Minha jangada vai partir por mar.


E grande será sua viagem, passará por tantas dificuldades: tempestades, calmarias , furacões. Mas neste caminhar aprenderá a ser melhor, a conviver, a renascer, a lutar por um ideal.

Partir é mudar, é romper.

Os que não partem, não mudam, não se permitem acomodam-se a si mesmos e a situação existente, virando espíritos de louça.

Espíritos de louça.
Nunca quiseram enfrentar os mares inóspitos e desconhecidos.
Nunca erraram.
Nunca tiveram que alterar a rota.
Nunca sentiram o que era desespero, ou o orvalho das manhãs a lavar seus rostos.
Nunca tiveram a alegria de um bom vento a içar sua velas.

Espíritos de louça.

Ficaram nas cidades, querendo se poupar. Não saíram. Não caíram. Não sofreram.
Pensam que viveram o bastante. Repetem programas pré-configurados de competir, ser ambicioso, agredir...

Fantasias? Nunca as tivera!
Amores? " Já me decepcionei muito..., nem pensar..., são todos iguais..."

Ele se acha perfeito. É metódico. É sensato. Nunca errou. Nunca vivenciou ,
nem a mais simples das aventuras que é tomar banho de chuva.
Sempre às voltas com tarefas a concluir, estudos a concretizar, ambições pelo poder e pelo dinheiro.

Tenho ira dos sensatos.
Tenho ira dos que se auto-apregoam como puros e perfeitos.
Tenho ira de todos os que cegamente querem impor suas verdades aos "ímpios".

Não gostaria de ser como os que ficaram na cidade.

Gostaria de ser como Buda, que fez seu aprendizado caminhando por entre vilas, povos, desertos e montanhas.

Gosto de viajantes, Dos que partem em busca de seu ideais. Dos que nunca deixam morrer sonhos, desejos, fantasias e realizações. Dos que fazem brilhar "a menina dos olhos" quando falam do que acreditam ou amam.

Ficar na cidade representa a passividade. Representa a estagnação. Representa a
monotonia. A rotina metódica, calculista e racional: trabalho-casa-trabalho ou estudos-casa-estudos, ou ainda, casa-casa-casa que vai destruindo o germe da vida que habita em cada um de nós.

Perderam até a capacidade de maravilhar-se. E maravilhar-se é capacitar o
olhar para sintonizá-lo ao outro, ao ar, à terra, à água, e ao fogo que nos rodeia e faz vibrar a vida.

É um olhar holístico, integral. Que vê filosofia num simples balançar de árvores no quintal.

Gosto dos que chegam à cidade, vindo de seus barcos. São líderes.

Não desanimam, à primeira dificuldade. São humanos de carne e osso: choram, riem, amam, perdoam, esbravejam. Não são protótipos programáveis de seres humanos.

Não são avessos ao sentir.

Tenho dó dos que temem a esperança, contida em cada gesto de perdão,
de recomeço, de luta.

Sentir é a essência do viver.

Para crescer é imprescindível expor-se, tomar posição, acreditar em algo, arriscar-se no vazio.

Tenho dó dos acomodados e conformados. Ah! Foi Deus quem quis.

Pobre Deus, leva a culpa de tudo.

É o alibi perfeito para nossa estranha maneira de ser feliz. Ser feliz sem se arriscar. Sem colocar os pés na lama. Sem os perfumes das flores que vicejam na primavera.

Tire seu Corsário da areia, aprume-o para o mar, aproveite os ventos e singre novos mares do existir.
Clique aqui e veja a música a qual

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