Não pare de esculpir a sua obra


Não pare de esculpir a escultura de sua vida só porque passou do ponto o corte que fez, 
com o cinzel e marreta na pedra bruta,
e já não conseguirá fazer aquele projeto 
que um dia planejou, com o que sobrou da rocha. 
Calma. 
Continue esculpindo-a, com outros projetos 
agora em mente, adequados ao material 
e as condições que lhes restaram. 
Ainda assim será tua obra, tua identidade, tua jornada, tua essência quem estará em jogo. Se pensa que passou do ponto de fazer a bela escultura que um dia sonhou, com a tua vida, não desanime. Todos somos assim. 
Persevere, continue com o cinzel e marreta esculpindo a pedra de sua história.
Talvez não dê mais para fazer uma estátua em tamanho natural de algo belo, mas com o que restou, 
e dentro da realidade que convive, 
e nas condições lhes apresentada, 
ainda assim poderá reverter a situação, 
alterar rotas e cursos de ação 
dando uma resposta à vida.
Não fique sentado, à beira do caminho, reclamando que errou o ponto do esculpir.
Não ajudará em nada. 
Continue a sonhar em fazer algo com o que restou.
Algo teu. 
Que, ao final, ao contemplá-lo saberás que ele foi
feito de lutas, de suor, de resistir,
de não desanimar diante das dificuldades.
Será tua bela obra em vida, esculpida com esperança nas dificuldades, e pequenas alegrias, 
mesmo fugidias.
Esculpe a pedra de teu viver, 
teu ser, com afinco. 
Dessa tua entrega, em ser melhor para a humanidade, 
em melhorar o jardim ao teu redor,
a cada golpe do cinzel, 
nascerá novos frutos e muitos se beneficiarão deles. 
Tenha coragem de admitir que sonhos, 
sonhados com afinco, não serão mais atingidos. 
Mudaram as estações.
Porém, mais que uma coragem resignada, 
pergunte-se o que fará com os anos que lhe restam, 
com o que tem disponível, 
com coisas que poderiam até ter-lhe passado despercebidas, e que agora, diante da crise, serão de imenso valor na recomposição da estrutura de teu ser. 
Não desanime amigo.
Não é fácil cair. Perder. 
Não é fácil admitir que passou, que perdemos o prumo, a rota, o traçado.
Não, não é fácil. 
Mas, repito-lhe, coragem! 
Um simples anjinho de pedra que escupires, 
com as migalhas do que te sobrou, 
e que o coloque sorrateiramente, 
na cabeceira da cama de uma criança, 
poderá alegrar-lhe dias a fio. 
Não importa o tamanho da escultura, a forma, o tipo, 
é tua escultura, é tua vida e ela merece ser vivida
na alegria e na tristeza, na doença e na saúde, 
quase como num casamento, mas contigo mesmo.

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