Derrapadas nas Curvas da Vida


Há momentos na vida em que acontece de se derrapar na curva, tal qual esse meu vizinho que graças a Deus os pinheiros amorteceram o impacto da queda e ele não se feriu gravemente.
Ele cochilou, voltando dos embalos de sábado à noite.
Têm momentos em nossa vida que derrapamos, emocionalmente falando.
Que sobramos na curva e parece que tudo não faz mais sentido, e que recomeçar é difícil demais, quase impossível.
Nos vemos tal qual esse carro, sem forças para sair do buraco.
E, nosso instinto de sobrevivência fica lutando para dali sair, e cada vez em que não conseguimos, mas atolados vamos ficando, nos sentindo impotentes conosco mesmo, e chateados.
Existem muitas situações que provocam em nós essa sensação a de que derrapamos, emocionalmente falando, e estamos no fundo do poço.
Uma separação, não estas separações globais. Que na semana vindoura ambos já estão em Caras e bocas com outras(os).
Falo de separação real, daquelas que sempre dói, e muito.
Existe derrapada pelo luto da morte de um ente querido.
Ou aquela derrapada de não conseguir algo muito desejado, e para o que muito se trabalhou.
Outras pelas dores de amar, seja por um amor não correspondido; seja pela de um amor impossível.
Existe ainda a derrapada do trabalho, quando cheios de obrigações a pagar, filhos a criar, e já na idade adulta, perdemos o emprego.
Ou, ainda no trabalho, quando vamos perdendo o encanto, o prazer e nós sentindo vampirizados emocionalmente pela empresa, chefe, colegas e a própria natureza do trabalho.
Como podem ver, queridos amigos(as) são muitas formas de derrapar, na curva da vida.
Na hora em que derrapamos, é preciso abrir uma caixa de ferramentas emocionais que vão nos ajudar a sair do carro e chamar o guincho, entende a analogia?

O que tem nessa caixa de ferramentas?

A primeira ferramenta é a do acolhimento. É de acolher o sofrer. Acolher a tristeza e pesar. Parar de lutar contra ele. A tristeza faz parte de momentos de derrapada emocional, doente estaria se triste não ficasse. Então, primeira recomendação, acolha a dor.
Ela é só sua, e de mais ninguém, como diz a canção. Ninguém, por mais íntimo eu que seja, poderá sentir o que sentes no teu entristecer. Cada um vive, talvez a mesma cena, de forma diferente. E, talvez até alguns passem por elas sem sobrarem na curva e derraparem. Mas, você sobrou, então acolha-se. Não acelere seu processo de pesar. Não apresse o rio. Nem ache que está doente. Tristeza não é doença.

A segunda ferramenta é a de contabilizar as sobras. O que você ainda pode fazer, apesar da situação, dado que ela não poderá mudar. Se não podemos mudar uma situação, ainda assim podemos mudar a nós mesmos, diante dela, sobre a forma pela qual ela nos impacta. Esse é um processo racional. Você debatendo consigo mesmo. Eu sei que sofre. Que a dor de tua mãe que faleceu tira toda a vida de teu viver. Que a dor do emprego perdido, no momento que nem esse, tira qualquer centelha de otimismo. Eu sei. e acolho contigo essa dor, e mais tantas outras que você esteja passando. Só digo-lhe que contabilizar as sobras não é negar a dor. Não é sair sambando no asfalto, fingindo que nada lhe aconteceu. Contabilizar as sobras é se perceber como um corajoso viajante, dia a dia, cumprindo sua jornada no vale de lágrimas. É ver que ainda resta-lhe áreas da vida que não foram tolhidas, naquela curva. E, começar a investir nelas. Primeiro acolhemos o sofrer. Depois, chega hora, de darmos uma resposta ao sofrer. De proteger nosso ferimento emocional com curativo,para que não volte a infecionar. Nesse omento é de fundamental importância não se alimentar de pensamentos ruins, leituras deprimentes, músicas da mesma espécie, e até pessoas. Têm pessoas que adoram desgraça. E, ficam mexendo na ferida, só para se nutrir da dor do outro.
Afaste-se delas. Se ajude. Faça coisas não desejadas, como se fosse remédio que tomasse. Por exemplo, não negar a todos os convites para sair com os amigos. Eles sabem que você está triste. E não vão querer tirar esse seu direito. Só querem estar ao teu lado. Combine isso com eles. Faça uma espécie de contrato de que certos temas não devem ser tocados, e que você não estará muito para papo. Mesmo assim, se forem teus amigos, só pelo prazer de sentarem à mesa contigo, eles toparão. Aos poucos. Se na primeira ferramenta é você quem opera. Na segunda é a vida. A vida é terapêutica. E bons amigos são fonte de vida. Permita-se a vida. Leve-se para passear. Tomar sol. Visite alguém que precisa de você, doe-se ao outro. Verá que voltará um pouco melhor.

E a terceira ferramenta é a espiritualidade. É sentir-se amado(a) pelo bom Deus. É saber que se não morreu naquela curva é por que algo de bom vai acontecer. E que, isso que sofre no momento, passará. Que amanhã será melhor. Que você dará a volta por cima. A esperança é um valor da espiritualidade. A esperança é o cabo de aço que nos puxa do buraco. Um dia atendi a uma pessoa que perdeu o emprego, de forma bem dramática. 

Eu dizia para ele: "Pense como num game, você está numa fase ruim, que é difícil mudar dela, e se sente impotente, sem ver futuro ou perspectiva. Mas você é forte, é corajoso, tem disciplina, e pode se preparar para mudar de fase, mesmo que ainda viva algum tempo nessa fase ruim. Um dia quero receber um email teu assim: Ricardim, mudei de fase." Confesso-lhe que guardo esse email até hoje, ele mudou de fase, e para melhor. Não sabemos a força que temos de mudança, quando pedras são atiradas a nós, muros são erguidos, ou em poços profundos a vida nos meteu, só sabemos de uma coisa, a força de transformação de um ser humano que passa por dificuldades é tremenda. Esse ser humano, com os joelhos no chão, se restaura. Dele brotam renovos, e ele faz daquelas pedras que a vida lhe atirou um altar de esperança, ou uma ponte para o futuro.

Resumindo, se você se sente como quem derrapou numa curva e caiu num buraco, do ponto de vista emocional, abra sua caixa de ferramentas.
A primeira dela chama-se acolher. Compreender-se em seu sofrer. Não se chicotear.
A segunda delas chama-se fazer algo com o que restou, contando com a ajuda dos amigos. Ir, lentamente, saindo da posição de vítima da situação, e reassumir o leme do barco de seu viver.
A terceira delas chama-se a força dos valores, um de seus cabos de aço: a fé. Os valores saram feridas. O valor da gratidão. Da doação de si mesmo ao outro, mais necessitado. Talvez, seja pela espiritualidade, que saibamos a hora de fechar janelas, virar páginas, e cuidado novamente de nós mesmos, tolhidos pelo vendaval do luto. Quer seja pela força do perdão, quer seja pelo cultivo da confiança e auto-estima, quer seja pela entrega do sofrer ao Senhor Jesus, em ação de graças. Sim, amigos e amigas, em tudo dai graças. Afinal, tudo passa, nós passarinhos, e pássaros de uma terra santa.

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