Balões e Palitos no Mundo do Trabalho e Vida Pessoal (Por Ricardo de Faria Barros)
O que será que acontece? Na foto, pessoas se movimentam em direção a balões avoantes, e com ameaçadores palitos de dentes e balões ao ar.
A principio você poderia achar que elas estão num jogo de caça ao balão, para furá-los.
Contido, convido-lhe a amplia a foto da moça que veste uma blusa verde.
Veja o ângulo que o palito toca no balão.
Ahh! Alguma coisa diferente ali acontece, e não é quando "cruzo a Ypiranga com a Avenida São João,", como a bela canção diz.
Algo de novo ocorre.
Ameaçadores palitos de dentes, com suas pontas afiadas, não estão sendo usados para destruir os balões, num jogo agressivo, uns com os outros.
Eles viraram "raquetes" de frescobol.
Na atividade que coordenei a tarefa era manter por dois minutos o maior número de balões do ar, sem poder tocá-los com qualquer parte do corpo, só podendo utilizar os pontiagudos palitos de dente.
E foi uma cena mágica o que ocorreu. As pessoas tinha o maior cuidado de encontrar o ângulo certo, do contato do palito com o balão, como a moça que veste verde na foto.
Se o ângulo fosse mais reto, a ponta do palito provocaria um dano no balão que lhe faria estourar.
O ângulo tinha que ser quase curvo, quase tangencial, para que de fato o palito servisse de raquete.
Uma coisa me chamou a atenção. Não era proibido quebrar as pontas dos palitos, reduzindo sua capacidade de furar, de agredir. E ninguém o fez.
Creio que essa dinâmica tem muito a nos ensinar tanto no mundo do trabalho, como na vida social.
Precisamos converter nossos ameaçadores palitos de dente em raquetes de frescobol, para fazer a vida fluir, para humanizar e amorizar os ambientes.
Investigue a fundo qualquer organização de trabalho, como se fosse um antropólogo laboral, e verá o quanto de energia se perde com a disputa entre áreas, que não se veem ou se percebem como parceiras.
São setores que não passam a bola para o outro de forma redonda, e em muitas das vezes, utilizam-se de comportamentos e atitudes predatórios, nos quais todos perdem.
Os balões no mundo corporativo são os serviços e processos de trabalho entre as áreas. Que precisam de empatia, diálogo, fluidez e sentido de urgência.
Contudo, nosso aprendizado desde a família, à escola e à sociedade vem sendo pautado noutra dimensão. Aquela que nos ensina que para vencer, um tem que perder. Que nos ensina a furar o balão do outro, no lugar de cooperarmos com o seu vôo.
"Como não é o nosso balão que está voando, para que mantê-lo no ar?"
Essa frase acima é muito comum no mundo do trabalho. Existem duas maneiras de sabotar os balões que voam quando chegam perto de nosso raio de ação. A primeira delas é a indiferença. Não tocá-lo com nosso palito, para que continue voando. Simplesmente fingimos que não é conosco, que não é de nossa conta, e o balão cai.
A segunda, é afiar as presas, projetando-as sobre ele, perfurando-o, e tirando sua capacidade de voar.
Essa mesma analogia acontece nos relacionamentos interpessoais, em todos os espaços em que acontecem, até na vida a dois, amigos e família.
Quanta gente tem a maior tesão em furar o balão do outro, ou condená-lo ao pior tipo de ódio, a indiferença. Não se alegra com quem se alegra, não ajuda quem precisa, não coopera para que a agressividade diminua, ou atua no sentido de cultivar uma maior humanização nos relacionamentos, com respeito e comunicação não-violenta entre eles. Ou seja, não baixa as armas na convivência com o outro, usando os palitos de dente para espetar e não como raquetes de frescobol, jogo comum nas praias cujo objetivo é arredondar a bola para o outro. .
Está sempre pronto a furá-lo. Por menor que seja o conflito, o estresse relacional, as armas se levantam e declaram a guerra.
Qual o custo da falta de simpatia, sinergia e sintonia entre áreas corporativas e pessoas?
Essa experiência social, conduzida no âmbito de uma palestra num evento de desenvolvimento de lideranças, no Ministério do Meio Ambiente, pode ser uma metáfora da esperança de mudança.
Podemos reaprender a ser mais cooperativos, amistosos e generosos com o outro, em em nos relacionamentos entre setores - elos do mesmo ciclo produtivo.
Podemos converter nossos palitos pontiagudos em prosaicas raquetes de frescobol. É só trabalhar o ângulo de aproximação entre pessoas que precisam se perceberem como iguais. Respeitando-se e buscando convergências, entre elas.
Nesse sentido, o autoconhecimento e o autodesenvolvimento são fundamentais, para a gênese de um novo paradigma relacional, não focado nas competições predatórias, restrições e limites da realidade; mas sim nas redes de colaborações virtuosas, nas possibilidades e alternativas de ação para transformação possível de uma determinada realidade.
No autoconhecimento, proporcionado pela educação, atua-se na lança do palito. Tirando dela seu poder de morte, arredondando-a. Ou até, quebrando sua extremidade perigosa, e que não faz mais sentido. Como aquela agressividade de autodefesa apreendida, por exemplo.
No autodesenvolvimento, proporcionado pelas experiências de vida, atua-se na modelagem do ângulo relacional com o outro, ou os setores, ajustando-o com flexibilidade para mitigar os riscos de dano relacional.
Ansiosos e velozes palitos de dente, movimentando-se em direção aos belos e frágeis balões ao vento, nem sempre serão estruturalmente inimigos. Podem, desse encontro, produzirem algo impensado e novo, em parcerias inusitadas, quando um compreende o mundo do outro, ao manter o balão dele no ar, cumprindo a vocação a qual se destina ser.
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Fiquei feliz por saber que estou no caminho certo, há muito tempo sou assim, desde que me lembro de como eu sou!!!! Parabéns por seu artigo!!
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