Hoje eu queria contar para vocês uma história tão bonita que eu conheci! Eu tenho um amigo que é de Santa Catarina, mais precisamente da capital Floripa (Florianópolis). E ele contou que a safra, eles chamam safra, da tainha, está quase no final. Geralmente vai de maio até o final de agosto, nunca entra em setembro. É a época em que a tainha chega muito próximo da costa, ela migra para desovar. E lá eles têm equipes de pescadores que formam verdadeiros times.
Então tem o barco, o cara que entra na baía, na laguna, e com a vela ele vai soltando-a, tem a equipe de terra que vai soltando a rede, a equipe da rede que vai puxando (a rede) para fazer uma espécie de meia lua...
Mas o sucesso dessa pesca artesanal, que já virou um cartão postal ali das praias de Santa Catarina, mais propriamente das praias próximas de Florianópolis, o sucesso dessa pesca é de um personagem chamado olheiro. Antigamente eram chamados de vigias; hoje eles gostam de ser chamados de olheiros.
O papel do olheiro é ficar no alto de um morro, geralmente aqueles morros que tem um cruzeiro, tem uma cruzinha lá, no alto de um cruzeiro, eles ficam olhando a baía. Eles acordam muito cedo, eles passam o dia no local, levam café, bolo, pastel, no almoço, eles passam o dia, da hora que o sol nasce à hora que o sol se põe. E eles ficam com um rádio comunicador, se comunicando com o cara que está lá no barco, com a equipe de terra. Ele sozinho lá, como um general estrategista da pesca, ele fica olhando aquele horizonte do mar, conectado por rádio, ou por celular, com a equipe de terra e ao sinal dele, todos jogam as redes ao mar.
Os barquinhos saem, soltando a rede, e a equipe de terra vai puxando a outra ponta formando uma meia lua, e puxam, de arrasto, as tainhas.
Quando a pesca é ruim eles conseguem quinhentas tainhas no arrasto.
Quando a pesca é boa, cinco mil tainhas no arrasto. E todo mundo que participa da puxada da rede ganha nem que seja uma tainha, para levar para casa. Ninguém fica sem tainha. É uma coisa linda, uma experiência cultural belíssima, e eu fui pesquisar mais um pouquinho a figura desse olheiro.
Geralmente são pescadores já sexagenários, septuagenários, muito experientes, mas a maior experiência deles, gente, é no olhar. Eles têm uma vista treinada para observar a sutileza das coisas.
Então eles são capazes, de numa distância enorme, sem uso de binóculo, perceberem uma mancha na água, uma variação. E nesta mancha na água eles sabem que ali está vindo um cardume de tainhas, pela alteração da tonalidade da água.
Em outras vezes, a mancha não é escura, é uma mancha prateada, quase amarelada. São tainhas também. Em outras vezes eles percebem pequenas ondulações vindo em direção à praia. Mais uma vez, são tainhas entrando no cardume. Então, de tanto olhar, eles treinaram o olhar. De tanto olhar, eles treinaram o perceber. E este é o maior apelo da psicologia positiva. É o exercitar diariamente do perceber. Treinar o olhar.
Treinar o olhar para a abundância e não para a restrição. Treinar o olhar para a possibilidade, e não para a dificuldade. Treinar o olhar para as sobras da contabilidade da vida, e não as faltas.
Então, assim como esse pescador experiente, que sobe em cima de um morro para observar o horizonte, aquele lençol d’água enorme à sua frente, nós somos convidados todos os dias para transcender a nossa existência.
Subir também num morro emocional e nos olharmos numa outra perspectiva, numa outra prumada. E nesse olhar, esse olhar meigo, doce, carinhoso para conosco mesmo, nos vermos na nossa completude, na nossa belezura e boniteza de viver. Perceber, entrando no rio da nossa vida, as tainhas, e as tainhas são a metáfora da alimentação, da bondade, da esperança, do otimismo, das coisas pelas quais vale a pena viver. E vale a dica: eles passam horas treinando o olhar. E elas não aparecem todo dia, mas eles esperam por ela todos os dias. O futuro é um salto que a gente dá no saltado que aí está. O futuro é um salto que a gente dá no saltado que aí está!
Eles não veem tainha todos os dias. De trinta dias no mês, eles veem cinco dias, então não é todo dia que o mar está para peixe, está para tainha. Mas todos os dias eles estão capacitando o olhar para vê-las. Todos os dias, eles, seis horas da manhã, já estão no ponto de observação, atentos à menor variação possível, na tonalidade ou na forma como as ondas se formam na lagoa.
