Quanto tempo vale um instante?


Antes da labuta, parei na padaria costumeira para tomar meu cafezinho com pão na chapa.
Recentemente, incorporei este hábito que tem me rendido boas observações na hora matineira das 7 e pouco.
Hoje a garçonete perguntou-me se eu não iria querer o pastel? 
Ela lembrou-se de ontem. Ontem pedi dois pasteizinhos de queijo, para acompanhar o pão, e rebater a fome segundeira, maior do que todas as das manhãs.
Então, sorri para ela e pedi só um.
Gostei dela ter se lembrado de mim. Com tantos clientes, ela lembrou-se de mim. Uauuu!
Como é bom sentir-se notado, mesmo na multidão, foi o que pensei.
Na contra-luz, aproxima-se uma jovem. Cumprimenta-me com um bom dia e senta-se na mesa à frente.
Não estou acostumado com pessoas tomando iniciativa de me darem bom dia.
Surpreso, sorvo meu cafezinho acreditando mais um pouco na humanidade.
Sem querer, dado a proximidade das mesas de assentos individuais, acabo por ouvi-la ao celular.
Ela conversa com seus avós. Pergunta-lhes como amanheceram, e essas coisas que perguntamos a quem gostamos. Meu coração aqueceu-se ao ouvi-la expressar tanta amorosidade para com seus avós.
Ergo a vista por sobre sua cabeça e miro a lua, partindo do dia para seu encontro oriental.
Passo uns minutos encantado. A lua está se pondo, mesmo no rasgo entre minha mesa e o infinito. Sim amigos, lua também se põe. Veja na foto dessa crônica, no cantinho dela, a lua.
Vejo um jovem digitando algo no celular, enquanto caminha para a lua. Será que ele a verá?
Será que a jovenzinha a verá?
Será que os motoristas a verão?
Apresso-me para devorar meu pastel, absorto que estava, ele iria esfriar.
Levanto-me, passo pela jovenzinha, coloco rapidamente minha mão na sua cabeça, desejando em voz alta que o bom Jesus abençoe o seu dia.
Ela deseja o mesmo para mim.
Ao sair do caixa, procuro a lua. Não está mais ali. Partiu.
Quem viu, viu!
Instantes são assim. Num minuto acontecem, depois passam, caso contrário não seriam instantes.
Contudo, alguns deles deixam em nós sua fragrância.
Em mim ficou a fragrância de ter sido notado pela garçonete, num lugar que frequento a menos de um mês.
Ficou para mim o bom dia.
Ficou a atenção de uma neta para com seus avós. Ficou a lua se indo e toda oferecida para mim.
São como perfumes. Saímos com eles aromatizando ambientes.
O mundo anda precisando de instantes aromatizados.
Meu desafio é retribuir. Sair por aí espalhando perfumes, de instantes bons. Para comigo mesmo, para com os outros e para a realidade que me produz, e que a produzo.
Tomara que eu deixe o chão, por onde peregrino, mais perfumado do que encontrei. E, nunca desanime com eventuais fedores à beira do caminho. Afinal, a jornada pede instantes mágicos, místicos e macios para de fato valer a pena ser vivida.
Quanto tempo vale um instante? Espero que para o tempo em que investiu na leitura desse texto, o instante tem valido a pena, tal qual lufadas de esperança, nas manhãs precoces. 

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