Atreva-se a viver.


A canção não me sai da cabeça, a usei na palestra Florescer que conduzi em SP. Interpretada por Andrea Bocelli & Laura Pausini, chama-se Dare to Live (Vivere): "Nestes dias de faces sem nome [...], atreva-se a viver!
Hoje pela manhã observei por um bom tempo uma "debulhadora de feijão verde"
Ela debulhava a vargem até a última semente, não perdia nenhuma.
Tenho visto tanta gente querendo desistir da vida, mas com grãos ainda em sua vargem interior.
Pra elas, canto nessa manhã de domingo: Atrevam-se a viver.
Debulhem até o último grão de sua vida. Não é hora de desanimar.
Mesmo que você esteja sem ver seu nome, numa face esquálida esculpida no travesseiro em que mergulha sua dor.
Atreva-se a viver meu amigo, minha amiga.
Com todas suas dores, amores, sabores, horrores e humores.
Não jogue a vargem de sua vida fora, sem tentar debulhar até o último grão.
Quem sabe não será exatamente naquele último grão que estará tua realização pessoal?
Atreva-se a amar novamente, mesmo após a dor de uma separação.
Atreva-se a confiar novamente, mesmo após ter quebrado a cara.
Atreva-se a esperançar a vida, mesmo quando todos ao teu lado já desistiram.
Atreva-se a desafinar no coro dos descontentes.
Atreva-se a ser feliz com pouco, com menos expectativas, menos ansiedade, menos fardos emocionais depositados em si mesmo e nos outros.
A canção não me sai da cabeça. "Sua vida é tudo que você tem a oferecer".
Desvio o olhar da debulhada de feijão. Vejo meu filho, o João Gabriel (JG), de cinco anos, brincando de pegue e toque com o Erick, de dez anos.Eles divertem-se aos borbotões. Erick dá uns pega nele com sua carreira motorizada, e depois inverte-se a situação, o JG corre atrás dele. Os feirantes contemplam a cena embevecidos, duas crianças brincando, sem pernas, sem rodas, sem chão... só nas nuvens da fantasia.
Sua vida é tudo que você tem a oferecer. Ofereça amor, ofereça recomeços, ofereça colo, ofereça perdão, ofereça generosidade, ofereça solidariedade.
Parece que a vargem de feijão vai sendo renovada, feijão a feijão, sempre que nos doamos. Que entregamos um pouco de nós mesmos para que o outro fique melhor.
Veja que vida linda acontece em todo lugar. Casais enamorados, pais brincando com filhos, sorrisos precoces em todo recanto.
Olhe-se novamente no espelho. Veja seu nome inscrito nele. Sua identidade, sua história, suas conquistas. Veja de onde veio, quem te ajudou a a ui chegar. Nunca perca seu nome, sendo um face sem nome.
Pare de querer fazer as coisas para ser aceito, se sentir amado.
Para de procurar migalhas de afeto, em corações encardidos de indiferença.
Ache-se no fundo daquele travesseiro, "desesculpa-se" dele.
Chega!
Agora veja seus grãos de amor, na vargem da vida que possui.
E acredite; tempos melhores virão.
Mas, ache seu nome na face. E sua face no nome.
Ache-se, para atrever-se a viver!
Pare de se buscar no outro, por mais amado que seja.
Encontre-se, e ao encontrar-se curta a paz de estar bem consigo mesmo.
Nesta sociedade para qual tudo tem preço, que muitas das vezes te descartou, te coisificou, te tratou como item no inventário de famílias e empresas: ouse debulhar o último grão de tua existência.
Não jogue fora a vargem de teu viver, ainda com sementes em potencial, só pelas dores pelas quais passou, ou passa.
Subverta a ordem reinante, pare de chorar e reaja levando-se para passear e curtir a beleza e a mística de ser, sendo quem é!

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