O dia amanheceu lindo em SP. Logo depois do café, saímos em direção ao bairro do Bom Retiro. Minha esposa queria fazer compras na José Paulino, e eu iria aproveitar um vale-manhã para conhecer a Estação e o Parque da Luz, enquanto ela zanzava pelas inúmeras lojas.
Marcamos de nos encontrar às 11hrs, na esquina, e então parti com o JG (meu filho de 7 anos) em busca de aventuras.
A Estação estava fechada para visitas, em reformas, por causa de um incêndio que ocorreu em parte de suas instalações.
Seguimos para o Parque da Luz, que fica na rua ao lado.
Lá ficamos deslumbrados.
JG corria por entre Figueiras centenárias, tentando inclusive subir em algumas delas. Noutro lugar, uma cascata dava um tom de roça, no centro da cidade grande.
A luz se fazia até que fechou o tempo. Um guarda municipal da Prefeitura de São Paulo abordou-me com cara de poucos amigos.
Perguntou-me qual motivo das fotos, e, onde eu as usaria?
Atônito com a pergunta, recuperei a calma – item de primeira necessidade em intervenções policiais, e afirmei que eram para registro pessoal.
Não satisfeito, ele pediu meu nome completo e RG.
Forneci e ele “me liberou”, sem explicar-me o motivo do pedido, nem ousei perguntá-lo, temo mais polícia do que os zumbis que dormem nas ruas de SP.
Senti-me como um meliante.
Continuei conhecendo o Parque, e lá vem ele novamente. Pergunta-me se tenho email.
Disse-lhe que sim, e forneci-lhe.
“Solto”, novamente parto com o JG, não precisa nem dizer que já tinha perdido a graça do passeio. É muito ruim se sentir vítima de ordem e poder, sem nexo, de qualquer que seja a Instituição que dela emane.
Pedi para o JG ficar entre 3 Figueiras, para um bom registro e com a luz apropriada. E lá vem o guarda novamente. Fala que estou pisando na grama, e que não é permitido.
Sem graça, fiz mais algumas fotos e saí daquele lugar.
No outro dia, fui pra Londrina. Na casa de dona Zilda, percebi que o galinheiro que tinha no fundo do quintal continuava sem galinhas. Perguntei-lhe do galo que ali morava. Ela revelou-me que o vizinho implicou com seu “cacarejar”, no raiar da madrugada, e de tanto importuná-la sobre o galo que cantava cedo, ela resolveu fazer canja dele. Não queria confusão com o vizinho.
Tomando uma geladinha, por sinal acompanhada de uma feijoada divina, leio as postagens do meu WhatsApp. Vejo que tá rolando um debate na comunidade de meu condomínio. A razão foi um post de um dos condôminos reclamando que no sábado, pelas 22h30min, algumas crianças tinham descido a calçada da rua de skate e enlouquecendo os cachorros que destrambelharam a latir.
Ela alegou que a paz foi violada, na lei do silêncio, e todos os demais entraram no mesmo tom, apoiando-a, alguns inclusive sugerindo que a família dos meninos fosse denunciada para que eles pagassem multa e aprendessem.
Não adiantou algum dos condôminos alegar que é período de férias escolares. Aí foi que abriga pegou fogo.
Ela alegou que a paz foi violada, na lei do silêncio, e todos os demais entraram no mesmo tom, apoiando-a, alguns inclusive sugerindo que a família dos meninos fosse denunciada para que eles pagassem multa e aprendessem.
Não adiantou algum dos condôminos alegar que é período de férias escolares. Aí foi que abriga pegou fogo.
No aeroporto, preparando-me para voltar pra Brasília, após umas micro-férias, acesso o Facebook e vejo um post de um amigo. Ele relata que preparou, para cada passageiro do voo que faria com sua esposa e filhota de 9 meses, um chocolate e um bilhete.
Os dizeres do bilhete, que acompanhava o chocolate, pediam que as pessoas tivessem paciência, caso sua filha chorasse com dor de ouvido, e que era a primeira vez deles viajando com ela, para a casa da vovó.