Percebem a beleza? Percebem que lição de vida... não desistem! Não é porque hoje o dia foi mais difícil que amanhã tem que ser mais difícil. Eles não desistem!
Eles estão sempre a postos, observando, o que pode ser, o que pode vir a ser, a abundância de um dia feliz de pesca. Observando a vida que pode vir entrando por aquela baía, e se ele não falar, se ele não der o sinal no rádio, vai passar e todos vão voltar com fome para casa, sem a tainha.
Quantas das vezes cabe a nós influenciar o nosso meio, e observar o que ninguém está observando, o que ninguém mais vê? E que a gente consegue ver com os óculos da esperança, com os óculos do otimismo, da inteligência positiva?
E a gente é chamado a anunciar esse visto, a profetizar esse visto, a declarar sobre todas as coisas e todas as pessoas de que o bom, o belo e o virtuoso, existe. A gente apenas não está vendo, mas neste olhar treinado, que a gente tá capacitando-o todos os dias, a gente é convidado, a quando descobrirmos, anunciar para o outro. Declarar para o outro.
Saborear o momento, mas não ficar só conosco, chamar a atenção para o momento, para o outro, para que esta dádiva desta “tainha” que entra baía adentro, possa ser comungada, compartilhada por todos, uma grande corrente do bem.
Então não perca nunca a chance de chamar atenção das pessoas para o que está acontecendo ao redor delas e que é bom, é belo e é virtuoso.
Pode ser a coisa mais prosaica, pode ser alguém que levou para o seu setor um bolo que ele fez em casa, ou ela fez em casa, pode ser! Uma nota que alguém tira numa prova, a visita de um amigo, o que seja. O que está entrando na baía do seu coração, as “tainhas” boas, belas e virtuosas que estão entrando, as olhe de cima do morro da sua vida, transcenda, e as olhe com esperança, com um olhar de lua cheia, com um olhar amoroso e diga, “QUE BOM! QUE BOM! QUE ABUNDÂNCIA!”
Olha como é bom receber uma visita, olha como é bom poder cozinhar para alguém, olha como é bom poder se emocionar com um filme, com a leitura de um livro, olha como é bom ter o número do telefone para discar e alguém amado do outro lado para dizer “alô, tudo bom?”.
Olha como existem tantas tainhas entrando, prontas para alimentarem corações cansados, aflitos, corações que estão a ponto de desanimar, e que precisam do seu grito lá de cima do morro, do morro da cruz que é onde eles ficam, por ser muito alto, lá de cima do morro da cruz você grita “gente, está entrando tainha! Joguem as redes, lancem as redes ao mar, não é hora ainda de voltar para casa, nós vamos saciar nossa fome!”
Talvez seja você este convite. Talvez você que tenha sido tocado pela filosofia da inteligência positiva, da psicologia positiva, talvez esteja sendo convidado neste dia, nesta noite, a anunciar na sua página pessoal, na sua rede de amigos, que existe coisa boa, que existe gente boa, que o mundo não é só de restrição, de dificuldade, de perda.
O mundo também pode ser um local de abundância, de inovação, de superação, de corrente que se junta em círculos virtuosos de vida, de gente caridosa que ainda existe, de gente do bem que ainda existe, gente mansa, generosa, grata, que ainda existe. Anuncie essas pessoas! Deixa essas pessoas entrarem nas águas do seu coração, e quando elas ali penetrarem, tal qual as tainhas, anuncie em alta voz que vem chegando vida, que vem chegando esperança, amor, paz, justiça, ética, mansidão, coragem, ternura, afeto, carinho, afago...
Suba no morro da cruz nessa noite, nesse dia, olha lá para a tua vida, naquela baía, naquelas águas, usando a metáfora da pesca, e perceba entrando por ela, as coisas que lhe fazem melhor, as coisas para as quais viver vale a pena, as coisas as quais você é mais convencedor por elas, e que talvez você tenha perdido a capacidade de vê-las, como qualquer pescador que ouse assumir aquele posto daquele olheiro que talvez passe dias ali e não consiga ver, porque ele não treinou o olhar dele. Você está treinando o seu olhar para ver. Você está treinando o seu olhar para ver o que, no lugar, ninguém está vendo, e você está vendo. E você está vendo!
Hoje eu vi fotos de minha diretoria participando de uma miniolimpíada, várias fotos de vários esportes.
