Cartas ao JG - Seja Feliz!


Você acordou bem cedo, adivinha que é sábado e quer curti-lo por inteiro. Na segunda é aquela luta para ti tirar da cama. Mas, nos sábados e domingos você madruga. Seu despertador biológico lhe acorda para aventuras.
E nós, seus pais, ainda insones vamos acordando junto. Aproveitei e te mostrei o sol nascendo.
Você me enche de perguntas, de onde ele veio e coisas e tal: do tipo, quem acende a luz dele.
Pego a mais fácil, e me desvencilho: veio da China. Made in China.
Pronto, me sarfei de mais uma. Tuas perguntas vão ficando cada vez mais difíceis.
Você está serelepe para ir acordar o amiguinho Gustavo e irem juntos ao treino de futebol.
No carro uma algazarra de dá gosto. Você combinando com o Gus os passos, as jogadas. É o segundo treino do Gustavo, você já é veterano por lá.
Assisto um pouco do treino, e caminho pela horta em busca de meu amigo jardineiro o Sr. Valdir. Sempre dedico uns minutos de prosa com ele.
Volto a tempo de fotografá-los nos pênaltis, você e o Gustavo. O time de vocês perde no jogo oficial, de 11 a 8. Perdem de virada. O sábio técnico sempre faz uma disputa de pênaltis. Numa última tentativa do time perdedor se redimir. Não deu certo. Vocês estavam verdadeiros pernas de pau, contudo terminaram a série felizes e exultantes, mesmo perdendo. Sabem que outros sábados virão. Ainda não aprenderam a ficarem tristes por bobagens, a se frustrarem por coisa pouca. Ainda bem. Tomara que não aprendam nunca.
Chegando em casa, o tio Guga nos chama para um banho. Só temos uma hora, sua mãe precisa revisar os conteúdos para a semana de provas. Aproveitamos bem essa uma hora, e você brinca bastante. Seus irmãos estão na piscina também. Uma festa só!
Da próxima, que tal chamarmos o Gustavo e seus irmãos? Seus amiguinhos da casa ao lado.
Você se esforça bastante estudando. Sua mãe com uma paciência de Jó soletra com você famílias de palavras da série do V, S, X e Z.
Perto das 16hrs termina tudo. Ela sai para as unhas e você me chama para brincar.
Me dá uns bonecos do tipo transformers e agora somos só imaginação. Lutamos um monte. Depois vamos brincar de pula corda.
À noite, descansamos na calçada da casa, esperando a mamãe, e olhando pra lua. Você aprendeu a admirá-la também.
Até que uma formiga me pica, eu saio correndo e você sorrindo atrás.
Mangando de mim.
Aproveito e te dou um jantar daqueles. Uma colherada eu dou, a outra você finge que come. Te conheço. Menino difícil para comer meu Pai!
Sua mãe chega e começa a segunda série de estudos.Você aguenta uma hora. Levamos bronca, eu e você, por termos brincado muito e você está com sono, sem pique para os estudos. Sua mãe nos bota para irmos dormir.
Te coloco na cama e te enlaço junto a mim. Ficamos ali, cúmplices, por uns instantes, até que você dorme.
Saboreio cada momento como se dele fosse me esquecer tempos depois. Escrevo para me lembrar. Esqueço mesmo.
Ter memória curta me ajudou, louvo a ela. Agora, por saber que posso esquecer, vivo momentos como esses com um deleite invejável. Antes eu os deixava passar, achava que teria novamente eles, ou que as preocupações é quem deveria tomar a agenda de minhas emoções, completamente, e nunca relaxava.
Engraçado, foi o melhor teste de estresse que tive na última sexta feira. Sempre nos periódicos de saúde eu recebia o texto no nível de quase exaustão de estresse.
Nesse tirei um notão.
Será, filho meu, que teu pai está aprendendo a relaxar e aproveitar as boas coisas da vida? Na hora em que elas acontecem, sem antecipar desgraças, ou trazer a valor presente as aflições do dia de amanhã?
Agora, quando brinco de bonecos transformers esqueço de tudo. Quando eu brinco, eu brinco.
Você sabia, filho meu, que 40% de nossa sensação de felicidade dependem exclusivamente de como percebemos e processamos a nós mesmos, aos outros e à realidade?
Quando for grande compre os livros da Sonja Lyubomirsky, ela ensinará melhor do que teu pai.
Sabe JG, perdi muito momentos como os que vivemos ontem.
Eu melava os momentos com todo tipo de poeira emocional que entrava como um cisco no olho de meu coração e encobria minha visão.
Ansioso demais, exigente demais, perfeccionista demais. Nem mal acontecia uma coisa boa, eu já ficava ansioso pensando nas próximas etapas, não desligava e curtia o presente, o agora.
E, ele ia passando.
Sempre adiado, achando que no futuro viveria aquilo novamente. Sei!!
