Sentido do Trabalho
Seu maior orgulho, a carteira de produtor rural. De uma pequeníssima
propriedade de 8 hectares, que comprou com o salário de dez anos de lida
como vaqueiro, em fazenda de rico fazendeiro. Fazendeiro que ao morrer,
deixou seu filho cuidando de seu ponto de feira. E que, há 6 meses, o
presenteou o ex-vaqueiro de seu pai com aquele lugar. Seu pai deve estar
orgulhoso. Agora, aquele mísero produtor rural virara um feirante. E
aquele feirante é todo dignidade, todo esperança, esperança
de quem, tomado pela coragem de perseverar, ver-se subindo devagarinho
a escada da vida. Sua paz e tenacidade exalam, dão um conto de
Cervantes. Hoje, pediu-me para que eu o retratasse, junto ao seu
altazinho de produtos da terra, ao lado dos frutos de seu trabalho:
queijo, farinha, tomate, macaxeira, abóboras e bananas. Domingo passado,
o flagrei de ao longe atendendo uma cliente idosa, que procurava o
dinheiro e não achava. Ela estava querendo levar dois litros de leite.
Ele perguntou-lhe quanto ela tinha, e vendeu-lhe o leite pelas moedas
que ela achou na bolsa surrada. Deu-lhe um enorme desconto. Hoje, ele me
contou que ela voltou para pagar-lhe. Mas que ele não aceitou. Ele
disse-me que recebeu muito da vida, e que sempre que pode divide um
pouco com os que estão mais necessitados do que ele.
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