Cartas ao JG - Aos Felizes Anos Novos






Sabe meu filho, vivemos nesses últimos dias coisas legais.
Fomos à Feira da Lua, na última sexta em Sobradinho.
Após visitarmos as inúmeras barraquinhas de comida te levamos para brincar num quase-parquinho que tem lá, com três brinquedos apenas.
Chegando lá, você foi brincar num deles - o elástico.
Fez piruetas dignas de um ginasta olímpico. Outros meninos de tua idade(5) desistiram do Elástico, você não.
Você gosta de altura e de aventura.
Precisava ver sua alegria.
Depois, fomos comer um sanduba na esquina e encontramos com teu irmão, o Rodrigo,
e a Andreza sua esposa, juntos dividimos a comilança e ficamos jogando dominó.
Você gostou de jogar dominó. Já sabe os números e ficou todo contente.
No sábado, levamos-lhe para o trem do Papai Noel, no Espaço Cultural da CEF.
Foi uma experiência significativa nas nossas vidas. O "Expresso Encantado" é bacana e você divertiu-se um bocado.
Saindo dali, fomos jantar no Sabor Brasil, da 302 Sul na esquina da Rua das Farmácias.
Filho, se ao ler essa carta der fome, vá lá!
Pense num lugar para pessoas boas de garfo. Tem de tudo que engorda.
Maravilha. e tem uma galeria de fotos com motivos do sertão,  que te causaram muito espanto. Ver seus olhinhos fitando aquela foto de uma casa de taipa - típicas dos sertões de meu Pai, com um senhor na janela, tocou meu coração.
Hoje vim trabalhar feliz. Nesse ano, não fomos pra virada em Londrina-PR.
Ficamos em Brasília, e vim trabalhar.  Mais tarde teus irmãos e esposas irão lá pra csa: o Tiago e Rodrigo e minhas noras.
romperemos o ano nós sete. Sete é o número da fartura.
Tenho uma família farta em expressões de amor. Um tesouro.
Vindo para o trabalho agradeci gostar de trabalhar, e ter orgulho de minha equipe.
No caminho, parei para tirar a foto dessa árvore que ilustra a cartinha.
Não sem quem foi "plantado" perto de quem. a árvore ou o poste.
O fato é que eles estão muito próximos um do do outro.
Venho acompanhando o crescimento dela, a árvore, têm uns 5 anos.
O poste não cresce. Elementar, mas é sobre esse elementar que convido-lhe a reflexão.
Têm pessoas-poste.
que pararam de crescer.
Que se acham perfeitas, completas e, com uma postura arrogante, fecham-se a qualquer possibilidade de novos aprendizados.
Pessoas que não aprendem com novas culturas, pois acham a delas suficiente.
Que não aprendem novos ritmos, valores, ou mudam velhos hábitos.
Pessoas-postes não atualizam sua existência.
No lugar de crescer vão estacionando.
Ano após ano vão ficando velhas de si mesmas.
Nenhum sonho novo, nenhum brincar novo, nenhuma aventura nova, nenhum motivo novo pelo qual lutar e viver.
Viraram poste.
Você, sê árvore.
Não pare de crescer, de renovar-se a cada estação.
A minha mensagem, para todos os anos novos que terá vida adentro, resume-se nessa frase: Não pare de crescer.

Paramos de crescer quando perdemos nossa conexão com o espiritual;
Paramos de crescer quando perdemos o humor;
Paramos de crescer quando não mais nos vinculamos a grupo algum ou pessoas;
Paramos de crescer quando nosso coração fica apodrecido de sentimentos ruins para conosco mesmo, os outros ou a vida;
Paramos de crescer quando damos muita voz ao nosso eu, e pouca ao tu, ele ou nós;
Paramos de crescer quando não mais acreditamos que o amanhã pode ser melhor;
Paramos de crescer quando a esperança vira em nossas vidas um pálido rosto sem expressão;
Paramos de crescer quando substituímos o amor pelo ódio, em todas as suas expressões - sutis ou nada sutis;
Paramos de crescer quando percebemos que já estamos crescidos demais, e desistimos de novos propósitos.