De baleada à sinuca, à dominó, à xadrez, à natação. Mas eu vi mais do que o esporte, eu vi pessoas se juntando e se integrando, eu vi pessoas se abraçando porque venceram a competição, eu vi pessoas no final da competição se confraternizando, eu vi pernas de pau jogando futebol só para mostrar que estavam lá se unindo ao grupo... é muito mais que o esporte. Então, vejam o não visto, ouçam o inaudível, toquem o inalcançável, porque assim como esse olheiro desafia as leis da matemática, da lógica racional, com um simples olho, por uma simples mancha na água, que pode ser uma nuvem, pode ser sargaço, algas marinhas, pode ser uma variação de luminosidade oriunda do próprio sol... mas não!
Ele sabe a hora que é tainha, e ele grita “é tainha que está entrando”, e se a gente não correr, a gente perde a tainha.
Assim é com a nossa vida. A tainha entra, se manifesta, traz alegria, fartura, abundância, saciedade, e aí a gente fica pensando que amanhã vai ter tainha de novo. Portanto, para que eu vou me animar com a tainha de hoje? Gente, amanhã pode não ter, por isso saboreie, saboreie a tainha, saboreie o momento, aprenda a catar tainha durante o dia. É tão bom! Quantas vezes durante o dia do meu trabalho eu subo no morro dessa cruz e olho, o mar do meu coração, e fico olhando onde é que está a variação de cor, a variação para cima, de esperança, de júbilo, de entusiasmo, e eu digo “é ali, aquela tainha, aquela tainha vai me fazer caminhar mais uma légua, contar mais uma bênção”.
E está em todo lugar, gente. Capacita o olhar, treina o olhar, exercita o olhar, e eu volto a dizer: vai ter dia sem tainha nenhuma, vai! Vai ter dias de fome, de restrição, vai, vai sim! Mas não são só esses dias que fazem uma vida, eles são também a vida. Mas o problema é que a gente passou a aprender que a restrição, o medo, o limite, é o que move a vida, e não é. O que move a vida é a esperança. O que move a vida é a resiliência, é continuar acreditando num lugar em que todos desistiram de acreditar.
Então, mãos à obra! Finalizando, eu estou lendo um livro que é “Pare de reclamar e preste atenção às coisas boas”, e esse livro propõe uma atividade onde você bote uma pulseira toda vez que você for reclamar de algo, troca a pulseira de lugar no braço até que você consiga passar vinte e um dias sem reclamar de algo.
E lá no finalzinho, no último capítulo, o autor do livro conta a história das uvas, um ditado latino, agora eu estou sem o livro em mãos para poder ler para vocês, mas é um ditado latino que fala que uma uva quando amadurece, a próxima vê, e a acompanha também. No ditado latino: “Uva uvam videndo varia fit”, quando uma uva muda de cor a outra acompanha.
E aí, estudando esse ditado latino, descobri que isso é por conta de uma enzima. Quando aquela uva está mudando de cor, está maturando, ela está desenvolvendo internamente uma enzima, a enzima do amadurecimento, e aquela enzima, pelo ar, vai passando, de cada uma vai passando, vai passando e vai multiplicando aquele fenômeno do amadurecimento. De uma vai passando para a outra, o que em latim se diz “a cor”.
Eu convido cada um da gente a “mudar de cor” = amadurecer.
A transmitir, pelo exemplo, o bom, o belo e o virtuoso ao outro.
A irradiar comportamentos de esperança, paz, justiça e ética. A olhar para o outro e dizer “você pode, tente mais um pouco, você consegue, tenha calma, eu também já passei por isso, respire mais um dia, aguente mais um bocadinho!”. Aí vai passando para outra uva. O bem se transmite também! As pessoas dizem que a gente só aprende o mal, o bem se transmite também. Você transmite pelo exemplo o bem, de como você lida com as adversidades, as situações.
Eu imagino o quanto de crianças ansiosas, infelizes a gente está educando, está criando. Porque, na frente delas, a gente só reclama, na frente delas a gente só mostra ou traz dificuldades, na frente delas quando a gente fala do trabalho é sempre como o pior lugar do mundo, é sempre como uma tortura. Na frente delas a gente fala mal de todo mundo, nutre inveja, mágoa, então o que essas crianças estão aprendendo conosco?
Aprendendo esse modelo mental, estão aprendendo que a alegria é fugidia, que a alegria é um sopro, que a esperança é uma utopia dos bobos, e que o mundo é bravo, é ruim, e só vencem os fortes.
Elas aprendem isso. E vão ficar crianças ambiciosas, ansiosas, que vão conquistar muitos bens materiais, mas não vão conquistar a paz no coração, a felicidade de um domingo qualquer num lugar qualquer, tomando uma água qualquer e sentir que ali está em paz, está pleno como ser humano.
