Os Sete Hábitos Para Infelicidade (Introdução 1/8)

A foto dessa reflexão ilustra bem o que iremos discutir, nos próximos dias.
Trata-se da construção da fundação de uma residência, de seu alicerce. As madeiras funcionam como moldes, fazendo uma espécie de caixa na qual o concreto será depositado, entre ferros.
Quando o concreto secar, elas serão retiradas, e o alicerce estará firme. Hábitos são assim, como essas formas de madeiras, são moldes que nos dão segurança, que nos capacitam à ação, perante uma situação que vivemos.
Ou seja, os hábitos moldam em nós padrões de comportamento, rotinas, manias, costumes que visam, no limite, simplificar, racionalizar ou padronizar nossa existência. São importantes resultados de aprendizados, pois sedimentam valores culturalmente e socialmente compartilhados.
Contudo, nem todos os hábitos são virtuosos, positivos e que levam ao crescimento. Existem hábitos entrópicos, que roubam energia, que contribuem para a involução do ser. Para o seu não desenvolvimento.
Pense no hábito de dormir até mais tarde, aprendido nas férias. Ao retorno ao trabalho ou estudos, este hábito precisará ser desaprendido, e logo. Assim como ele existem centenas de hábitos que precisamos desaprender, dando lugar a outros mais saudáveis e que elevem nosso ser, atualizando nossa existência.
A educação é o principal vetor de renovação de nossos hábitos.
Ela nos capacita ao aprendizado de rotinas que respondam melhor às mudanças de ambiente e contexto, fundamentais ao crescimento do ser, e a uma existência plena.
Identificar os hábitos ruins, negativos, que dificultam o crescimento do bem-estar é uma questão de saúde pública.

O que me levou a conversar contigo, sobre os sete hábitos para a infelicidade, foi um email que recebi de um amigo. Nele, o amigo pedia uma orientação para um padrão de comportamento que sentia que estava criando raízes nele: o da infelicidade.

Seja no trabalho, seja no casamento, seja na relação com os filhos, seja até na relação com os amigos.
Sempre estava sentindo-se em falta, ou que faltava-lhe algo para ser feliz.

Ele me revelou que sentia uma vontade danada de partir para um lugar distante e ali descansar.
Aí liguei para o amigo. Têm coisas que precisamos da voz, ou da pele, para melhor ponderá-las.

Soube então que o sentimento de infelicidade dele aumentava quando ele postava suas insatisfações, nas redes sociais, e um coro de descontentes, como ele, as endossava. Ampliando ainda mais as suas percepções de sofrer: com votos de apoio, curtidas e comentários na mesma linha.

Para piorar, ele passou a cobiçar as vidas dos "vizinhos de rede social", para os quais ele achava que a vida não tinha problemas. Não sabia ele que ali são vidas editadas, privilegiando na edição os bons momentos.

Naquele manhã, ele acordou muito cansado de si mesmo. Estava a ponto de estourar.  A gota d´água foi uma discussão boba com sua esposa, por conta de uma tarefa doméstica sempre adiada.

Ele me revelou que sentia uma vontade danada de partir para um lugar distante e ali descansar.
Lembrei-lhe do Salmista, que teve esse mesmo sentimento: " Ó quem me dera asas como de pomba! Então voaria, e estaria em descanso. Eis que fugiria para longe, e pernoitaria no deserto."  Salmos 55,6-7

Ter esses sentimentos é normal, em ocasiões da vida.  Mas, se não atacarmos o fluxo por onde eles correm, o da infelicidade, o quadro poderá se agravar derivando em depressões, ou, no extremo, em  suicídios ativos ou passivos de todos os tipos.

"Como assim o fluxo da infelicidade, Ricardim?"

Nossos sentimentos, ao longo de nossa história, vão aprendendo a correr como num leito de um rio.
A água são os pensamentos. O leito, nossos hábitos emocionais.
Não adianta querer ser feliz, conduzindo essa água pelo mesmo leito, que por anos foi esculpido na rocha de nosso ser.
Temos que mudar o leito do rio. E isso é lento, exige paciência, autocontrole, autoconhecimento e abertura ao novo. Lembro-lhe, o leito são as emoções, a água os pensamentos.
Os seja, alterar hábitos da vida exigirá um trabalho enorme.  Alterar hábitos de vida é alterar o fluxo, o leito.
Mas, garanto-lhe a mudança será da ordem de uma metanoia, uma mudança profunda, quando alteramos o fluxo, o leito.
Altere o curso do rio, remodelando a forma como habitualmente processa os pensamentos e emoções de tua vida.
Leve suas águas para outros leitos, menos pedregosos de si mesmo.

Desaprenda hábitos, ou padrões de comportamento que te conduzirão, com certeza, à infelicidade.

Como assim, Ricardim?

Amigo, durante anos somos treinados a esculpir o curso do rio de nossas emoções por leitos rochosos, pelos caminhos da infelicidade. Isto acabará por criar hábitos - hábitos são padrões de comportamento aprendidos.
Quem nos treina são as famílias, escolas, amigos, igrejas e trabalho.
Padrões de comportamento que se replicam em todas as áreas de nosso viver, mesmo que nos mudemos dela: casamento a casamento, amigo a amigo, trabalho a trabalho, cidade à cidade, etc à etc... tudo repete-se mais cedo ou mais tarde. Pois, a força do hábito não renova a existência dessas vivências, apenas as atualiza, com os mesmos padrões de comportamento do velho - o do já vivido.

Hábitos que vão criando as condições das pessoas ficarem sempre extremamente infelizes.
Falo "extremamente", pois um pouco de infelicidade é sinal, também, de saúde mental.

A tristeza eventual e em episódios de luto, e as dificuldades, fazem parte do pacote do viver, e temos que beber desse cálice.

Sem querer esvaziar o tema, enumerarei nos próximos posts, os sete hábitos para a infelicidade, que precisamos desaprender urgentemente, tal qual o exemplo do hábito de dormir até mais tarde, re-aprendido nas férias de alguns.

Conversar sobre esse tema, para mim, é uma questão de cidadania, de engajamento na busca de uma saúde coletiva de maior bem-estar.  Nos tempos atuais, testemunhamos uma epidemia de falta de sentido na vida - com multidões de homens-zumbis carregando os fardos de sua existência, cujos hábitos moldaram estilos de vida calcados fundamentalmente no ter, prazer e poder, levando-lhes à uma frustração de sentido.  Aprender novos hábitos de vida, ao desaprender os hábitos de morte, faz-se urgente e necessário ao bem viver. Trata-se de uma questão de saúde e de educação pública.

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