Restauração

Desde 1995 fiquei com raiva do natal.
Naquele ano houve profundas transformações na minha vida e me separei.
Então o natal passou a soar melancólico para mim.
Lembrava das novenas de natal que conduzia.
Dos jantares ao som de noite feliz.
Das visitas aos parentes e hospitais.
Mas, como recém-separado, virei a sensação daquele ano da Igreja do Rosário, fui marginalizado.
Todos olhavam com ares de crítica, eu era o louco que houvera abandonado 3 criancinhas por causa de uma mulher, etc etc etc.
Todos que militavam comigo, desde a mais tenra idade, nas pastorais da Igreja do Rosário passaram a me ignorar.
Virei um "maldito".
Uma companhia nada desejável. Um louco varrido.
Onde ainda encontrei algum apoio foram com pessoas não crentes.
Ninguém perguntava minhas razões, só me condenavam.
O que mais me doía era não poder participar do sacramento da Comunhão pois, separados não podem, segundo o código canônico.
Então, rompi com tudo aquilo que se chamava igreja.
Em Brasília não procurei mais. Mas não perdi a fé nas coisas do alto. só nas coisas daqui de baixo.

Contudo, acho que no íntimo fiquei de mal de Deus. Era como se eu esperasse uma defesa Dele, um agir contra tanta hipocrisia.

Então natal passou a representar o que eu não tinha mais, as novenas, os "noite felizes", a comunidade cristã, os pais e filhos longes.

Então achava um tanto triste e torcia para passar logo.

Criticava a festa de árvores, luzes e consumo que desvirtuou o natal, do sentido do nascimento de Cristo. Sem falar nas músicas pegajosas, no povo que briga o ano todo e se junta pra se "confraternizar" e dos excluídos do acesso aos templos do consumo.

Hoje me peguei sintonizando as músicas de natal na Sky, canal 464.
Acho que fiz as pazes com o natal, e talvez comigo mesmo.

Uma alegria e a sensação de quem tira um fardo enorme dos ombros invadiu meu ser.

Perdoei a Deus. Ele não teve culpa. E chorei. Fazia tanto tempo que não chorava. Um choro gostoso, soluçado, daqueles que a gente não quer que pare pois é choro de libertação, alívio, de alegria.

Tal qual uma fumaça, o luto da abrupta ruptura do convívio com pais, filhos, amigos, do GAV, da Igreja do Rosário - onde um dia quis ser padre, da minha querida cidade, que carregava desde 1995 ao vir para Brasília, se esvaiu.

Então, compartilho com meus amigos e amigas que este natal de 2011 está sendo meu primeiro natal desde 1995.

Aos que me leem, e estão sofrendo uma espécie de luto nestes dias. E que se sentem melancólicos, amargurados, faço votos para que num belo dia, num dia qualquer, como este 18/12, vocês chorem rios de lágrimas, como o fiz a pouco, e que sejam aquelas que estavam contidas no mais fundo do coração.

Que estas lágrimas lavem seu pesar e os libertem de toda mágoa, culpa, e sofrimento.

Agora vou tirar a Rena de luzinhas da caixa e montá-la.

Posto a música que cantava nas novenas de natal que conduzia, em nove residências, desde meus 11 anos de idade e até meus 29.

Feliz Natal!
Noite Feliz
http://www.youtube.com/watch?v=pBlpi_bx2Hk&feature=related

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