Cartas ao JG - Sua ida ao Trabalho do Papai.

Hoje você passou o dia comigo, no trabalho.
Foi sua segunda vez, na primeira tinha uns 6 meses, agora quase cinco anos.
Como cresceu rápido.
Ah, se os pais soubessem o que sei: como os bebês crescem rápido demais!
Como o hoje vira ontem num pisar de olhos, e aí lá se foram tantas possibilidades de fazer festa, mágica, celebrar e registrar os bons momentos para a eternidade. Enquanto eles ainda privilegiam a nossa companhia.
Hoje, por um acidente de percurso, sua escola deu feriado, nossa nova babá ainda não foi contratada, e todos os seus familiares estavam trabalhando. Chegando ao trabalho, após sua fase Modo Tímido passar, saiu de colega em colega, pedindo afago e roubando a atenção. São 16 mulheres e dois homens, na área. Então, tome paparico. Não ficou uma bateria de celular carregada.

Você saiu por todas as estações de trabalho pegando os celulares disponíveis e procurando jogos neles instalados. Além daquelas coisinhas que botamos pra decorar nossas estações de trabalho (baias).

Nada ficava parado. Tudo era motivo de festa e da mística do brincar. Você não é de ficar parado, puxou ao papai. Corria pelos corredores, entrava nos banheiros, inclusive femininos, ia tomar água sozinho. Por mais que eu te ameaçasse com os vigilantes.

Explorou cada corredor, com alegria e disposição, como se fosse o melhor dos parquinhos infantis. Na hora do almoço, levei-te num pé sujo que costumo frequentar. Ali, você quase me endoida, mais uma vez sem querer comer e aprontando. Levou uns cascudos. Você é muito rebelde às minhas instruções, tira-me do sério. Uso a terapia do cascudo.

Na volta, desenhou e procurou o colo da tia Raquel e da Lili. Nalis ficou chateada, você disse que gostava mais da Lili, depois elas descobriram que o celular da Lili tinha jogos. Estava explicado a preferência. Durante parte da tarde, viu filme no computador, pintou e bordou. Na volta pra casa disparou por entre aqueles imensos corredores, escondendo-se de mim pelas "baias".

O pessoal sorria e vibrava contigo. E eu, feito um tonto, corria atrás de você e gritava teu nome feito um bode rouco. Voltamos pra casa felizes. Você disse que gostou de "trabalhar" com o papai. Mas, te dei aviso prévio do cargo de trainee. Benditas babás. Voltei pra casa sorrindo na alma.

Lembrei de quando meu pai levava-me no Senai de Campina Grande-PB. Eu corria por entre as oficinas. Descobri esconderijos, passagens secretas. E todos ao me verem diziam: é o filho do Evandy. Pegava restos de madeiras nos lixões da escola de marcenaria e construía torres de castelos imaginários.

Ficava escondido perto da máquina de serrar, contemplando aquele mistério da tecnologia, o corte. Depois, algum dos funcionários do papai chegava com a missão de me levar para o escritório.
Papai era o Diretor da Unidade Móvel, e eu sentia orgulho do orgulho dele em gostar tanto do que fazia, ali no Senai. Aposentou-se com mais de 45 anos de dedicação ao trabalho e nunca lhe vi sem ânimo, desgostoso, revoltado.

Ele não só creu no trabalho, como significado e propósito, ele criou o propósito do trabalho, agradecendo todos os dias o fato de ter chegado longe demais - para um filho de humildes e pobres sertanejos. Ir ao Senai era motivo de festa para mim. Assim como foi pra ti hoje, meu filho JG. Meus pais amavam o trabalho.

Acho que o que sinto em relação ao meu trabalho aprendi por osmose com meus pais. Impregnou-se no meu DNA afetivo o respeito e comprometimento que sempre escutei deles em relação ao SENAI. Assim, sinto que amo meu trabalho muito em função do que meus pais me ensinaram com suas próprias vidas.

Eles nunca falaram de seus trabalhos como peso, dor, punição. Tinham prazer em falar do Senai, em nos levar para conhecer o Senai.
Se nesse dia você puder gravar algo em sua memória afetiva, guarde o amor. Naqueles corredores por onde correu, naquelas estações de trabalho em que se escondeu, habita pessoas que se realizam com o que fazem, que amam. Mais que um emprego, ali encontramos parte do sentido de nossas vidas. Então, JG, um dia leve seu filho para conhecer o seu trabalho... Coisas boas disso poderá advir.

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