Tempos Modernos



Neste domingo de páscoa reflito sobre os três ídolos modernos, que nos afastam de Deus:

- O narcisismo, e aqui faço uma pausa, não tem a ver com auto-estima. Narcisismo é a doença do eu, centrado em si mesmo. Auto-estima é a confiança e o gostar de si mesmo, incluindo no gostar o outro. Quem tem auto-estima boa tem empatia pelo outro. Um dos sintomas do doente de narciso é a falta do alegrar-se com a conquista do outro, com suas felicidades e bênçãos. Mesmo que não chegue a ser inveja. Trata-se de um sutil sentimento, "meu pirão primeiro". E, como o do outro chegou na frente, finjo não o ver. Ou, passo longe dele. Isso quando não o secamos numa frustrante inveja. Somos menos indiferentes a um outro que chora, do que a um outro que sorri. E, a indiferença é o pior tipo de ódio.
- A ingratidão, quando tocamos nossa vida sem levar em consideração tudo que para ela existir teve que apoiar, ajudar, estimular e se doar. O jogo termina, celebramos a vitória, mas esquecemos de quem manteve os vestiários limpos, nossa roupa lavada. Parece que merecemos tudo, e, por merecermos, pra que dizer obrigado? O café quentinho ao amanhecer parece que sempre esteve ali, virou um móvel, uma coisa, não é mais percebido como um pequeno prazer. Uma gota de felicidade seria suficiente para mudar nosso humor, mas vivemos em busca do copo cheio, assim, tudo nos falta, nada nos sacia. Quantos cristãos lembraram-se hoje e lhes foram grato, a quem renasceu por eles. Entre uma garfada e outra, uma dose e outra, quantos cristãos louvaram ao seu Deus que os redimiu na cruz?

- A falta de doação, de generosidade. Uma sociedade perversa que desaprendeu a doar, se é que já o fez, e a ser solidária. No lusco-fusco das mídias sociais, doar-se é ser frágil, piegas, quase um pamonha. Hoje ensina-se em todas instituições educativas: família, escola, igrejas, trabalho para a prosperidade. Ensina-se a ter, como ter. Aprende-se a reter, a acumular, a amealhar, mesmo que não nos pertença. Doar tempo de afeto ao outro, doar conhecimentos, doar atitudes, doar bens, doar compaixão... tão difícil. Na Selva Social em que nos tornamos, parar e solidarizar-se com o outro é uma utopia cada vez mais distante. Doar abraços, bom-dias, eu te amos, confio em ti... doar de nós mesmos numa TXAI.

Admiro e curto meu sapato rasgado. Posso não ter todas as respostas, não ser exemplo para muitos, soar estranho para outros tantos, mas o sapato rasgado, das lutas pelos ideais que acredito, tornam meu caminhar coerente. Posso não saber direito os caminhos, mas sei que não vou pelos dos ídolos do homo-selfie (narcisismo), do homo-ingratus e do homo-cofre.

A quem me diz, vem por aqui, digo-lhe, vou não!. Prefiro caminhar com sapatos gastos, porém confortáveis, do que usar os que todos os dias me oferecem para calçar: belos e vistosos, que junto a eles vem a renúncia aos valores que ainda acredito.

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