Um drone para orientar nosso viver

O dia começou com muita chuva em João Pessoa. A chuva do caju. Convencer meu povo a sair de casa, para ir pra praia, foi muito difícil. Mas fácil teria sido tanger uma “corda” de caranguejo de volta ao mangue.
Assumi o papel de macho-alfa-guia-de-turismo e botei todo mundo pra sair de casa. Sou dos que prefere passar um dia de chuva olhando o mar, sentado numa mesa de bar de praia, do que vendo TV num apartamento apertado.
Partimos em direção à badalada praia de Coqueirinho. Eu queria saber como ficou o acesso à ela, agora pavimentado. Antes, para nela chegar, tínhamos que vencer uma ladeira íngreme, que em dias chuvosos os carros conseguiam descer, mas para subir era um aperreio.
Carro sem tração não subia, pela argila lamacenta que formava. Ou subia de marcha ré, como já fiz.
Chegando lá, vi que abriram uma nova área de acesso, à direita, organizando os vários barraqueiros que antes operavam nas areias da praia, numa espécie de praça de alimentação. Alterei minha rota tradicional, á esquerda de quem chega na base da montanha, e dirigi-me para essa área. O dia estava com muita chuva e queria proteger aos meus, abrigando-os dos ventos e da água.
Por sorte, acertamos a barraca que escolhemos, logo de cara. Aliás, não foi sorte. Na área existem umas oito barracas, organizadas lado à lado em forma de meia lua. Optamos pela do Genildo, o da foto.
Uma simpatia de pessoa, junto com o Antônio e o Sandro, todos com atendimento exemplar.
Pedi uma rede para papai, e a festa ficou completa. A chuva parou e o sol saiu tímido, mas corajoso.
Então, fomos caminhar no sentido de quem vai para Pernambuco. Lugar nunca antes explorado por nós.
Ali, descobrimos uma praia quase intocada, areia branquinha, e nos sentimos mais uma vez os únicos do pedaço. À nossa frente, há uns 2 KM, um conjunto magistral de falésias demarcavam o horizonte, emoldurando o infinito.
A chuva recomeçou a cair e resolvemos voltar. Ao chegarmos, Genildo nos contou que aquelas falésias demarcam o início da praia de Tambaba.
Perto das 12hrs o sol abriu de vez, afastando as chuvas e e todos deram-me razão por ter insistido no passeio.
Cristina caminhou mais um pouco, para o lado norte, e ao chegar me disse que a baia e prainha de Coqueirinho continuam linda.
De onde estávamos, elas não são vistas pela formação geográfica do local. É preciso caminhar uns 100 metros, sentido João Pessoa, dobrar uma curva, para ver aquela prainha e baía que já foram tão registrada em cartões postais de Coqueirinho.
Vi vários turistas chegando no Genildo e ali ficando, ou só caminhando sentido Pernambuco. Embora seja uma bela praia, não verão a prainha e a baía.
Têm lugares que antes de nele irmos ajudaria muito uma imagem aérea, feita por um drone, para sabermos das potencialidades do local.
Drone é um veículo aéreo não tripulado e controlado remotamente que pode realizar inúmeras tarefas
Não espere que os operadores de turismo informem, ou os nativos do local. Eles estão tão acostumados com o belo, que aquilo passa a ser rotina na vida deles. E o que é rotina não damos mais valor, para que seja destacado aos olhos dos outros.
Quantas coisas em nossa vida estão passando despercebidas, tão perto, e tão longe de nossos corações, que para serem acessadas precisávamos de uma visão superior sobre nós mesmos, os outros, e sobre a realidade.
Precisamos de um drone interior. Para ver as coisas de outros ângulos, para acessar áreas desconhecidas e de rico potencial em nossas vidas. 
À noite fomos na feirinha de Tambaú, aproveitando para jantar na praça da alimentação que a margeia.
Pedi purê de macaxeira com bode. Delícia.
Um músico entoava canções de Luiz Gonzaga, tocando sanfona e cantando como ele. Uma perfeição. Chamava-se Daniel Gouveia, fechava os olhos e ouvia Luiz Gonzaga, tal a semelhança e perfeição de sua voz.
Aproximei-me dele para registrá-lo em fotografia e comprar um de seus CDs. Aí um jovem chegou e cochichou algo em seu ouvido. 
E o drone se fez. Como assim Ricardim?
A visão superior das coisas. Daniel Gouveia poderia ter sido egoísta, individualista, afinal o show era dele. Contudo, ele pegou o microfone e anunciou que faria uma breve pausa, para que o grupo de hip-hope se apresentasse. E assim o fez. Depois continuou seu show. Fiquei tão feliz com aquela atitude de desapego, por aquela visão dele do todo, visão drone, superior, que fui comprar um outro CD dele. 
 O show de hip-hope foi lindo, uns 10 minutos de bela apresentação. depois os rapazes saíram de mesa em mesa, pedindo umas moedas. Conquistadas pela sua arte, de forma honesta e cativante. 
Voltei pensando em visões drones, superiores das coisas. 
Não devemos limitar nossa existência ao que estamos vendo, aos nossos referenciais. Precisamos expandir as fronteiras de nossos pensamentos, de nossas atitudes e comportamentos. Precisamos ir além de nosso mundinho, esquemas e modelos mentais, abrindo-nos ao novo. Desde que não fira nosso corpo de valores.
Há muita aventura a ser vivida, conhecimento a ser conhecido, experiências a ser experenciada, desde que – vez por outra, deixemo-nos olhar pelos olhos do Alto, do drone superior que a tudo transforma, que em tudo produz vida, pela força do amor.
As emoções negativas (mágoa, culpa, inveja, vingança e maldade) fecham a visão do bom, belo e virtuoso que ocorre ao nosso redor.
Assim como nossos processos mentais mesquinhos e egocêntricos. É preciso ser maior para cultivar um jeito drone de pensar e agir.
Veja a foto aérea de Coqueirinho, feita de um drone e entenderá o porquê de precisarmos expandir nosso peregrinar, para ver o que ninguém vê, muitas das vezes por acostumarem-se consigo mesmo, sem mais crescer.

 Se não caminhar e dobrar essa curva, sentido coqueiros, não verá a linda baía e prainha de Coqueirinho.



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