A lua me sorriu.




Abri a janela da cozinha e a lua estava linda, todo seu esplendor destacava-se ainda mais com as nuvens que a abraçavam, dando ao conjunto da cena um toque de mistério.
Fiz várias fotos, procurando a melhor abertura, a IS0 (luminosidade), ou velocidade da câmera. Fazer fotos de lua cheia é sempre um desafio.
Quando baixava as fotos notei que numa delas havia uma carinha feliz, tipo Smile.
A lua me sorria.
Aquilo mudou completamente meu humor.
A lua me sorriu, pensei! O sorriso é contagioso, no bom sentido. Pessoas que nos recebem com um sorriso produzem em nós outros sorrisos, às vezes os do interior, melhores ainda.
A lua me sorriu como a me dizer: coragem, ânimo, força, não é hora de ir dormir ainda teus sonhos.
Que bacana!
A lua que sorri é um sinal. Lógico que para poder compreendê-lo precisei aprender antes que que dois pontos e um traço abaixo deles, em forma de arco, é um sorriso.
Noutra cultura que não tenha essa imagem do Smile, associada a um sorriso, aqueles borrões de resto de nuvem, ou até de mancha na lente, vai saber, que encobriam parte da lua seriam simples borrões. Não chamariam a atenção.
Para interpretarmos os sinais, temos que ter um arcabouço cultural de referência, caso contrário, eles passaram em nossas vidas despercebidos, sem qualquer motivo de admiração.
Serão mais uma das vítimas da indiferença, ou rotina.
Hoje me considero um aprendiz de sinais: emocionais, sociais, espirituais, comportamentais e de outros tipos.
Como ouvir o farfalhar da manhã, anunciando que a Gazela e o Leão começarão mais um ciclo da vida, sem permitir-se aos mistérios da natureza que se renova a cada dia?
Como tocar, no inaudível de um coração, sem conhecer seus sinais?
Tanta coisa bacana acontecendo em nossa vida, tantos sinais de vida, sendo esmagados pelos de morte.
E nossa visão vai ficando turva, perdemos o encanto, o assombro, a poesia de viver, oprimidos pela dureza da realidade.
Desaprendemos a captar os sinais de vida, em nossas narrativas, comportamentos e diálogos só privilegiamos, ou pior ainda, filtramos, os de morte.
Nosso WAZE interior só aponta para caminhos ruins, de transito pesado, ou bloqueado. Nos vemos sem alternativa, em rotas sem saída.
Como se eu baixasse as fotos no computador e não voltasse para percebê-las com mais atenção, procurando belos detalhes, escondidos entre nuvens, entre o nada de um cotidiano açoitado pelo estresse da sobrevivência.
Convido-lhe a abrir as janelas de tua existência olhando com ternura para tua vida, para si mesmo e para o outro. Um olhar que liberta de condicionantes, um olhar que renova o valor do sempre visto.
Um olhar que identifica mesmo nos borrões do cotidiano restos de magia, de mística e sabor, que só quem aprender a ler os sinais bons da vida entenderá.
Alguns motoristas pararam carros na avenida mais tumultuada de Brasília, a Estrutural, comparada em volume de carros à Marginal Tietê em SP, para que uma família de aves a atravessasse. Colocaram em risco a própria vida ao pararem o trânsito. Oba, mais um sinal de vida para minha coleção.
Um advogado fez quatro perguntas existenciais, a uma cliente, antes de continuar a receber a papelada para o providenciar o divórcio dela. Ele colocou em risco sua reputação, entrando numa agenda íntima e pessoal. Fugiu à regra e ousou ser diferente, podendo perder o “negócio”. Ele perdeu o negócio, a cliente viu que havia mais motivos para continuar do que os de pular do barco. Oba, mais um sinal de vida para minha coleção.
Uma amiga postou que parou o carro e ajudou a retirar da avenida, uma pessoa que desmaiara na calçada, cujas pernas estavam correndo o risco de serem atropeladas. E só saiu de lá quando o Samu confirmou que estava a caminho. Oba, mais um sinal de vida para minha coleção.
Abra as janelas do seu coração e procure luas, do tipo Smile, sorrindo para você. Nessa época de tantas notícias ruim que consumimos, faço um apelo para que não as tenha como normais.
Não se acostume ao ruim, a filtrar somente o negativo da realidade e a propaga-lo em todos os cantos.
Module seu radio interior para captar outras frequências, sem se alienar do mundo, mas que também estão presentes nele. Essas frequências do bom, belo e virtuoso nem sempre encontram espaço nas redes sociais e mídia de todos os tipos, não vendem jornais – infelizmente. Não geram “likes”. Parece que o chique mesmo é tirar onda sobre tudo. É colocar tudo sob o reinado da desconfiança, do cinismo social ou contraditório.
Soa com um certo ar de inteligência falar mal de tudo. Só que isso está cobrando seu preço na saúde emocional. As vivências negativas têm três vezes mais forças psíquicas, para anular o efeito de qualquer coisa boa que nos acontece. Chama-se a isso o Efeito Louzada (Ver Psicologia Positiva).
Portanto, cuide para que o excesso de crítica, pessimismo ou ao negativo esteja lhe impedindo de captar ou perceber outros sinais de vida, e de smiles.
Tornando-lhe uma pessoa sem esperança, luz e viço de viver.
Às vezes precisamos ampliar nossos círcvulos referenciais para dar valor ao que temos e nos passa despercebido.
Valor à locomoção, quando muito têm dificuldade para tal.
Valor ao trabalho, quando mitos pelejam por um lugar ao sol.
Valor à família, quando muito dariam a vida para tê-la novamente reunida.
Valor a tantas coisas que vamos tendo como banais, não mais percebidas, e que são preciosas.
Infelizmente, às vezes só abrimos as cortinas de nossa percepção sobre também as coisas boas da vida quando as perdemos.
Assim sendo, para melhorar minha percepção sobre o bom, belo e virtuoso, pratico quatro hábitos diários, com seis práticas, que ajustam meu foco para o foco-smiles e me ensinam a dar valor às coisas breves, legais e simples da vida. E exercitam um olhar e agir sobre o mundo, ajustando meu foco smile, para a vida que por ela vale a pena viver, são elas:
a. Durante o dia, fico atento para identificar três coisas que vi, fiz ou fizeram para comigo pelas quais sou grato. Coisas que elevam meu ser a um outro plano espiritual. Coisas belas, boas ou virtuosas. Antes de dormir as rememoro e às vezes escrevo sobre elas.
b. Durante o dia, tenho que tratar muito bem, elogiar, ou até reconhecer, pelo menos uma pessoa.
c. Durante o dia, tenho que encontrar uma oportunidade de ser bênção para alguém.
d. Durante o dia, pelo menos uma vez, terei que tomar consciência do que está rolando no meu cérebro, quando ele emite sonoridades (verbalizações), de intrigas, fofocas, críticas, reclamações ou rabugice. Aí, desligo o cérebro desse tema, trocando a estação para outra, menos ruim. Mudando de assunto.
Essa é minha fórmula para não me deixar embrutecer e perder a tesão pela vida: 3-1-1-1. Três coisas pelas quais sou grato, uma atitude de amorosidade, uma doação e uma reclamação a menos.
Têm dias que esqueço, aí no outro dobro a meta.
A lua te sorriu. Sorria!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é uma honra.

Crônicas Anteriores