Autonomia

Quatro anos e quatro meses de nascido, JG vence um desafio enorme.
Consegue fazer sua obra no trono.
Esperamos pacientemente esse dia.
Noutras crianças, o dia chegou aos três anos. Aos quatro.
No nosso JG, durou uma eternidade.
Mas, não o apressamos.
Esperamos a mãe natureza agir.
Mesmo que ficássemos, mês a mês, mais apreensivos.
Não apresse o rio, ele corre sozinho.
Ele agora estufa o peito e pede: quero fazer no trono.
Senta e reina.
O trono é a maior invenção da urbanidade.
De uma funcionalidade tremenda, dividiu por séculos os que tinham dos que não tinham.
Invenção, do tipo Coisa-de-Deus.
Passei o dia feliz pela conquista do JG. Pais ficam felizes pelas conquistas de seus filhos. Uma pena que após crescerem eles desaprendem a dividirem. Ficamos sabendo delas pelos posts dos amigos, isto é, quando não nos bloquearam.
Uma simples capacidade de regular o esfíncter e mandar brasa, água adentro, nos eleva à condição de homo sapiens-sapiens-demens.
Largar as fraldas é a primeira de tantas “largadas” da metamorfose do viver.
Outras fraldas, menos pudicas, vão sendo largadas ao longo da vida.
Algumas delas, voltaremos a usar, em momentos de fragilidade.
Autonomia. Palavra de fácil evocação e difícil sustentação.
Autonomia é um trono. Um reinado. O da liberdade.
É uma conquista diária, para a qual valem escolhas e suas inevitáveis renúncias.
Todos deveriam ter tronos. Tronos para os quais iríamos, após nos despirmos de nossas tranqueiras existenciais, de nossas prisões - de todas as formas, até em forma de fraldas.
Hoje lhe prometi uma bola, se ele fizesse novamente.
Perto das 19hrs, gritou: “Papai, fiz cocô no vaso, quero minha bola...”
Amanhã comprarei. A bola celebrará, ritualizará, esse rito de passagem, das fraldas para o vaso.
Precisamos de ritos, de sacramentalizar nossa existência.
Aprendi a celebrar as pequenas alegrias. E, nessa noite, celebro a alegria da autonomia do JG em usar por si só o vaso.
Agora ele pode sair sem a bolsa que o acompanhava, quase como um apêndice.
Vai filho e conquiste outras vitórias, a principal, continuar sendo alegre, sonhador e amigo, mesmo levando pancadas vida afora. Aí será rei mesmo. Rei de seu próprio destino.

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