Lustre seus amores.


No caminho para um evento de colação de grau me assustei.
Percebi que dormira bem na noite anterior, não tivera lapsos de insônia.
Não. Não era noite de dormir bem. Era noite de acordar ansioso, esperando.
Nas outras 6 colações, em anos anteriores, era assim.
Acordava, ligava o HD mental, pensava no dia seguinte - ansioso, e voltava a dormir.
Contudo, durante a formatura algo de bom me aconteceu.
Um sentimento de amor foi me invadindo e lavando a indiferença.
Renovei meu amor por aqueles garotos e garotas que acompanho em sua trajetória de carreira.
Reencontrei-me em meu gostar. E passei a me senti potente, feliz, motivado, tal qual um garoto serelepe que vai se encontrar com a namorada.

O amor precisa de lustramentos. De se levar para polir, para renovar o brilho, o encanto.

E não falo exclusivamente de amor de amantes, de namorados ou cônjuges.

Falo de todos os amores. amor por uma comunidade, por uma causa, por um animal, por uma planta, pelo sol, pelos amigos, pelo trabalho... amor em todas as suas expressões.

Como aquela pintura de carro novo, que mesmo sendo novo, de tanta poeira que levou durante a semana, nem se parece com o que já foi, esses amores precisam de paradas de renovação.

A rotina dos dias previsíveis, com o sempre vivido e do mesmo jeito, sem mais mistérios, sem medos e ansiedades, vai anestesiando o sentir.

A exemplo de quando levamos nosso carro naquelas oficinas de revitalização de pinturas, o amor também pede esse procedimento.

O gostar pede momentos de revitalização. Pode ser uma viagem, um novo projeto, um desafio.

Uma parada reflexiva e de autoconhecimento. Uma contemplação.

O amor pede cuidado. Esse talvez seja o maior problema dos desamores, deixamos de cuidar. De adubar, podar, acreditar no potencial da semente.

O amor precisa de desequilíbrios, de renúncias, de medos, de ansiedades, de apriscos prazerosos, de lantejoulas de admiração.

Saí rejuvenescido da formatura. Voltando a acreditar, voltando a me emocionar.

Nada pior do que o efeito da rotina no olhar amoroso. Vai criando uma opacidade, tal uma catarata, uma névoa por cima do olhar que não mais ver o brilho existente, mas a falta dele. Olha-se para o antes amado, agora pelas lentes da indiferença.

E a indiferença é a traça do amor. Como um cupim que corrói, que destrói a estrutura que antes existia, ela ataca no raiz do sentir, imobilizando-o.

Não deixe envelhecer seu sonhar, seu encanto.

Renove-o periodicamente.

Mesmo que tenha levado pancadas, sofrido decepções, vivido frustrações, se o que corre no leito mais profundo é amor, ele renascerá.

Só precisa de um novo cultivar, de algo que o lustre para que seu brilho volte com todo fulgor.

Próxima colação de grau quero ter insônias homéricas, e das boas!
Nada melhor, para oxigenar as artérias do coração, do que as insônias de apaixonados.
Aquelas que temos por antever e ansiar as vivências de alegrias futuras que nos esperam, ao vivermos - mais uma vez, e com intensidade o que já amamos. O amor tem o dom da autopoiese.

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