Aprender a Servir

Na minha eclética vida religiosa, alternando entre a missa matinal e o culto noturno, uma cena sempre me chama a atenção e me assombra ao coração.
No culto da Ceia, nos primeiros domingos, lá na Metodista do Jardim Botânico-DF, após a Ceia as crianças saem recolhendo os copinhos.
Prestem atenção nessa foto. Ela foi clicada num instante mágico. Pare de ler, e olhe profundamente a foto.
Na foto, três crianças. Ao fundo, o meu JG sorrindo. Doando copos para a pilha, um menininho de camisa verde. E menina de laço no cabelo toda feliz em poder servir, recolhendo os copinhos.
Aliás, na cena todos estão servindo.
Não meus amigos, não pensem que o JG e o menininho também não tinham suas pilhas de copos.
Eles tinham. Mas, a brincadeira não era ver quem acumulava mais copos e ganhava do outro.
A brincadeira era cooperar, era rapidamente recolher o maior número possível, ajudando para que tudo ficasse em ordem.
Reparem a expressão do menino de verde. Nem um apego, nenhuma disputa, apenas contribuição. Doação genuína de si mesmo, de suas posses (os copinhos), para algo maior, a pilha da menina.
Reparem no rosto da menininha, você ver a graça de Deus? Eu vejo.
Reparem no sorriso, fraterno e solidário, do JG. Que estava segurando sua própria pilha, e em nenhum momento fez expressão de quem "tinha perdido". Ou disputou os copos do menininho de verde.
Esses valores precisamos ensinar a nossas crianças. Não achar que tudo é papel da escola e terceirizar nossa responsabilidade.
Numa sociedade tão individualista e gananciosa, ensinar a servir é imperativo.
Ensinar a conviver, ensinar a ser grato, ensinar a ajudar nas tarefas domésticas, ensinar a respeitar os mais simples, ensinar o valor do esforço e disciplina, diante das tarefas escolares.
Ensina o amor, a amar, a perdoar, a ser solidário e distribuir o que tem demais, de brinquedos a roupas.
Nunca esqueci minha mãe sempre arrumando mais um prato de comida, para quem passava na porta lá de casa pedindo.
Muitas das vezes, tudo já tinha sido consumido, e ela ainda dava um jeito de colocar algo na latinha de doce que o pedinte oferecia.
Minha mãe ensinou-me, com seu exemplo, a partilhar.
Meu pai ensinou-me a acolher. Recebia como ninguém em nossa casa. Esforçava-se para que todos estivessem bem. E a cada um tinha uma atenção especial, perto de papai ninguém é estrangeiro.
Podemos ensinar às nossas crianças muitos valores, que uma vez aprendidos, pela força do exemplo, delas nunca mais sairão.
Quem aprende a servir copinhos, num ritual religioso, aprende a servir justiça, paz e amor para quem com ele cruzar.
Quem aprende a receber copinhos, numa postura de acolhimento, aprende a ser grato, a alegrar-se com pequenas coisas, a em tudo perceber o traço de Deus.
Quem de longe, olha vibrando, aprende a alegrar-se com a alegria do outro, aprende o valor da empatia, aprende a ser nós, e não eu. Aprende que para fazer gol não precisa estar jogando.
Muitas das vezes, só em não atrapalhar, já fazemos gol.
É urgente voltar a ensinar valores do Ser aos nossos filhos.
Para que não venham a tornar-se gerentes autoritários, profissionais que trabalham sem sabor, ou omissos cidadãos. Valores tais como:
O de ser contribuição é um ensinamento digno da paternidade e maternidade.
O de ser cooperativo, solidário e amigo, são ensinamentos que farão toda a diferença, em todas as etapas e situações de nossa vida, ouso dizer.
O de saber perder, lidar com limites e frustrações, ou até decepções. ou seja, saber que mais importante do que valorizar a queda, é concentrar forças no levantar-se. E, aprender com ela.
Nessa foto têm os valores acima: tem o da perda, quando JG poderia ter recebido os copinhos do amiguinho, e ele optou pela menininha.
Têm o da cooperação, amizade e solidariedade. Tem o de ser contribuição, muitas das vezes só torcendo pelo que está acontecendo com o outro.
Bela foto, belos exemplos para nós, que vamos desaprendendo tudo isso, pouco a pouco, ao cruzarmos com exemplos ao contrário que acabam por também nos inspirar, ou influenciar, o que é uma pena.
Sirva seus copinhos. Acolha com alegria os copinhos que recebe. E torça, mesmo de longe, por quem está com a pilha de copinhos bem alta, "batendo a meta. " Converta a metáfora para todas as áreas de teu viver. E serás mais feliz, garanto-lhe!
Foi isso que hoje aprendi e contigo compartilho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é uma honra.

Crônicas Anteriores