O Semeador de Jardim Botânico


Têm pessoas que não passam pelas nossas vidas deixando-nos indiferentes a elas. Sr. Mário é uma dessas pessoas.
Após um dedo de prosa com ele, saímos muito melhores do que chegamos. Seu Mário é terapêutico.
O que ele tem de tão especial?
Pergunto-lhes, será que existem muitos plantadores de jardins botânicos mundo afora?
Se existe, some "Seu Mário" ao número deles.
Mário, em 1974, foi designado pela Copel (Companhia Paranaense de Energia) para tocar um projeto de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas, na bacia do rio Iguaçu. Engenheiro Agrícola que era, via ali um local para praticar sua vocação.
E, foi morar numa vila, erguida para acomodar os trabalhadores da Usina Foz do Areia, chamada de Faxinal do Céu.
O objetivo era produzir mudas, numa espécie de horto e numa área de 10 hectares, destinadas ao povoamento das matas ciliares do rio Iguaçu, recuperar áreas degradadas, e minimizar o impacto ambiental da Usina de Foz de Areia.
As ações do projeto seriam: fazer mudas, desmamá-las do horto, e plantá-las a uns 20 km de distancia dali.
Bem, isso ele e equipe fizeram. Contudo, ele foi muito além do script.
Mário passou a arborizar a própria Faxinal do Céu. E, além das mudas para reflorestamento, ele foi plantando ali - numa área hoje de 140 hectares, todo tipo de planta que suportasse aquele bioma, e não o agredisse.
Passou a estudar tudo que tinha sobre árvores coníferas: Ciprestes, araucárias, sequoias...
Depois, sobre árvores caducifólias, aquelas que as folhas ficam de várias cores, que vemos nos filmes gravados nos EUA, Canadá e Europa.
Depois, as flores invadiram sua estufa, e eram azaleias, rododendrons e todo tipo de árvore ou trepadeira que floresce.
Mário, aproveitava a viagem do pessoal para Congressos no exterior, e até as dele mesmo, inclusive as de turismo, para trazer mudas.
No Jardim Botânico Faxinal do Céu, talvez haja a maior coleção de coníferas do Brasil.
Essa semana tive a oportunidade de conhecer o Mário. Ele já estava cansado, após um dia de campo com centenas de pessoas que participavam num evento em Faxinal do Céu.
Danilo, o motorista que me levava ao evento, o avistou de longe. Como ele já tinha falado-me dele, nem deixei o carro parar e corri em sua direção. Apresentei-me e disse-lhe que queria conhecer sua história.
Era 17hrs, e por mais de duas horas, Mário falou de cada planta como um filho. Sabia o nome de todas. De onde vieram, o mês de florada, o papel que tem na mata.
Contou-me que seu amor pelas plantas veio quando pegou uma semente e mostrou ao seu pai.
O pai disse-lhe que ele deveria colocá-la para deitar sobre algodão, num pires ao lado de sua caminha. Ele tinha uns 12 anos.
Aí ele "dava de beber" á semente antes de dormir, umas gotinhas de água.
Um belo dia ele viu, daquela semente, saírem raízes. Correu para seu pai, pensando que a semente tinha morrido.
E o pai o tranquilizou, disse-lhe que ele tinha parido uma vida nova, e que deveria plantá-la num saco de leite com terra vegetal.
Ali nasceu a vocação do Mário, que desde então nunca mais parou de plantar, pesquisar e devolver vida à mãe natureza.
Enquanto caminhávamos ele disse-nos que deveríamos apressar o passo para pegar a hora do perfume de uma enorme árvore, que sempre exalava o melhor dela, ao por do sol.
E, fiquei enebriado com tanto cheiro gostoso que dela vinha.
Depois, vi roseiras trepando-se em enormes Araucárias, numa simbiose perfeita.
Mário revelou uma ponta de preocupação, com o futuro. Teme entrar uma gestão que exija dele um business plan (plano de negócio), com criação de indicadores econômicos que justifiquem o investimento no Jardim Botânico.
"Como quantificar o cheiro de uma alfazema?"
É Mário, você está certo. Têm coisas que são imensuráveis, que não cabem em planilhas excel, com projeções de resultados financeiros ao longo de um ciclo.
Como existem pessoas que fazem, ou fizeram a diferença por onde passaram, e que mutias das vezes não recebem o devido reconhecimento.
Reconheço-te Mário. Agradeço-lhe. Sei que não fez sozinho, como me disse. Mas, tua liderança inspirou a muitos, contagiou burocracias, moveu montanhas e trouxe o futuro sonhado ao presente vivido.
Nunca esquecerei o amor com o qual me conduziu pelas avenidas de plantas, lagos e jardins.
Sabe Mário, creio que as pessoas farão fila para visitar o JB de Faxinal. fazer a trilha da Sapopema, com seus 500 anos.
E até sujarem as mãos plantando mais mudas.
Mário, caminhar sentindo o aroma daquelas flores, ao pôr do sol, é coisa de Deus. Cura e restaura corações.
Mário, obrigado pelo que fez. Por cada mudinha que resgatou, vindas de longínquos países, para que juntas formem uma família.
De fato, o Danilo estava certo. Em você há as cinco fortalezas do bem estar: emoções positivas, relacionamentos significativos, sentido, realização e engajamento.
E, é impossível cruzar teu caminho sem sair melhor.
Obrigado por existir e por ter plantado um jardim Botânico.
Deixo a todos que me leem com uma prece, as preces de galhos de araucárias que se colocam em palmas para cima, em gratidão.
Que possamos ser Mários em nosso viver, transformando realidades degradadas, áridas, nas quais ninguém aposta mais, ou nelas confia.
Vamos semear coisas boas.
Que possamos plantar pensamentos jardinados e germinar corações e mentes, para ousarem ser diferentes, nesse mundo onde todo mundo quer ser igual, mesmo que seja nas coisas pelas quais não vale a pena se viver por elas.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo!
    Ontem pude conhecê-lo também. O Engº Mário transpira literalmente, toda experiência numa breve conversa, além de transmitir sua paixão pelo trabalho com muita paciência a todo visitante do Horto do Faxinal do Céu. Obrigado por escrever o precioso artigo.

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    1. Muito obrigado por esse retorno. Realmente a visita à Faxinal, o Jardim Botânico e o Mario, me tornaram melhor como pessoa.

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