Férias com meus pais.


As micro-férias que tirei chegam ao seu final. De segunda à sexta, vivi intensas emoções.
Pela primeira vez, desde que me entendo por gente, não tirei férias na companhia de filhos ou esposa.
Eu tinha um resto de férias a gozar e aproveitei a presença de meus pais em Brasília-DF para tirar férias para eles.
Sim amigos, tirei 5 dias de férias para meus pais.
Durante o dia, enquanto a esposa trabalhava e o pequeno estudava, eu, papai e mamãe batíamos pernas pelo DF.
Nunca tinha tirado férias para eles. 100% disponível e envolvido com uma programação que fosse confortável para eles e legal.
Ambos beiram os 80 e montei uma agenda que não lhes desgastassem muito.
Logo cedo, saíamos juntos para deixar o JG na escola. Depois, seguíamos para "minha" padaria e tomávamos um delicioso café.
Depois, sem pressa alguma, cumpríamos a agenda na véspera planejada: Visitar o meu trabalho; a igreja de Nossa Senhora da Esperança e a feira dos importados. Ou, padaria, Santuário da Mãe Três Vezes Admirável, e Feira do Guará. Ou, mais ousado ainda, visitar o Santuário do Menino Jesus de Praga, em Brazlândia.
Vivi um monte de experiências legais. Como a de levar meus pais para visitar meu trabalho. Coisa que com 30 anos de empresa nunca houvera feito.
Senti-me bem cuidando para que mamãe coma um pouco mais. Era como se ela tivesse virado filha e eu insistindo para que ela se alimentasse melhor.
Ver os olhos de papai faiscando em lojas de ferragens era uma delícia. Parecia com os de criança nas de brinquedos.
Sua paciência com mamãe ensinou-me tanto. Mamãe anda esquecendo por onde já caminhou e se perde. Papai seguia-lhe ao longe.
E eu junto. Ela não aceita que se perde e gosta de olhar as vitrines sozinha.
Eita como ficávamos aflitos com medo de perdê-la em algum corredor da Feira dos Importados ou na do Guará. Fomos salvos por alguns "atchins" dela. Era quando ouvíamos os espirros, e sabíamos em que barraca ela estava. Ela tem alergia à mudança de clima.
Depois da agenda matutina, almoçávamos no caminho e voltávamos para casa. Aí, nós todos íamos dormir, até as 16 horas.
Depois, um café bem passado caia bem, e papai ia aguar as plantas, e mamãe ia rezar o terço, ouvindo belas canções de igreja. De perto, ficava curtindo tudo.
Durantes as noites eu ia lecionar, deixando-lhes com minha esposa e o JG. Na única que tive livre, a da quinta, fizemos um churrasco de chão e batizamos a noite de nossa festa junina. Convidamos os sobrinhos, os outros filhos e o vizinho e a festança foi até tarde. Com direito a milho assado na fogueira e bandeirinhas.
Sentirei falta. Não acessava redes sociais, escrevia textos ou arrumava minhas tralhas em casa, e olha que são muitas e pedem umas férias para serem arrumadas.
Não. Eu queria estar 100% presente e disponível para eles.
Viver uma experiência nova. Confesso-lhes que às vezes ficava com a cabeça latejando de tanto que mamãe conversa e com suas narrativas helicoidais, com várias aberturas de outras histórias dentro da história.
Mamãe com dificuldade de locomoção, era um caso a parte. Nossa caminhada adequava-se ao ritmo dela. Um dia eram seus joelhos, outro os ossos dos quadris.
Acompanhá-la, estacionar o carro em áreas mais fáceis para ela sair do carro, foram para mim preciosos ensinamentos.
Já papai não tem joelhos doentes, mas tem uma mania de "tirar" onda com todo mundo. Mas, nada pesado, ou preconceituoso, longe disso, só uma maneira de descontrair o outro, tipo um quebra-gelo.
Eu ficava apreensivo, temendo que algum atendente o trate mal, por não saber lidar com um cliente que brinca. "Dona Juliana, a senhora é das que soma, na conta, a data também?"
- Papai!!!
Vez por outra o clima entre eles fedia.
Um falava, e o outro rebatia. E começava a briga:
- "Evandy, você está monopolizando a conversa".
- "Denise, só consigo falar entre suas respiradas."
Algo assim.
Sempre procurava locais, perto das 10hrs que tivesse banheiro. Banheiro é item de primeira necessidade para idosos.
Depois, do roteiro espiritual, leva-lhes às compras.
Nada sofisticadas, pequenas compras de artigos dispensáveis. E de baixo custo. Só pelo prazer de vê-los caminhando e olhando as "mercadorias".
Mas, percebi que poucos sabem lidar com idosos. Não tem paciência e não se esforçam para entendê-los.
Outros, agem de má fé, empurrando mercadorias neles, para cuja compra falta-lhes o aparato cognitivo que os ajudem a discernir.
Mas, tirando isso, o que eles querem mesmo é atenção e acolhimento de suas histórias, mesmo que narradas pela 10 vezes no mesmo dia.
E, eles não se cansavam de ouvir as minhas, sempre com um orgulho irreparável.
- "Seus alunos fizeram um vídeo para você?" Conte-nos como foi."
Repetirei a dose. Sem filhos, esposas, amigos ou afazeres pessoais.
Com a atenção plena para suas necessidades e expectativas de lazer. Abrindo-me a essa mística experiência do reencontro, de um filho com seus pais. Sem nada para fazer antes, durante, nem depois. A isso chamo amor!
E você, se ainda pode, já tirou as suas?
Tire logo, não espere como eu esperei por tanto tempo.
"É melhor do que lexotan na veia." Garanto-lhes!

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