Há uma pessoa MH370 perto de você

Eles não têm nome, histórias, 
cenas de vidas sendo evocadas
nas redes de TV.
São simplesmente os 239 
passageiros do voo MH370, 
da Malaysia Airlines, ainda desaparecido.
Perderam suas identidades. 
Viraram um número, uma estatística.
Quem são? 
Quais seus sonhos?
O que faziam? 
Quem são suas famílias?
Silêncio.
Reduzir a dor a um número é uma estratégia perversa para anular autonomias, isolar sofreres e 
banalizar o luto.
Viramos um número, numa 
prancheta de prontuário, ou uma matrícula numa Corporação 
qualquer. Despersonalizados.
Há momentos em nosso viver que ficamos assim, tal qual o MH370.

Ficando sendo chamados como os 239 do MH370.
Sem face, expressão, 
isolados e perdidos.
Todos se afastam.
Cansam de nós mesmos e de nosso estado de humor, de sofrimento ou perda.

Cansam de nossos vícios, comportamentos e atitudes.
Deletam-nos de seu GPS existencial.
Desistem de procurar-nos, buscar-nos para um encontro, aconchego ou um afeto despretensioso.
Não se cansem em participar das buscas pelos seres humanos.
Andamos muito sozinhos,
Andamos muito MH370.
Mesmo quando todos ao lado desistiram.
Mesmo quando todos ao lado desanimaram.
Acreditem nele. 

Naquele que todos dão por perdido.
E em seu potencial de transformação.
E o busque mais uma vez.
Muitas pessoas ao nosso lado precisam serem resgatadas.
Precisam de nosso apoio, luz, força e fé.
Estão apáticas, órfãs de si mesmas, sentido-se desamparadas.
São do voo MH370.
Vocês têm o dom de tocá-las, de buscá-las, de ampará-las em seus seres.
Há muitos invisíveis perto de vocês. Pessoas humildes, simples que acabam passando em nossas vidas como móveis, utensílios domésticos, ferramentas, ou seja, coisas. 

Excluídas da vida, condenadas a uma espécie de morte, morte social.
Deem vida às pessoas invisíveis.
Não desistam de sua busca.
Não desistam ainda.
Tentem mais um pouco.
Amem-as incondicionalmente, bobamente, estupidamente!
Mas, repito-lhes, amem-as.
Só o amor pode transformar vidas
e devolver identidades.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é uma honra.

Crônicas Anteriores