Hoje fiz algo que não fazia há muito tempo,
conversei com meu irmão sozinho.
Eu e ele, olho a olho.
Não havia cunhadas, amigos comuns,
crianças correndo.
Carne na churrasqueira ou outros entretenimentos
que nos desviassem de nós dois.
Só nós, num enlace fraterno de quem convive
há cinquenta anos.
E de quem torce um pelo outro,
embora nem sempre saibamos demonstrar.
Falei para o mano que o amor se apóia numa espécie de vigas radiais que sustentam a teia da vida.
Contudo, essas vigas radiais do amor se expressão em todas as formas de amores, não só no amor carnal entre cônjuges.
E sobre amor o que escrevo nessa tarde chuvosa, com trovões rocando à minha esquerda e direita, com a varanda - na qual em paz digito, sendo iluminada por relâmpagos e raios de uma tempestade de verão.
As vigas do amor:
(1) Apego
(2) Afeto.
Por minha conta e risco, acrescento mais duas:
(3) Afago
(4) Apreço
Para mim, essas quatros vigas formam a rede da sustentabilidade do amor, tal qual aquela tecida pela aranha dessa foto, que posa ao meu lado aqui na varanda.
Amores sustentáveis possuem as quatro, com maior ou menor fortaleza e estrutura interior - necessárias aos suporte das tensões da vida e do viver.
Começo falando sobre a viga do Apego.
O amor de Apego é o mais primitivo. Ele é do Sistema Nervoso Límbico, instintual.
É aquele amor que temos pelo outro e que se origina da necessidade de proteção, ajuda mútua, cooperação entre seres para juntos tocarem objetivos comuns. Esse amor é o amor que nos dá tranquilidade de tocar nossas vidas ao lado do outro. Esse amor suscita rotinas, padrões de comportamento, sequências esperadas na conduta do outro, que já nos surpreende mais.
É um amor racional, objetivo, pragmático.
Convivemos com um monte de pessoas, e temo-lás em nosso coração, que relacionam-se apenas nessa viga do amor. Apenas por apego. Como diz o médico acima, pelo medo do ser só. São relações que mesmo "entre tapas e beijos" vão perdurando. O medo de largar tudo e recomeçar é de ordem prática. Ruim por ruim... vamos ficando. Pelo menos temos roupa lavada e um abrigo - é o amor da gruta, da toca, da caverna.
Pense em todos os níveis de relação humana: matrimonial, filial, entre amigos, e até entre pessoas que frequentam a mesma instituição social: política, religiosa, esportiva, cultural, o que seja, esse amor estará presente com mais intensidade. Ele exige um baixo nível de envolvimento social e mantém uma certa individualidade, cultuada nos tempos atuais.
É o amor de grupos, da tribo, da certeza de que o outro - por mais ranziza que possa ser, "ainda me levará para tomar sol no entardecer da vida". É um amor de trocas, subliminares trocas, que fazem com que aceitemos alguns sapos engolidos, pela razão utilitarista que suscita.
Eu engulo seus sapos, você engole meus sapos... e estamos ok!
Essa coluna do amor é material, pragmática, calculista, embora não tenhamos consciência disso. Nos acostumamos com alguém vendo televisão em nosso lar, mesmo sem precisar ir lá cumprimentá-lo. Só em saber dele, mesmo que ausente, afastará o sentimento de solidão. Tem filhos que só essa viga de seu amor paternal amor. Tem pais, no final da vida, que só esse amor esperam mais dos filhos. Tem chefes que só nutrem esse amor por seus funcionários, e vice-versa. Repito, em qualquer forma de relacionamento humano, nas suas mais diversas instituições, preste atenção direitinho que verá esse tipo de amor se manifestando. Em analogia à hierarquia das necessidades de Maslow - ver as teorias da Motivação.
Assim sendo, esse amor ocupa o primeiro e segundo nível da pirâmide por ele proposta, o de Fisiologia e Segurança.
É o suporte no qual, caso cresçamos no relacionamento, outros níveis de amor serão a ele agregados.
(Próximo texto da série: O Amor do Afeto)
Esse tipo de amor é o que mais nos faz sofrer, porque nos acomodamos ou acostumamos com tal situação e torna se dificil abandonar coisas rotineiras...
ResponderExcluirÉ o amor dos costumes, das rotinas, do medo de ousar partir e mudar. Ou, até da incapacidade financeira ou emocional de assim fazer.
Excluir