Esqueci um monte de coisas.
Outras ficam me atazanando, qual fantasmas em noites carregadas.
Sinto-me tão jovem.
Agora estou recolhendo meus bons momentos, pedaços de mim mesmo valiosos que fui deixando por aí.
É o tempo dos recolhimentos.
Lembro-me de situações vividas, tal qual retrata um trecho da poesia Cântico Negro:

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces. Estendendo-me os braços..."

A estas situações, respondi com minha vida, e na mesma verve poética:

"Não, não vou por aí! Só vou por onde me levam meus próprios passos...Se, ao que busco saber nenhum de vós responde, porque me repetis: "vem por aqui!"?"

Agora, vou comprar terra macia para deitar meu pé de Cagaita. Mais tarde, celebrarei minha vida plantando uma árvore. Realizando um sonho, um simples sonho de ter uma Cagaita no jardim.
Creio que por isso eu sinto-me um estranho.
Muitos atravessam a barreira dos 50 despedaçados. arentes de sonhos. Eu tenho um monte deles ainda a realizar. Um tesouro. Muitos carregam seus fardos de viver e chegam aos 50 exaustos. Fragmentados e perdidos de si mesmo. Eu dividi meu fardo com quem fui amando ao longo da vida. Ficou bem melhor a travessia. Aprendi a praticar o perdão, o desapego, a generosidade e a gratidão. Elixires da vida eterna.
Nos embates da vida, alguns acabam por perder a capacidade de voltar e juntar os bons cacos caídos, e reconstituírem-se como pessoa, a cada luta, a cada luto.
Vão deixando-se tomar por atitudes excessivamente individualistas, narcisistas e materialistas, perdem o encanto de viver, depositando este nas coisas que o pó corrói.
Deixam de lutar, crescer como pessoa é lutar.

Eu luto contra a resignação, as rabugices, a descrença, as verdades pétreas, a chatice, o mal humor, o "já vi esse filme". Luto diariamente. Os anos rodados podem nos deixar muito bestas. Temo.
Temo, e travo uma luta diária para não envelhecer meu ser interior.
Sou contradição e recomeços, sempre. E, aprendi que a única pessoa que precisa ficar de bem para comigo mesmo, sou eu. Simples assim. No final, somos nós e o espelho. Assim, se tiver vontade de tomar sorvete com sopa, eu tomo. Vomito etiquetas e padrões socialmente estabelecidos, caso não me façam sentido.
Luto para que criança que habita em meu ser, saia de onde se escondeu
- nas coxias do palco de meu viver, e atue em mim trazendo-me um pouco de sua ousadia, paixão, alegrias simples, recomeços, intrepidez e as suas mágicas brincadeiras com o nada.

Essa criança ferida, amedrontada, tímida e quase sem voz ainda é a minha melhor porção, meu mais potente anticorpos contra a doença do século: a falta de sentido na vida.

Um sentido que vem me ensinando, que o que realmente importa na vida é o respirar amor; e o exalar esperança para todos que lhe rodeiam e para si mesmo. Esperança que tudo vai ser melhor.

O resto, são só folhinhas num calendário encardido que o tempo teima em virar, ano a ano.

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