Os dizeres do bilhete, que acompanhava o chocolate, pediam que as pessoas tivessem paciência, caso sua filha chorasse com dor de ouvido, e que era a primeira vez deles viajando com ela, para a casa da vovó.
Que tipo de sociedade é esta que estamos criando, sem empatia alguma?
Cada um que quer ter mais direito que o outro.
Direito ao não ouvir o cantar do galo do vizinho.
Direito a importunar um pai que tira fotos com o filho, em nome de sei l´[a que imbecil de ordem.
Direito à xingar a família de crianças que se divertem num condomínio fechado e horizontal, em tempo de férias.
Direito à ficar aborrecido com um jovem casal que transporta sua filha no avião e ela chora com dor de ouvido.
Direito a importunar um pai que tira fotos com o filho, em nome de sei l´[a que imbecil de ordem.
Direito à xingar a família de crianças que se divertem num condomínio fechado e horizontal, em tempo de férias.
Direito à ficar aborrecido com um jovem casal que transporta sua filha no avião e ela chora com dor de ouvido.
Uma sociedade birrenta, que todo mundo se acha superior ao outro e extremamente individualista, sem falar no narcisismo digital.
Com pouco espaço para empatia, tolerância, flexibilidade e aceitação de situações que a vida coletiva acaba por produzir.
Com pouco espaço para empatia, tolerância, flexibilidade e aceitação de situações que a vida coletiva acaba por produzir.
É o tal do politicamente correto, que vai produzir uma geração de gente que quer cada vez mais seu direito, mesmo sendo egoísta, se colocado numa prumada maior, o da perspectiva do outro.
Um direito excludente, que tira o outro da jogada.
Daqui a pouco teremos gente protestando por estarmos respirando do mesmo ar dele, ou por expirarmos o ar perto de seu metro quadrado de limite social.
Todo mundo cheio de direitos. De razões. De orgulho e prepotência social. Gente besta demais.
Gente sem paciência, sem misericórdia, gente sabida demais!
Que me dá nojo.
Agora quando é nos olhos deles, aí sim, eles querem um tratamento diferenciado, excepcional, querem e exigem compreensão.
Pouco a pouco, essa loucura social vai tirando de nós o prazer de estar juntos. Tudo vai ficando excessivamente sem cheiro, cor, toque de gente.
Pouco a pouco, essa loucura social vai tirando de nós o prazer de estar juntos. Tudo vai ficando excessivamente sem cheiro, cor, toque de gente.
Artificializamos a vida. E perdemos autenticidade, identidade. Vamos ficando iguais. Daqui a pouco falar alto em barzinho vai ser motivo de multa.
Tudo asséptico, incolor e insosso.
E aí a vida perderá sua maior beleza, a da desordem organizada, que dá sentido ao aglomerado de gente que se chama de comunidade.
Abaixo a denúncia na ouvidoria da Prefeitura de SP.
14042530
Abaixo a denúncia na ouvidoria da Prefeitura de SP.
Dados da Solicitação | |
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Assunto: | Parques Municipais / Denúncia |
Especificação: | Segurança em Parques Municipais |
Observação: | Fazia turismo no Parque da Luz, quando fui intimidado e constrangido, na presença de meu filho de 7 anos, por um guarda municipal. Ele queria saber para que uso eu faria das fotos que estava fazendo, depois pediu-me nome e RG, depois, não satisfeito, pediu-me meu email. Depois, passou a seguir-nos de longe, intervindo ainda quando eu tirava foto dele, perto de umas 3 figueiras, por estar com os pés na grama. Ele estava só, é negro, baixinho e meio forte. Se é proibido tirar fotos no Parque da Luz tem que ter uma placa com essa informação. Não pode constranger um turista, se eu não fosse calmo e psicólogo aquilo poderia ter evoluído mal. Moro em Brasilia e posso falar pelo celular 61993112906. Escrevi no meu blog sobre o ocorrido em: http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/2016/07/sobre-intolerancia-social-pretensamente.html Coloquei o endereço do hotel Normandie onde fiquei hospedado no ap. 907. Data da Ocorrência:=20/07/2016 Hora da Ocorrência:=09:00 Descrição do Local da Ocorrência:=Parque da Luz |
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