Pulse


"Chame eles mamãe. Agora. Ele está vindo. Eu vou morrer".
Essa mensagem foi enviada por uma das 49 vítimas do ataque terrorista da boate Pulse, o jovem Eddie.
Ela foi a terceira mensagem que ele escreveu para sua mãe que se chama Mina.
Na primeira, acordou sua mãe madrugada adentro com um:
"Mamãe eu te amo".
Na segunda, descreveu-lhe o que acontecia e que estava escondido no WC, pedindo-lhe que chamasse a polícia.
Passei o domingo compungindo com tamanha bestialidade humana.
Mais ainda com a prosaica explicação do pai do atirador, sobre o que podia ter motivado o seu filho a proceder de forma tão bárbara:
"Ele viu dois homens se beijando em frente à sua mulher a ao seu filho, e ficou muito irritado".
Não havia culpa no pai, qualquer sinal dela. Havia uma tentativa de justificar, o injustificável, como se ela fosse justa o suficiente para atenuar a dor 49 pais que dormiram sem seus filhos na noite do domingo.
Domingo à noite, antes que os pais dormissem sem eles, fui rezar e orar em dois Templos, de vertentes diferentes. Mas, ambos cristãos.
Em nenhum deles, houve espaço nas preces comunitárias de se solidarizar com aquelas 49 famílias, desgraçadas pela maior dor - a de pais que enterram seus filhos. o.
No Facebook, também não houve as usuais trocas de fotos, por fotos que expressem a solidariedade pela tragédia. Embora eu nunca troque, creio que seja forma de protesto válida, desde que quem as troque não o faça por modismo.
Nos telejornais, só dava o peru que o Brasil tomou, o dia dos namorados e a lava-jato.
A sociedade, nas suas mais institucionalizadas formas de expressão silenciou no domingo à noite.
Por que será? Será que foi uma forma de punição inconsciente, manifesta pelo silêncio, às opções sexuais dos frequentadores da boate?
Será?
Não. Não quero crer em tamanha maldade e indiferenças humanas.
Prefiro a teoria do banal, do ódio que "indiferençou" o agir, olhar e o sentir.
Que já não nos faz espantar, ou assombrar, diante da tragédia.
Que nos faz sonâmbulos cidadãos.
Eddie, obrigado por seu gesto tão belo, de mesmo atônito com tantas tiros, ter dito à sua mãe que a amava.
Obrigado por ter pedido ajuda pra ela.
Você fez cada mãe e pai que amam seus filhos se sentirem da tua família.
Homens e mulheres, de bom coração, justos e mansos de viver, ouviram teu pedido de socorro: "Chame eles mamãe".
E iremos te responder com uma revolução cultural, e pela força da educação e das redes sociais.
Cabe a nós, educarmos para a convivência. Educar para o coletivo, respeitar as pessoas em sua condição humana.
Cabe a nós repreendermos nossos filhos sempre que percebamos nos mesmos algum traço de preconceito, de ira, de falta de respeito em relação ao que ele considera diferente.
Não podemos nos calar. Não podemos deixar que de estupros coletivos à cachina de inocentes as coisas sejam tidas como não orantes, não problematizadas, e objeto de nossa empatia.
Não podemos!
Não podemos deixar aquela mãe sozinha. Temos que nos unir à sua dor, e a de tantos outros vítimas de guerras insanas, de migrações políticas, de ideologias excludentes e de toda forma de preconceito e desrespeito, a seja lá do que for: credo, cor, região, opção sexual, e etecetera e tal.
Não podemos deixar de pulsar protestos, a cada forma de degradação da vida e da dignidade humana.
Pulsemos!

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