Empurrãozinho na Auto-Estima.

Alcione, Pedro e Shirley - BB Poções-BA, 1986
Para meus filhos... 

Como cheguei ao BB. (Leiam nas vezes que fecharem as portas de seu viver)

Em 1984-86, eu era compensador do Banco Nacional do Norte - BANORTE. Todas as noites, ia com minha moto levando o malote de cheques do Banorte, para a a Câmara de Compensação do BB - de Campina Grande (Ag. 0063-9). 

Dava uma buzinada e o guardinha deixava colocá-la no estacionamento interno da agência. Adorava aquele ambiente, no qual nos encontrávamos com funcis de todos os bancos, para fazer a Compe. Quando a Câmara "batia na hora", era motivo de comemoração. Ninguém teria que pagar multa. Isto mesmo. Multa!

O Banco responsável pelo atraso da Compe, tinha que recolher ao BB uma multa. Esta taxa o Banqueiro particular repassava para seu funci-compensador. Quando a compe "batia na hora", saíamos e tomávamos uma cervejinha antes de ir para casa, lá pelas duas da manhã.

Numa destas madrugadas me estrepei com a moto (fevereiro 1986) ao ir para casa, conseguindo a proeza de bater num parabrisas de um carro que descia uma ladeira em alta-velocidade. Quase morro! A moto de tão amassada, só serviu para o ferro-velho. Após um mês de licença-saúde, e com a cabeça colada, vendi a moto no ferro velho, e com o pouco dinheiro que rendeu comprei uma bicicleta. Naquela segunda feira, 30 dias após meu afastamento, retorno ao Banorte.
Vou pedalando e feliz. Afinal, escapei por pouco. Restou uma amnésia, coisa besta.

Chego no Banorte e sou recebido com festa.
Senti que era querido.
Compensadores de vários bancos passam por lá e me abraçam. Todos dizem:
"Te aguardamos mais tarde, às 23hrs, na abertura da Compe BB".

Não vejo a hora de levar os cheques e rever os amigos dos vários bancos.

Às 22 hrs já estou com tudo pronto, loteado, capeado, compe 30 nos trinques.
Sigo para o BB, pedalando e feliz.
Num dos guidons da direção, vai pendurado o malotinho da compe.
A distancia era pequena, uns 300 metros.
Chegando naquela imensa portaria de ferro, que dava acesso ao estacionamento e sub-solo da compe, buzino com a campainha da bicicleta.
E faço trim-trim no portão do BB.
O guardinha olha para mim e diz:
- Com bicicleta você do Banorte não pode entrar.
Eu digo:
- Como?

O guardinha irredutível afirma que só pode entrar no estacionamento veículos (motos e carros), e que "ordens são ordens". Além disso, "de bicicleta só o pessoá do BB".

Corri para deixar de volta no Banorte a bicicleta. Depois desembestei numa maratona de 300 metros, a mais rápida da minha vida, só imaginando a multa que poderia pagar, afinal faltavam pouco tempo para abrir a Compe. Cheguei ainda a tempo, morto de cansado, e bati na portinhola do BB. O guardinha abriu, não sem esconder uma ponta de sarcasmo no seu rosto.

Eu olhei para aquele guardinha e disse:
"- Um dia ainda vou entrar de bicicleta aqui!"

Ele falou:
"- Só se for funcionário! De outros bancos só de carro ou a pé."
Depois daquela noite, nunca estudei tanto na vida para entrar no BB. Chegava da Compe e, antes de dormir, ainda fazia uma série de execícios da apostila do Celso André.

Para encurtar a história, 4 meses depois eu passava no concurso do BB.
Aprovado na datilografia, no admissional. Baixa da profissional do Banorte e agendamento de apresentação no BB para a segunda feira.
Recebo uma carta-convocação para posse dizendo inclusive que, caso precisasse do auxílio deslocamento, fosse na agência qualificadora, munido daquele documento para receber o adiantamento daquele dinheiro.
E eu precisava, e como!
Iria tomar posse em Poções-BA, distante 1.800 KM de Campina Grande-PB, via Itapemirim.
Despedi-me do pessoal do Banorte.
E, no outro dia monto na grandiosa bicicleta e sigo para o BB.
Do sorriso estampado no rosto, umas gostas de veneno escorriam.
Fiz trim-trim, o guardinha abriu a portinhola e disse-me.
"De bicicleta, sem crachá do BB, não entra no estacionamento."
Perguntei-lhe: "Funcionário entra?"
Ele disse, "Sim, Até de Jegue"...

Então, mostrei-lhe um termo de posse.

Ele estranhou. Aquilo em minhas mãos. Cara, crachá!
Saiu da rotina. Ele, desconcertado que ficara, disse-me que iria falar com o chefe e fechou a portinhola. Uma pequenininha, veja na porta de alumínio do lado direito da foto.
Aqueles minutos foram séculos. Logo após, ele reabre a portinhola e me diz, com uma expressão frustada e incredúla:

- O sr. pode entrar!

Aquele pedalar representou o trajeto mais bonito que vivi. Confesso que vivi.
Todo garboso segui para III Andar, no qual funcionava o administrativo, pegando o elevador do sub-solo.
Entrei por aquele portão de bicicleta... nele fiquei... e lá se vão 27 anos de amor/ ódio, alegria/tristeza, esperança/desesperança, otimismo/pessimismo... sempre vencendo nos duetos os primeiros substantivos, os mais importantes.
Agradeço àquele guardinha, ele não sabe o bem que me fez!
Nem sempre quem te fecha o portão, fecha as portas de teu viver.
"Faça da queda um passo de dança."

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