O melhor estava nas suas "flores", e eu não sabia.


Entrando na Feira de São Sebastião, no descortinar dos primeiros raios de sol, de longe avistei um cacho daqueles que nascem de palmeiras.
Deles, pendiam uns belos coquinhos, alguns laranjas, outro vermelhos.
Pensei, darão uma boa foto, pela excepcional luz que neles refletia. Após a foto, aproximei-me da simpática feirante e perguntei-lhe o que era aquilo. "Pupunha, são os coquinhos da palmeira." Avançando o sinal da intimidade, soltei um: "é de comer, enfeitar ou beber?"
Ela, sorrindo, disse-me que era de comer. Tal qual uma batata.
Fui para meu matinal café, pastel e caldo de cana. A feira fervia, era feira de dia das mães. Muitas flores de plástico apresentavam-se para os filhos, como quem diz:
"Ei, não olhe para minhas rudimentares vestimentas, sinta minha beleza plástica, e a intenção amorosa de quem me levará até uma mãe."
Tomei meu café, deliciando-me com o observar do movimento de banca de flores.
Um senhor apressado, chegou na vendedora de flores ao meu lado, e soltou um: "Comprando três, faz por R$28,00? "
- Faz não, o menor preço nas três é R$ 30,00. Não estou tirando nem o custo.
Fingindo acreditar, soltou um: "Então tá, mas bota três iguais, para não ter briga em casa."
Fiquei pensando, sorrindo por dentro, agora é que vai dar briga mesmo. Mas, valeu o gesto.
Desajeitadamente, ele saiu equilibrando-se com seus três arranjos florais, mas todo garboso.
Voltei pelos coquinhos de Pupunha, e perguntei como fazia. "É só colocar um pouco na pressão, na água salgada, e depois comer."
Comprei um quilo por R$5,00. Uns 12 coquinhos. Na saída, ela disse-me: "com café fica uma delícia."
Fiz, amei, amei...
Comi três no almoço e três no jantar. O resto deixarei para comer na semana. Parece pinhão do Paraná. Um pouco mais doce.
Por quantos anos, passei por esse mesmo lugar, e nunca tinha reparado e parado para conhecer melhor, e depois degustá-lo?
Como têm coisas assim na nossa vida. Estão ali do lado. E não vemos. E podem ser muito bacanas de provar. De sentir, de perceber.
Depois do almoço de mães, no qual fiz laboratório gourmet com um bacalhau de páscoa, desprezado no fundo da geladeira, deitei-me na rede satisfeito. Todos comeram bem. O que ficou parecendo uma sopa, um pouco menos, mas o gratinado raparam.
A sopa levarei amanhã para as meninas do trabalho. Tem sustança, e o caldo de cebola apurou, com notas de endro, e ficou melhor ainda, tomei agora á noite com mais 3 coquinhos de pupunha. Se pupunha der desarranjo, amanhã serei rei o dia todo.
Na rede, zapeando pelo youtube, procurei a música Bicho de Sete Cabeças, que amo de paixão.
Eis que uma das seleções que o buscador me ofereceu foi uma versão do Grupo Ordinarius.
Pronto, não precisa mais dizer que esqueci completamente que iria dormir. Fiquei pulando de uma para outra interpretação desse grupo vocal brasileiro, que não conhecia, e talvez você também não.
Recomendo. Insisto. Vá lá e escute o grupo.
Uaauuu.
Como eu poderia ter passado minha vida sem comer pupunha e ouvir os Ordinarius?
Deixo-vos com uma Rosa, cantada pelo Ordinarius, vejam se não é uma prece?
Sábado me auto-intitulei vigia de lua cheia, apanhador de pôr do sol e fiscal de amanhecer.
Agora, mudei meu título, quero ser só um Garimpeiro de Luz.
Em forma de arte, sons, sabores, aromas, estética, lugares e gente boa.
É só prestar atenção, a luz está em todo lugar, às vezes pendendo como cachos de uma palmeira que eu pensava que dela só se tirava o palmito da pupunha.
O melhor estava nas suas "flores" e eu não sabia. Mesmo que em toscos arranjos de plásticos, que ao serem dados, transformar-se-ão em amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é uma honra.

Crônicas Anteriores