Sobre radiolas, home-theaters e lutas greco-romanas.



Ele vivia jogado num canto qualquer. Não consegui conectá-lo na minha TV e o larguei por aqui.

Era um Home Theater modernoso, 6 caixas de som, para graves, agudos, médios e uma Central de Operações amplificada.

Mas, minha TV não tinha saída de áudio compatível, então, “danou-se”.

Até que um dia ouvindo um sonzinho de vinil, na minha radiola, na qual tocava uma música linda chamada Sem Fantasia, senti falta de uma maior potência.
Aí lembrei-me do velho “Home Theater” encostado. Vi que na traseira dele havia uma conexão OUT (tipo L e R) e que na traseira do Home tinha uma entrada IN L e R. Pensei, pronto, será que dará certo.
Com a ajuda de um cabo fiz a conexão.
E o som estalou em meus ouvidos com uma pureza digna de um DJ.

Parecia até outra música, dado a acentuação das notas que o Home proporcionava, sem falar que ouvir um disco de vinil já é uma experiência auditiva, para quem gosta de música, indescritível.
Fora a união perfeita, sacramentada por aquele cabo RCA.
Pensei que o cabo agiu como um preceptor, um condutor. Juntou os dois seres inanimados, numa articulação possível, que agora, como que por mágica, produzia algo maravilhoso, tirando o melhor de cada um deles.
O cabo foi a pedagogia possível entre eles.
Do grego pedagogia significa paidós (criança) e agogé (condução).

A criança tecnológica que é o Home Theater fora conduzida pelo cabo (agogé) até uma fonte de som que não pasteuriza e homogeneíza as notas e harmônicas, da velha radiola de vinil.

Foi um encontro pedagógico, um libertou o outro, um fez-se autonomia e protagonismo na vida do outro.

Estava indo palestrar num evento de preparação de coachs, dentro de um programa de trainee, quando me lembrei da história de Aristócles.

Aristócles teve esse cabo RCA na sua vida.

Alguém que o descobriu, o conduziu, pedagogicamente falando, e como seu preceptor o orientou na busca de novos horizontes.

Aristócles era um jovem taludo. Mais de 1,90 de altura e bem largo, tão largo que o chamavam com o derivativo do mesmo nome de quem chama um platô. Grande, alto e largo.
Ele era de Atenas, cidade grega, filho de família de classe alta. Um jovem grego.
Mas não queria saber muito de estudos, de poesias, de canção, artes, etc.
Seu negócio era lutar.
Ele gostava mesmo era de lutar.
Se naquele tempo antigo tivesse essas lutas moderna de socos e pernadas, tipo UFC, ele seria um dos seus campeões. Um Anderson Aristócles da Silva.
Ele foi campeão dos jogos olímpicos da Grécia antiga, da Região do Istmo. Algo como Série B das Olimpíadas de Atenas.
Já viram, o filme gladiador? As lutas corpo-a-corpo eram mais ou menos como aquelas. Era vencer ou...
E o Aristócles era bom naquilo.
Até que um dia os pais viram nele algo mais do que um lutador.
Embora ser lutador campeão tinha lá seu status.
Os pais viram algo mais, um potencial a mais no filho, algo que nem ele via.
Quem sabe viram o som que saia da velha vitrola que só precisava do Home Theater certo para melhor explorá-lo e fazê-lo desabrochar. Quem sabe?
Os pais juntaram suas economias e contrataram os serviços de um pedagogo. Um preceptor, condutor.
Quase como um personal-trainers do conhecimento.
Esse, também era bom no traçado, logo notou que seu pupilo era de movimento, e ao invés de ficar parado numa sala ensinando-lhe sobre as velhas línguas do mundo, sobre arte, sobre estéticas e coisa e mais, o chamou para com ele seguir pela Grécia.
Nascia ali um dos encontros entre trainee e coach, guri e guru, mais fecundos da história da humanidade.
Era o encontro entre Sócrates e Platão. Platão era o apelido que ele recebeu de ser forte, taludo, e alto como um platô.
Platão desenvolveu-se tanto na filosofia que sua obra é maior do que a do próprio mestre.
De Plantão, por exemplo, herdamos a Academia. É que Plantão comprou uma chácara, na saída de Atenas, chamada Jardim de Academus, e ali dava aulas aos seus discípulos.

Assim como a radiola, o cabo RCA e o Home Theater; nessa história há também três personagens: Sócrates, Platão e seus pais.

Todos nós em algum momento da vida precisou de um Sócrates, ou um Cabo que nos levasse de uma posição existencial para outra.

Quantas das vezes só descobrimos o que temos de melhor quando o outro nos orienta, nos conduz, e até enxerga potenciais que nós mesmos nem sonhamos que temos, como os pais do jovem Platão.

Talvez essa seja uma das causas mais nobres da humanidade, ajudar aos outros a encontrarem caminhos, sem caminhar por eles mesmos, como fez Sócrates com seu pupilo.

Ajudar às pessoas a despertarem seus potenciais adormecidos, ou aprisionados por tantas negações de si mesmos que foram recebendo ao longo da vida, talvez seja a mais digna das missões que por aqui teremos.

Cada um de nós tem um Platão em si adormecido. Tem um som com a mais alta qualidade musical preso, num vinil qualquer, que poderão vir a produzirem o melhor de si mesmos; desde que tocados com amor. Alterando as rotas de um destino quase sempre cruel.

Quantas pessoas com as quais cruzamos só precisam de uma oportunidade. De uma orientação, de um ensinamento, de uma sabedoria com elas compartilhada.

Pense nisso, você pode ser o Cabo RCA que fará soar o soma mais belo do outro com o qual cruzar.
Ou se r um /Sócrates que conduzirá com cuidado, talento e maestria, aquele que de teu lado se propor a caminhar.

Ou até os pais do Platão, que virão nele algo que nem ele via e souberam intervir em sua vida, tirando-o de um rumo pouco proveitoso e de morte, mais cedo ou mais tarde, certa.
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Agradeço aos cabos RCAs que me conectaram a mim mesmo, ao futuro e aos outros que tive ao longo da minha vida.

Agradeço aos Sócrates que cruzaram meu caminho e com os quais tive a honra de caminhar e de ser conduzido.
Agradeço aos pais exigentes que nunca deixaram-me acomodar com as derrotas e ensinaram-me a chorar apenas uma noite e um dia, e a não ter pena de si mesmo.

Ensinaram-me a lutar, a melhor das lutas, não a do jovem Platão, mas a luta do bem contra o mal. Da preguiça contra a ação. Da fé contra a tibieza. Da esperança contra a negatividade. Do otimismo em dias melhores contra o pessimismo da realidade circundante.

Agora vou ouvir meu velho vinil de Belchior que embalado pelas caixas de som, potentes do Home Theater, mais parece que está vivo e ao meu lado.
Valeu cabo RCA. Valeu saídas IN e OUT sem as quais nenhuma conexão seria ossível, nem as nossas conosco mesmo.

Procure suas saídas OUT e as conecte em entradas IN de quem realmente valha a pena e que produza frutos.


E, fuja da vida fácil dos “ringues de luta livre”.

Nunca vi alguém “chegar à janelinha” sem esforço, dedicação, disciplina, horas de sono e acordando cedo.



Pelo menos os normais, como eu e você!

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