Um Conto de Amor

Eu lhe disse o quanto sua violeta corporativa estava bonita.
Daquelas que ganhamos ou levamos para nos fazer companhia no trabalho.
Mas a dela era especial. Tinha um porte atlético, esbelta, quase uma musa.
Aí perguntei-lhe o que fizera pra que ela ficasse tão exuberante, mais parecendo artificial.
Ela sorriu. Um sorriso amoroso.
Disse-me que sua violeta era mais uma das tantas vendidas nos supermercados, condenadas à ficarem esquecidas num cantinho qualquer, após sua florada.
Vítima de um tempo de esquecimentos.
E que a comprara para embelezar sua área de trabalho. Quando a colocou no local, perto de uma janela, viu que ela estava mal acomodada naquele vasinho apertado. Então, voltou ao supermercado e compro-lhe um vaso maior, terra e a trasplantou cuidadosamente.
Diariamente cuida de suas folhas, conversa com ela e não deixa que lhe encham com mais água do que o necessário.
O que era apenas uma violeta de supermercado agora era a sua violeta.
Em cada gesto um cuidado que a tornara especial. Luz, adubo, água, espaço, conversa e podas necessárias.
A violeta me pegou num dia muito emotivo.
Recebi um UOT falando de que ela o aceitara como namorado.
Ele não se continha em si de feliz. Dissera-me que após deixá-la no aeroporto, no seu retorno para casa, chorou de saudades.
Eles vivem amor distante. E dos bons. Creio que a violeta de minha amiga expressa o que cada um fez para que o amor acontecesse. Venceram medos. Destinos certos. Venceram dúvidas, temores, pré-conceitos. Ambos vinham das desventuras do coração. Era sobreviventes e não queriam mais "saber dessas coisas do coração". Sofreram muito e já não eram mais crianças. O amor "infecionou" primeiro nele. Ele pegou a violeta e a levou para sua vida. Cuidou dela. Transplantou-a de realidade vividas e doloridas. Depois a convidou para tomar sol. Para passearem e rirem juntos das coisas da vida e do viver. Todos os dias adubava o encanto do amor com horas de conversas digitais. São Paulo-SP à João Pessoa-PB ficou ali pertinho. Longe é um lugar que não existe para quem ama.
Ele viveu o abobalhamento do amor, em todas as suas formas. Um abobolhamento que nos faz conversar com uma violeta, tal faz minha amiga.
Do alto de seus cinquenta e poucos fora pego de surpresa pela lufada do amor.
Dizia-me que não acreditava nisso. Era um engenheiro, muito cartesiano, muito cheio de negócios e que estava feliz assim, solteirão.
Ela, dizia-me que após seu último relacionamento não estava preparada para doar-se novamente, para fazer muda num vaso novo. Fazer novas todas as coisas mesmo que já vividas. Sofreu muito no último encanto do amor. Quando estava perdidamente apaixonada, ele ligara pra ela terminado a relação: sem motivos; sem velas; sem perfumes... simples como quem diz que chegará mais tarde do trabalho. 
Por meses, vinha vivendo as dores das Mães da Praça de Maio que diariamente esperam a volta dos filhos.
Esperava dele um telefonema de reconciliação.
Ou um email restaurador, e até que ele irrompesse pelo seu ap. com um buquê de rosas. e, nada!
Assim, fechou-se em ás de ostras.
Quando o irmão mais velho dele a abordou, 
pronto, ela não seu irmão e um perdão. 
Ela não iria reviver aquilo novamente. Não. 
Recomeçar com seu irmão, de maneira alguma! 
Ela não estava louca. Ouvia os dois no meu divã digital. Um atônito pelas coisas que estava sentido e nunca sentira. A outra, desesperada de voltar a sentir e ser novamente esquecida como violeta de supermercado.
Aos poucos o vaso novo do amor foi se fazendo presente.
É que as sementes do amor pedem paciência e tempo para germinarem, mas se forem boas, se caírem num coração fecundo, elas vão criar raízes e germinarem.
Após o sim, do namoro, começou uma longa jornada de recuperação da confiança. perdida. Mais fácil achar uma agulha no paiol do que recuperar confiança, mesmo que o amigo não tivesse sido o responsável direto pela quebra dela. Sobrou para seu dna. E a história do amor avançou. E tome milhagem. e tome horas de UOT. e tome chás de cuidado, de delicadeza, de atenção. Quem poderá resistir à força do amor. De um amor verdadeiro. Lentamente, aquelas violetas em forma de pessoas: ele e ela, antes sem viço e sem esperança - descrentes de qualquer novo amor a dois; foi rejuvenescendo. Criando amálgamas de emoções. Dois corações perdidos num vaso de violeta, esquecidos num canto qualquer de suas vidas, agora renascidos. Assombrados pelos encantos do cuidar, do compartilhar, do conviver. Nenhum por do sol meu amigo viu mais do mesmo jeito. Canções passaram a encher suas retinas. Ficou atento à tudo que pudesse fazê-la feliz. Ela, tomou coragem e enfrentou sua família. Convenceu um a um, numa batalha épica, de que estava vivendo algo especial e que tinha direito e tentar novamente, sem ser de novo, entende? Ele, foi pedir bênção à sua mãe. Coisa linda de se ver em dois marmanjos. E assim a violeta do amor renasceu. Não há coração que se perca ao reencontrar o caminho do amor. Transplantes de membros amputados do amor, para novos jarros de sentido, adubados pela força do diálogo, aquele mesmo de minha amiga que diariamente conversa com sua violeta. Ahh se os casais soubessem a força de uma boa conversa, mesmo que seja sobre as novas aquisições parta o álbum da copa. Ahh se soubessem!
Se até violetas renovam-se com cuidados e conversa, imagine os relacionamentos. Vão amigos, permitam-se amarem-se, posto que é chama. E que seja infinito, sempre que durar a vontade e decisão de amarem-se de montão, sem medo de parecerem bobos, aos olhos de mal amados, de todos os naipes. E, muitas pipocas, passeios, confidências, músicas e bons filmes juntos, embaixo de edredons. Isto não tem preço e não se compra nas esquinas e nos templos do consumo. Ahh não!!!!

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