Quem se angustia prevê mutações

A angústia pede seu tempo de choca. 
Pede um tempo de maturação.
De cuidado.
A angústia nos apequena.
Nos faz frágeis.
Impotentes frente aos desmandos, 
ao que sobre ele não temos controle.
A angústia nos priva de ar.
Mas, paradoxalmente,
nos alimenta de renascenças.
Pede um conforto de um ninho
para se recuperar.
Pede amigos, abraços, 
palavras de carinho.
A angústia pede um tempo.
Pede paciência para consigo mesmo.
A angústia pede mudança.
Pede metamorfoses.
Pede um regaço onde deitar a cabeça.
Pede Deus.
A angústia pede respeito, 
solidariedade, empatia.
Pede abrigo, segurança,
pede até o nada.
Silêncios, pausas melodiosas,
eternidades.
A angústia pede você a amparar 
a quem do teu lado finge,
suporta, encena.
A angústia é uma mãe-pássaro 
chocando sua cria.
Quem se angustia prenuncia 
o novo, antevê liberdades.

Podemos ser ninho para o outro que sofre. 
E, ninhos não falam. 
Acolhem.
Não dão conselhos, pregam piedosas intenções ou pitaqueiam. 
Ninhos protegem. 
Cuidam. 
Socorrem. 
Escutam.
Apoiam. 
Respeitam o outro e a sua dor.
Não há dor fácil, 
por mais que já tenha sido 
também vivida pelo ninho-amigo. 
A dor que sentimos é egoísta. 
Nossa, e de mais ninguém. 
Só precisamos de um ombro,
meigo e compreensivo, 
que fale pouco e 
escute muito, 
para nos recuperar. 
Um belo dia, de nossa dor, 
brotará vida, tal qual o ovo 
após a choca.
Uma pessoa que sofre, 
que se angustia, 
é um otimista profeta e que 
fará algo com o que aprendeu
e sairá da crise melhor. 
"Eles passarão, nós passarinhos".

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