Então, lá do alto do morro da cruz onde eu olho na baía entrando a tainha, e que eu anuncio as coisas boas, belas e virtuosas, e digo “corram, está ali! Corram, está vindo ali, joguem as redes, não é hora ainda de desanimar” eu também estou educando todo mundo que convive do meu lado.
E vocês não tem ideia gente, do quanto tem gente querendo desistir, do nosso lado, e que dá aquela carinha, dá aquele sorriso amarelo, que só vem até cento e vinte graus, e às vezes a gente pode ser esse olheiro que olha para essa pessoa e diga “olha, na tua vida tem tainhas, tu não percebeu ainda não?”.
“Não Ricardim, cadê as tainhas da minha vida? Minha vida só tem problema”.
- Calma, você é mãe. Você sabe quantas pessoas tentam ser mães e não conseguem ser mães? Você é mãe! Então, não diga que na sua vida só tem problema, diga que existem problemas em sua vida, mas que só tem problema não, não generalize!”.
Nunca generalizar uma situação problema, alastrando-a para toda a vida é ser como o olheiro no alto do morro.
É dizer para as pessoas que às vezes nem elas mais percebem, como seres de bênção, de oportunidades, porque a dor delas é a maior, a perda delas é a maior, a preocupação é a maior, e tudo vai sendo colocado numa escala fora de perspectiva.
E às vezes precisa de um olheiro, um sábio pescador, que do alto de um morro, na transcendência diga: “tenha calma, olha as tainhas lá na tua vida! Joga as redes! Não desanima não, eu sei que tem áreas que não estão legais, mas não são todas elas! Para muitas ainda existem coisas boas que você pode aproveitar enquanto encontra forças para encarar as nem tanto (boas). Tenha calma! Tenha calma! Não se perca de você mesmo!”.
Há um monte de coisas que todos os dias entram na baía do nosso coração e nós não percebemos.
Porque no modo preocupação e ansiedade, teclado, que eu chamo “modo murchar”, a gente olha para aquela baía e não vê variação nenhuma de cor. E na nossa vista, a indiferença cegou tudo. Os olhos opacos da indiferença não nos capacitam mais a ver as diferenças, as diferentes texturas na água, as diferentes volumetrias com o nado das tainhas, entendendo pela metáfora que eu venho falando.
Este é o apelo: transcenda. Não perca a capacidade de transcender, não perca a capacidade de olhar para as situações em perspectiva. E quando você olha em perspectiva, você as coloca dentro da prumada, dentro daquilo que realmente elas podem produzir de negativo para você, e você pode lidar com a situação.
Não se perca, tem muita tainha entrando todos os dias na nossa vida, e a gente sem lançar as redes para aproveitar delas, sem aproveitar esta gratidão de viver, sem aproveitar essa abundância do ar que respiramos todos os dias, do sol que nos banha todos os dias, das flores que quer a gente esteja mal humorado, de TPM, com saco cheio elas estão abertas todos os dias se oferecendo para a gente.
Há muita tainha entrando no rio da nossa vida. O problema está nos nossos olhos.
O problema está nos nossos olhos! E os nossos olhos precisam de colírios para nossa vida, para a gente tirar o embaçado deles, para que a gente possa, de novo, nos assombrar, de novo, nos abraçar e dizer “tu é arretado, que coisa bacana, olha quanta coisa bacana está acontecendo, olha para isso, olha para aquilo, tu és mais que vencedor!”.
Por que se combate, oh minha alma, por que se abate, oh minha alma, por que se prostras no canto de uma estrada, chorando sozinha nesta noite, neste dia, oh minha alma?
Olha as tainhas em teu viver, olha quantas coisas tu tens, que são bênçãos, são dádivas, e anuncia essas coisas, para que os outros também possam vê-las em suas vidas.
Para que a sua felicidade não fique só sua. Porque o olheiro de tainhas que não conseguisse gritar para o barco seria o mais infeliz do mundo, seria o mais frustrado do mundo. A realização dele não está em ver a tainha, está em anunciar que elas existem para que outros possam colher. A nossa satisfação está em anunciar o bom, o belo e o virtuoso, anunciar a esperança, anunciar que por maior que seja a situação limite, ainda sim nós podemos mudar nós mesmos diante dela, pela autonomia e liberdade do ser.
Nós podemos mudar ela mesma, encarando-a de frente, e transformá-la, ou nós podemos nos mudar desta situação.
Neste dia, suba no morro da cruz e veja o monte de tainhas entrando na sua vida. Mas não fique só na visão, use seu celular, rádio amador, bata bumbo, jogue fumaça, faça qualquer coisa, mas anuncie para o outro, para que o outro possa beber da sua graça, da sua dádiva.