Sábado, ao esperar lavarem o carro, percorri as lojas de plantas da vizinhança e me embeveci numa delas, na qual havia muitas bromélias expostas, cada uma
mais linda do que a outra.
Tenho uma relação antiga com bromélias e se eu pudesse colocar em mim os valores das plantas, eu escolheria os das bromélias, mesmo correndo o risco de magoar meus preciosos Jequitibás, Cagaitas, Paineiras, Umbuzeiros, Algarobas e Ipês, minhas outras paixões!
Esse relacionamento têm uns 30 anos. Ou seja, já fez o tempo de uma geração, então é amor. Lembro que todo sábado papai me pegava em casa para irmos juntos na sua pequena propriedade rural, nas imediações de Campina Grande-PB, chamada de Samambaia. Passamos agradáveis dias, naquele recanto de esperança.
O original nome do sítio, dado pelos ancestrais dos Barros, tinha
como motivo a forte presença de Samambaias na propriedade, que afloravam das locas de pedras. Eita lugar para ter pedras.
Sim amigos e amigas, havia muitas rochas no sítio Samambaia,
naqueles seus 12 hectares, pouco mais de
5 alqueires. E, algumas delas eram como se Deus pai tivesse pavimentado o solo em grandes áreas de pedra plana, quase no nível do solo, chamadas de lajedos. Tinha os lajedos planos e tinha também os que formavam pequenas montanhas de pedras, com seus abismos íngremes, ou ainda cavernas e grandes buracos nas rochas que acumulavam as águas das chuvas, virando cisternas naturais.
O maior lajedo, de uns 300 metros quadrados, era monumental. O ingresso dele era por sobre uma pedra plana, uma laje natural no nível da terra. Depois ele ia mergulhando no solo, formando um abismo sensacional e perigoso, que pelo lado oposto conseguíamos acessá-lo por baixo e mergulhar nas águas que nele ajuntavam. Mas, sem papai ver. Pois ali juntava-se raras águas para beber, e não podia-se tomar banho. Papai dizia que o buraco do centro do lajedo se caísse uma pessoa dentro dali não sairia, pois era cheio de água e profundo, e os paredões de difícil. De tanto procurar lajedos, para fotografá-los no sítio, eu dei de cara com as bromélias. Elas amam juntamento de pedras.
E, vez por outra, eu era brindado com um pendão colorido que dela saia, como uma espécie de exótica flor.
Ficava um tempão olhando para aquilo e tentando entender como ela sobreviva ali, naqueles costões e ajuntamentos de pedras, e bem afastadas de qualquer fonte de água, inclusive do poço que num dos lajedos se formavam. Nele, quem reinava eram as samambaias, que gostam de muita umidade, daquelas que sobrem pelas paredes rochosas.
Perto de um bromélia há vida. Aliás, as bromélias são plantas colonizadoras de ambientes. Após sua chegada, em qualquer tipo de solo, a vida acontece.
Suas raízes mergulham em fendas e dessa fixação formam como uma malha que vai retendo a poeira que circula no ar, nelas caindo, formando uma espécie de solo por cima delas.
Então, elas criam solos para outras plantinhas que dele vão precisar. Nas suas folhagens, acumulam-se as águas das chuvas, em espirais internas que sua formatação produz. Essa água vai sendo liberada as poucos, irrigando toda uma vizinhança. Como uma esponja. E elas evitam que as águas sumam, ladeira abaixo. Então, esses "poços" permitem que pequenos animais matem sua sede, ou que no seu interior habitem rãs, lagartos, grilos, e insetos dos mais variados tipos, que são o início da cadeia alimentar de regiões tão inóspitas, possibilitando que outros animais deles sobrevivam. Suas folhas formam um a espécie de "tanque"com água que fecundam as sementes que nelas caem, possibilitando que uma vegetação desenvolva-se nas suas imediações. As bromélias resistem às situações mais adversas possíveis, principalmente as de solo rochoso e as de árvores.
Viram o porquê deu gostar delas? Deixa eu dizer o que aprendi com elas, e para a vida.
a. Podemos ser alimento para pessoas famintas. Não podemos fixar raízes na vida de uma forma egoísta e de personalidade acumuladora. Daquelas raízes que só se importam com elas mesmas. Podemos garantir nossa existência, com nossas raízes, mas podemos com elas abençoar muita gente. Ajudar, cooperar, fazer pagamentos justos de quem nos presta serviço, podemos adotar causas, pessoas, situações difíceis a que somos confrontados e que pedem a segurança de nossas raízes. Nossas raízes podem juntar coisas boas, como a poeira circulante que nas bromélias vira solo fértil. Solo fecundo e seguro que poderá ajudar emocionalmente muita gente. Ou seja, nossas raízes podem gerar condições de vida ao nosso redor, e não de morte, podem ensinar a cuidar um do outro. Fazendo isso, tu estás sendo as raízes das bromélias.
b. Podemos ser água para pessoas sedentas. Liberar fonte de vida, nossa água, para pessoas e almas sedentas. Como as folhas das bromélias fazem para todo tipo de animal e sementes que dela precisam de um refrigério. Liberar perdão, liberar amor, liberar gentileza, liberar estímulos, reconhecimento, cuidado, admiração, liberar mansidão e generosidade. Podemos tornar o ambiente mais fecundo para o nascer das sementes dos outros, ou para quem em nós procure matar sua sede emocional Quando você anima uma pessoa, que está se sentindo frágil, desprotegido, inseguro quanto ao futuro, e tu o estimula a lançar sementes, perto de tuas folhas, tu está dizendo a essa pessoa que não vai deixar a esperança dele morrer, e que de ti sairão gotas de água que irrigarão as sementes; aquelas mesmas que ela achava que não mas iria lançar, por falta da água da esperança em dias melhores. Ou seja, as águas que se juntam nas folhas das bromélias ensinar a cuidar um do outro. Fazendo isso, tu estás sendo as folhas das bromélias.
c. Podemos ser renovação, para pessoas estagnadas nelas mesmas. Criar ecossistemas; essa é a última característica das bromélias que acredito nos ensina muito. Elas deixam um legado melhor do terreno que acharam quando ali chegaram. Quantas famílias destruídas pelas mágoas? Quantos pais apreensivos pelo rumo que tomou algum dos filhos? Quantas pessoas destruídas emocionalmente, por não se recuperarem dos tombos que levaram? Quantas pessoas, perto delas, parece que a vida se foi. E aí, tu ou eu, bromélias que podemos ser, e termos aprendido a não terceirizar nossa missão nesse mundo, chegamos perto delas e podemos fazer a diferença em suas vidas. Alterar esse ambiente de insalubridade emocional, só com nossa paz e tenacidade emocional. Uma única pessoa pode alterar um ecossistema emocional com sua presença ativa, diminuindo a incidência da chuva ácida emocional, dos dejetos afetivos, dos lixões fétidos comportamentais e de toda a toxidade de mágoas - daquelas colecionadas e criadas como animais de estimação. Podemos restaurar ambientes, renovar esperanças e alimentar estimas nas pessoas. Mesmo que seja difícil que não vejamos a mudança acontecendo, digo-lhe, continue! Não se altera um ecossistema emocional, não se "recoloniza um ambiente humano", daqueles bem degradados, de um dia para a noite. Mas, nossa presença pode ser como uma enzima, pode catalisar reações comportamentais e emocionais mais positivas nos lugares em que convivemos. Perto de uma bromélia há vida. Perto de nós há vida? A vida consegue acontecer nos locais onde nossa presença habita o mundo?
Salvem as Bromélias Humanas!
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