Ontem, perto das 16h45min fomos às escondidas dá um último mergulho na piscina da casa de tio Guga. Uma operação e alto risco, tua mãe acabara de sair para as unhas e mercado. Mas quando chegasse se descobrisse ficaria brava. Afinal, você adiou o sono e como estudaria á noite.
Piscina, chama sono. E sons, adia estudos.
Mas fomos. Chegando lá, todos teus irmãos estavam na água. E teu tio, bem zen, idem.
Zen de cerva. Rsrs
Foi um momento tão belo, de união familiar e integração. Nem sempre comum. Quando voltamos ainda pegamos o pôr do sol.
Tá certo, você dormiu mesmo, mas hoje pela manhã, nesse amanhã de domingo, já recuperou-se e superou a noite sem estudos.
Aquela tardinha de piscina não voltará. Pense sempre nisso quando ler essa carta: a vida é breve demais para ser pequena.
Seja grato, ao tio Guga pela piscina e convite. Aos teus irmãos, noras e genro pro tantas brincadeiras e tempo dedicado a você, a tua mãe por pacientemente te ensinar a cuidar de ti, aos teus amigos: Gus e Rafa , ao teu professor de futebol, ao teu cachorro Balu, ao tu pai e brinquedos de pular corda, de sucata e de um tudo. Três lições de um sábado mágico:
1. Seja Grato
Aprenda a olhar as coisas boas da vida. Um nascer e pôr do sol, uma lua, uma formiga defendendo-se da bufança de teu pai sobre ela, teu pai arfando pulando corda.
Admire as pessoas. Goste delas.
Agora, enquanto escrevo, tomo um licor presenteado por uma senhorinha especial. Licor de jabuticaba. Sinto cada aroma e sabor. Antes eu engolia de um gole. Agora sorvo lentamente.
Curto cada nota de sabor. Assim sendo, vou cultivando em mim encontros de paz e felicidade.
Breves encontros, instantes mágicos que vou colecionando ao longo do dia.
Agora conto e registro minhas dádivas, tudo de bom que vejo ou tomo parte ao longo do dia.
Agora procuro devolver pra vida o que ela gratuitamente me dá todos os dias.
Agora, enquanto te escrevo sinto que posso colocar minhas tristezas, quebras de expectativas, frustrações e problemas de todos os tipos num quarto de meu coração.
Deixá-los por lá um pouco, enquanto abro a varanda para a vida que por ela vale a pena viver. Não que eu não tenha de abrir o quarto, ou esteja fugindo dele, mas o problema é você deixar que o cheiro podre da ansiedade e estresse invada todas compartimentos e recônditos de teu coração. Aí tu perderá a paz, e a capacidade de observar o que ainda está legal em teu viver.
2. Perceba o Bom, Belo e virtuoso em todo lugar e situação.
Aprenda a contabilizar as sobras, e não as perdas. Aprenda a perceber o bom, belo e virtuoso. Abra sua mente. Seu boneco com um braço quebrado foi o suficiente para te elevar em imaginação. Um simples pula, proporcionou-lhe mais momentos de satisfação do que se tivesse guiando um carro de luxo, acredite.
Não se contente em ser infeliz. Ser feliz é decisão. Aprenda isso. Decisão racional. Que aprenderá ao reprogramar seu cérebro para ir além dos limites, perdas, restrições.
Pare de procurar razões para ser infeliz, para justificar sua tristeza. Pare de procurar receber afagos da vida bancando a vítima. Não faça isso.
A vida passará e você acordará melhor, num belo dia, e verá que enquanto estava de péssimo humor, perdeu de vê-la em várias cenas.
Ninguém será responsável por tua felicidade. Ninguém. Não a terceirize.
3. Cultive Emoções Positivas
Engaje-se com a vida. Viva causas, projetos e sonhos. Entregue-se ao que te faz esquecer do tempo, ao tempo do ágape, o melhor tempo.
Mas, para isto, deixe de ruminar infelicidades, mágoas e melecas emocionais de todos os tipos.
Deixe de ruminar infelicidades. Repreenda emoções ruins: mágoa, inveja, ódio.
Alimente emoções boas: esperança, paz, satisfação, amor, perdão, aceitação e generosidade.
Somos em comportamentos o que habita em nossas crenças. Mude as crenças sobre si mesmo, os outros e a vida.
Alimente esperanças frágeis, nine sonhos assustados, proteja prazeres vadios.
Cuide-se para não embrutecer, não entristecer de vez, ficando um adulto chato, rabugento e cheio de razões.
Carregue uma mala pequena na vida. Menos tralhas e tranqueiras emocionais.
Abri um álbum sobre esse sábado. Quando sentir saudades de seu pai, veja as fotos que deram vida a este texto.
Seja feliz, o que não significa ter dinheiro, filhos, mulher, saúde ou um bom emprego. Um dia aprenderá o porquê!

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