Um outro olhar

A primeira vez que entrei na cidade satélite de São Sebastião-DF foi por essa rua, em 2008, a Avenida Central. [na foto, setas amarelas]
Lembro bem o dia e a sensação de entrar naquelas cidades da Índia, apinhadas de gente, moto, carroças, som alto... etc.  O nome já diz: Avenida Central. Pense num furdunço! Multiplique por dois.
Entrei por ali, com meu pai, procurar uma fabriqueta de blocos de construção.
Para chegar em São Sebastião, vindo de meu condomínio há três acessos. O por cima, que faz um volta danada, uns 18 km.
O pelo atalho, o que peguei da primeira vez - pela Avenida Central, uns 8 km.
E outro, que só descobri tempos depois. Não tem sinalização. Descobri que após a venda, quebrando à direita, e descendo, já saio direto na Av. Comercial.  Uns 6 km daqui de casa. [na foto, setas vermelhas].
Logo na primeira vez que fiz essa terceira via, apaixonei-me por São Sebastião-DF.  Amor à segunda vista. Caia por terra toda a desilusão. Toda a imagem ruim que ficara na primeira impressão.
Sim, primeiras impressões podem ser reeditadas.
Ficava no passado toda a sujeira, balbúrdia, alvoroço do primeiro acesso que tinha feito aquele de quando fui comprar os blocos de construção.

Entrar em São Sebastião, vindo de meu condomínio na Avenida do Sol - Jardim Botânico, pela terceira via é uma experiência singular.

São duas grandes avenidas, ladeadas por um canteiro central, margeadas por fecundo e organizado comércio local e instituições públicas.

O adensamento urbano é organizado, tudo flui em certa organicidade.

Entrar por ali é respirar. Não senti claustrofobia, não me senti apreensivo. Senti-me em paz. 
A paz de uma cidadezinha do interior, arrumada.  Pobre, mas limpinha.

Por ali descobri o Banco do Brasil, os Correios, o Posto de Saúde, o posto de Gasolina, a Pizzaria, o pé sujo aprumado, Os supermercado, as mil e uma igrejas, a feira livre, os 1,99. 

Pelo outro lado é a desordem. O caos urbano e a complexidade da vida em permanente duelo.

E se eu não tivesse me permitido pegar o terceiro atalho? 

Que at0é hoje, desde 2008, ainda não tem placa alguma sinalizando para a cidadezinha.

E se eu não me permitisse um novo olhar?

Como mudar histórias, sem alterar trajetórias?

Como querer novos resultados, com os mesmos comportamentos?

Situação parecida aconteceu comigo quando conheci pela primeira vez o Mercado de Curitiba, perto da Estação Rodoviária.

Sempre entrava pela porta que sai para a Estação Rodoviária. Percorria seus corredores, aromas mil, burburinho gostoso de feira livre, um sonho.
Depois, subia ao mezanino - todo de ferro, e almoçava. 
Pegava um taxi e seguia para a Copel onde daria palestra sobre aposentadoria.
Fiz isso umas dez vezes, até que um dia - como o tempo estava a meu favor, resolvi explorar o quarteirão do Mercado.

Descobri logo perto uma loja de plantas, que vendia mudinhas de todo tipo de hortaliças. Nem precisa dizer o quanto minha mala voltou apinhada com tomates, alfaces, salsas, brócolis tudo em tenra haste, pronta a deitar à terra.

Caminhando mais um pouco, deparo-me com a saída Norte do Mercado e, uaaaaaauuuuu!!!!

Um outro Mercado aparece. O Mercado Novo. Com lojas mil, praça de alimentação, quinquilharia de chineses de todos os tipos, vinhos, cachaçaria, orgânicos, etc.

Fiquei invocado para descobrir como de um acessa o outro.

E saí percorrendo seus labirintos até descobrir. Era pelo corredor da lotérica.

Bingo. Agora, do velho ia ao novo, por dentro, e vice-versa.

Um mundo de novos aromas, formas, sons, sabores se descortinou.  Como nos últimos três anos vim umas dez vezes à Curitiba e não conhecia aquilo?

Volto à São Sebastião, agora cheio dos sons e formas de frutas, castanhas, pescados, cafés do Mercadão.

Se eu não tivesse explorado aquele quarteirão. Se alguém me contasse sobre aquilo diria que eu estava mentindo.

Ou se alguém me contasse sobre a calma e organização da Av. Comercial de São Sebastião.

Penso que na nossa história de vida há novos Mercados Municipais, alas novas, ainda desconhecidas.

Há também Avenidas Comerciais arborizadas, limpas, em oposição às Avenidas Centrais entulhadas de preocupações e estresse.

Há pessoas que são marcadas em nosso viver como uma Avenida Central. Não nos permitimos entrar nelas de uma outra forma.
Vê-las com outros olhos.
Amá-las como jamais foram amadas.
Perdoá-las como nunca se sentiram perdoadas.
Cuidá-las, como nunca foram cuidadas.

Há em nós as duas avenidas. Os dois mercados curitibanos. 

Há em todos.

Descobrir o que nos satisfaz, o que nos encanta, embeleza, dá sentido à nossa existência é a arte da perseverança, da esperança vezes insana de continuar tentando um atalho.
Uma saída.
Um portal, por uma lotérica qualquer, que mais do que apostas, nos darão certezas, da felicidade de se redescobrir criança. Criança que não se cansa de refazer-se em planos mil.

Como aprendi nesse final de domingo.

Como aprendi com essas metáforas urbanas.

Tentarei outros caminhos para abordar novos destinos.

E o caminho se faz ao caminhar. 
E o prazer não é o destino. 
E justamente o caminho...
Belo caminho pela Avenida Comercial de meus sentimentos e fantasias, povoados de gestos e delicadezas... 

Belo caminho pelas alas novas do Mercadão de Curitiba, sem desprezar as alas antigas, integrando-as numa única e existencial experiência, articulando corredores vitais na profusão de sonhos, fazeres, 
iluminares que constitui a essência de cada ser, velho e novo!
Balbúrdia e paz.
Fogo e água.
Terra e vento.

Seres belos, por incompletos que somos.
E, sem os outros quem dará sentido à nossa existência?
Portanto, mude velho hábitos e as certezas sagradas. 
Permita-se releituras de sua vida.
Permita-se editar o filme de seu viver.
Permita-se conhecer facetas desconhecidas, nos conceitos encardidos de tudo e todos que possui.

E assim, entre uma Avenida e Outra, um Acesso ao Mercado e outro, nós vamos pelejando, sempre acreditando que podemos ser luz e iluminar caminhos, mesmo que vez por outra, falte combustível... Mas, sempre aparecerá alguém com uma tocha a nos animar a prosseguir. 
Afinal, a vida é feia de prosseguimentos.
Portanto, aventure-se na imensa e estimulante aventura do mudar, do crescer, do desaprender de antigas lições que não fazem mais sentido.
Saboreei e deguste a misteriosa e singular experiência do vir-a-ser:
renovando-se a cada pena, a cada lágrima, a cada riso, a cada abraço, a cada carinho, a cada decepção, a cada mágoa, a cada fé!
Valerá a pena!



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é uma honra.

Crônicas Anteriores