A saga de um coração ligeirinho



Março - 2011

Segunda dia 14 o coração fazia 10 dias que batia a 160 por minuto. De tanto insistirem, os colegas de trabalho me fizeram ir ao HCOR. Aliado a isto, no final de semana pesquisando na internet achei um remédio bom pra taquicardia, um betabloqueador. Comprei o bichim, tomei, e o coração continuou a 160, além do que quase morro do efeito colateral, fiquei revirando-me com nauseas e fortes dores no peito no chão do banheiro do quarto de hóspedes e a esposa no 2 andar, sem saber de nada e eu sem forças para pedir ajuda. Depois tomei uma ducha fria e "sarei". Ou seja, naquela segunda eu tava desconfiado de algo tava errado.

Quando cheguei no HCOR, minha intenção era tomar um "cachete" e ir pra casa. Quando o pessoal da emergência fez o eletro, já foram logo empurrando remédio na veia, proibindo-me de falar e me movimentar, na maca mesmo subiram comigo, com expressões preocupadas, para a UTI. Só consegui mandar uns SMS e falar com a esposa, sob a cara feia do enfermeiro. Meu coração estava fibrilando e poderia parar a qualquer momento. Na UTI, passei 6 dias, durantes os quais fui submetido a duas sessões de desfibrilação, por eletrochoque, sem resultados, e uma ablação, cirurgia por catéter feita dia 17, e que queima vários nervos do coração defeituosos. Esta deu certo, e tive alta no domingo. Volto ao trabalho amanhã, e com força total. Coração recuperado. 

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14/12/2011

Nove meses depois da ablação nos ventrículos, feita pelo Dr. Ben Hur - especialista em taquicardias e fribrilação atrial, foi a vez da dos átrios, feita em 14.12. E a intervenção foi um sucesso, mais 5 dias recupero, voltando a trabalhar. Mas, quase que morro de hemorragia na jugular. É que sangrei muito pela jugular e perdi 3 litros de água pela sonda renal. Isto causou um choque hipostástico e a morte chegou bem perto. A pressão caiu na madrugada para 6 x 4. Apensar dos apitos do terminal, todo mundo tava atendendo outros casos. Fui salvo pelos caras que passavam pra trocar a roupa de cama um outro leito ao lado do meu. Quando viram a poça de sangue e urina eram enormes. Mas a operação foi um sucesso, descobriram uma síndrome rara 1 em 10000000 que faz com que um dos nervos do cordão umbilical não morra ao ser cortado de minha mãe. Um tal de Ligamento de Marshal nervo do cordão umbilical ficou ligado e mandava o coração fibrilar a 160 por minuto. Em março fiz uma cirurgia, mas o problema continuou. Nesta, quando iam terminado as mais de 6 horas de intervenção tocaram com os cateteres no nervo esquecido - resquicio do Marshal e ele detonou o coração. O coração fibrilhou a mil por hora na frente de 3 cardiologistas cirurgiões. Então, eles o cauterizaram. Mas foi sorte. Eles já estavam terminando as cauterizações noutras áreas. Aliás, sorte não, foi a Providência Divina. Veja a explicação técnica:

"Posteriormente, outros locais como o ligamento de Marshall (um remanescente embriológico da veia cava superior esquerda), a veia cava superior, a crista terminalis e o seio coronário foram identificados como origem de atividade focal rápida capaz de iniciar e perpetuar a Fibrilação Atrial."



E ele vez por outra pensava que podia funcionar e desregulava todo o músculo. Eles descobriram aos 45mim do 2 tempo da operação de 6 horas, quando já retiravam os cateteres, um deles tocou no nervo e o coração deu uma forte fibrilada, repetiram, idem, aí foi só matá-lo .e bater e aí fode tudo. Estou mito cansado e com fortes curativos nas safenas e jugular. Mas bem feliz!!! Este nervo falso iria me matar. DEUS OPEROU!

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21.12.2011

Sai de casa pra ter alta com consulta de "retorno" com meu cirurgião no HCOR. Sinto que algo não vai bem já na mocinha que faz o eletro. "O senhor tem sempre destas arritmias? Não está sentindo nada?"

- Eu não.



Ao ser atendido confirmo minha suspeita, ferrei-me novamente. O médico sério ligando pra um monte de hospitais onde tenha vaga pra fazer uma ecografia trans-esofágica, e um eletrochoque.

Estou com fluter atrial e o coração colado a 170 por minuto.

Ele pede a Cristina que compre uma injeção subcutânea de anticoagulante no caminho para o hospital que fará a eco e a aplique no meu bucho.

Não há tempo a perder. Com 170 fibrilações por minuto, se tiver um trombo vai se desprender. E, como ele fez um monte de cauterizações, é um risco sério.

No hospital o exame é invasivo, mas de um metro de tubo goela abaixo, e a doutora me explicando que posso enjoar, vomitar, etc.

Falo pra ela, "o que é um peido pra quem tá cagado".

Ela faz o exame e não acha trombo. Libera para o eletrochoque.

Corremos para o outro hospital onde tinha vaga no centro cirúrgico, já que o procedimento é sob anestesia e monitoramento.

Na ante-sala da UTI fazem fila para verem um coração a 170 e o dono sem sentir nada.

Nosso médico já tá esperando.

Ao pegarem a veia a perdem. A enfermeira pede desculpas. Dor do cacete.

Falo: "o que são dois peidos pra quem tá cagado". Ela não entende nada.

Começa a sedação, e meus pensamentos vão para a cadeira de pneus que sentei nela ontem. Não sei porque fui pensar logo nisto.



Levei o choque e o coração voltou ao normal.



Acordo na UTi, miha esposa sorridente. Eu bem tanquilo. Eis que adentra na sala e recuperação minha antiga estagiária, de 10 anos atrás. Penso, agora morri mesmo, é o filme de minha vida.



2 minuto depois, entra o cardiologista e explica que tava financiando uma casa com ela, e ao dizer quem estava na sala de recuperação, ela fez questão de me ver adordado pois eu houvera sido seu "chefe" em 2000.



Mais 1 minuto teria me cagado todo de medo de ter morrido.

O médico alegou que não sabe o que fez o coração colar novamente a 170 minuto, mais suspeita de uma inflamação e pequeno derrame pelos tiros que ele deu.

Na dúvida, como não sinto nada, obrigou-me a medir as batidas 3 vezes ao dia

Agora em casa, esperando nova injeção no bucho que a Cris me dará.

No caminho para casa, já de alta após 12 horas de agonia, passamos por uma exposição de móveis.

Cris disse, estas aí sim, são bonitas!

Mais um dia, mais uma vitória. Agora vida normal novamente.

Em tempo: De quebra dei uma força a minha antiga estagiária da Dipes - Roberta Borges a vender uma casa para meu médico. Eles estavam negociando no escritório da UTI enquanto eu me recuperava da anestesia. Quando ela soube que e era eu o seu paciente, pediu-me para me ver ao me acordar. Demos boas risadas dos bons tempos que vivemos na Dipes.



Robertinha espero que feche negócio, vou cobrar minha Comissão em Stela Artois e picanha argentina.

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