 
Mas, crescer dói, cansa, exige esforço.
Na vida, você viverá períodos nos quais o conforto da segurança; o lugar comum dos acontecimentos; poderá lhe inibir ao crescimento. Chamo esse períodos do piloto-automático do viver.

Cuidado com eles.

Quando estiver transformando-se de árvore em poste, procure novos motivos para existir.
Lembra no início do texto quando contei de teu final de semana?
Nele têm três coisas que são antídotos ao “empostetamento”:  o elástico no qual brincou. Na vida, evite criar raízes, crie asas. Seja flexível, adapte-se às situações, transforme-se continuamente renovando a esperança.
A segunda foi a do trem do Natal. No trem da vida, procure sentar-se contemplando a paisagem. Veja a vida pelo lado bom da paisagem. Se tiver ruim, mude de lado. Queira a janelinha, não a da ambição aquela de quem acha que merece subir a qualquer custo, e sem esforço algum, só porque merece. Queira a janelinha do lado bom da vida. A da disciplina, coragem e fé. Aquela que nos faz continuar, quando todos desistiram. Nos faz acreditar, quando todos desacreditam. Nos faz confiar, quando todos desconfiam. A da paz, do otimismo, do pensar positivo, de ver na crise as oportunidades, ver nos limites as possibilidades, e perguntar-se sempre: o que eu ainda posso fazer com o que me aconteceu? Há algo que possa aproveitar, apesar da crise?
O terceiro ensinamento, para evitar-se tornar-se concreto – e em forma de gente é a contemplação, nas suas vertentes da curiosidade, do encantamento e do assombro com a maravilha de viver.
Nunca se perca desse sentimento, desse valor. Contemple a vida, o ainda não visto, ou o visto com um novo olhar – o olhar do amor.
Foi a mesma contemplação com a qual te vi olhando para aquele quadro com tema do sertão.
Por último, como que dando uma liga aos três anteriores, aprenda sempre.
Quem está em aprendizado, nas escolas da vida, nunca envelhece.

Vá fazer dança de salão, aprenda uma nova língua.
Conheça novas culturas, brinque, busque uma nova profissão – caso se sinta estranho na que pratica.
Recomece uma relação, ou invista numa nova, conecte-se ao espiritual, ao holístico, aprenda cozinhar e convide os amigos para experimentar.
Não vire poste. É meu pedido.
Por mais crescido que ele possa parecer.

Não se deixe "posteificar" pela ganância, pelos bens materiais, pela ambição, pelo orgulho ou vaidade.

Por uma sociedade do consumo que delega sua felicidade às coisas, e procura superar sua frustração existencial numa busca ensandecida pelo ter, poder e prazer.

Sê diferente.  Escolha um outro caminho.  Mas, repito, exigirá esforço.

É mais fácil ser como todo mundo. Ousar ser diferente, cultivando outros e maus sustentáveis valores, exigirá muita energia. Conte comigo nessa jornada.

Espero nunca virar poste. E sempre ver o ano que se inicia com olhos faiscantes, tal qual aqueles teus ao sair do Trem do Natal.

Olhos que nãos e cansam de ver a vida com a alegria de uma criança ao explorar um brinquedo novo de um parquinho de periferia.

A vida oferece muitos "brinquedos novos", não acostume-se ao que te faz infeliz.  

Imagine o esforço das raízes dessa árvore competindo com o concreto desse poste por espaço vital.

O concreto estará sempre negando o crescer.

O concreto não têm emoções, sentimentos, sonhos, não abraça, não acolhe, não poetisa a existência.
O concreto finge ser fortão, durão, para sobreviver melhor. Mas é triste.

Prefira ser árvore. Mesmo sujeita a todo tipo de intempéries, ainda assim é mais feliz, posto que é muda.
Árvores são inteira e plena em tudo que fazem.


Não pare de crescer.  Simples assim. #Fica a dica.

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