Cartas ao JG - Conecte-se à Graça.



Sabe filho, vivemos um final de semana cheio de graça. Fomos ao parquinho de diversões. Um parquinho simples, daqueles de periferia. Você gosta muito da anã-montanha russa, da barca em forma de pêndulo, do escorrego inflável, da pescaria, do pula-pula e do carro bate-bate. Cada brinquedo custa R$ 2,50, ou um dólar, atualizando o valor para quando você ler, aos 18 anos.

Tudo é muito popular, do jeito que gostamos. Tem cheiro de povo, um povo batalhador que sabe tirar um tempinho e uma graninha, tão curta meu Pai, para levar seus filhos à diversão. Passeamos um pouco sentindo aquele gosto de gente, compramos pipoca pra você e sua mãe, eu compro pastel de “borracha”.

Em todo momento você nos puxa para os estandes de tiro –impróprios para sua idade. Sob protestos, saímos do parque em direção a um Restaurante Japonês aqui em São Sebastião-DF, na Av. Comercial. Você veio no carro, bastante sem graça.

Havia mais de ano que eu queria frequentá-lo, nessa noite matei o desejo. Cozinha decente, mesas simples e limpinhas, atendimento atencioso, decoração do tipo bairro chinês.  Tinha de tudo que gostamos.

E, o sabor do que comemos não deixou a desejar em nada daqueles degustados em estabelecimentos mais chiques. Sem falar que o preço é uns 50% inferior, de graça.

Chegamos em casa por volta das 23hr. Ainda tivemos tempo para assistir um pouco de TV, no canal 183 da NET, TV Diário de Fortaleza-CE.  Nele têm programas engraçados, e naquele fim de noite demos boas risadas juntos. Viramos fãs do 183, e de alguns tipos toscos e cheios de graça participantes de seus programas de auditórios.

No sábado, pela manhã, levei você para seu treino de futebol. Seu técnico está muito feliz com seu jeito pra coisa. Eu aproveito para meditar entre tantas árvores. Ali rejuvenesço. Já conheço um monte de pessoas e troco uns dedos de prosa com elas. Alguns deles já viveram grandes desgraças pessoais, contudo não se deixaram desanimar e continuam dando belas respostas à vida.

À tarde nos divertimos esperando teus irmãos, e preparando um churrasco. Você gosta de ver vídeos de jogos que o povo salva no youtube. Antigamente gostava do Game Lego Star Wars; depois começou um jogo desgraçado de violento que logo descobri e cortei tuas asas: um tal de GTA.  Agora, está na fase do Marvel e da DC Comics.

Seus irmãos chegaram e a casa ficou cheia de graça. Almoçamos, demos boas risadas. Depois, fomos fazer um inventário dos discos de vinil, enquanto ouvíamos alguns deles especialmente selecionados. À noite o rodrigo fez aquele prato, de que graça mesmo? Ah, o Risoto.
Rodrigo está tomando gosto pela cozinha, foi uma noite memorável com seu irmão e esposa, a Andressa, servindo-nos.

Comemos tanto que ficamos até sem graça me repetir mais uma vez. Perto das 23hrs, deixamos os meninos, genro e noras e fomos ver um pouco de TV, o objetivo era te colocar pra dormir. Mais uma vez, sintonizamos no 183, e demos boas risadas, e de graça.

No domingo, começamos o dia indo ver a Casa do Papai Noel, no Setor Militar Urbano, no prédio da Poupex.  Seus olhos faiscavam de felicidade. Você deu um abraço no Papai Noel que lhe emocionou. Pediu de presente um LEGO City. Ficamos sem graça, acho que não é isso o que virá no trenó.

Saindo dali, fomos almoçar num cantinho de infinito que tem em Brasília, um lugar cheio de graça. É por trás da igreja de madeira da Vila Planalto, chama-se Casarão. Comida maravilhosa, música da melhor qualidade –grupo de choro; opção de mesas sob as frondosas árvores gameleiras. O tri de músicos tocava com a alma, tive que me levantar para filmar parte do show. Um deles, fez minha alma se engraçar de Deus, quando tirou no violino Luar do Sertão, música de minha terra. Logo, você foi explorar o local, após sua peleja diária para almoçar. Sua mãe é uma santa em te fazer comer.

Descobriu uma árvore que nasceu para acolher crianças. Uma árvore com dezenas de galhos que facilitavam a sua escalada. Uma árvore cheia de graça, pela composição de seus galhos e copa. Deveria ser tombada como a árvore de parquinhos. Você a descobriu xeretando o lugar. Ah! menino que gosta de aventura. Ela está ao lado do parquinho, uns 15 metros. Por um momento, eu e tua mãe achávamos que tínhamos lhe perdido. E você ali trepado, no mais alto da copa.

Encerramos o final de semana agradecendo na Igreja Metodista as graças de tão prazerosos momentos vividos.

Sabe filho, usei nosso final de semana para te falar de um dos conceitos mais difíceis de conceituar. Muito mais fácil de ser sentido do que ser explicado.

Você leu termos como: desgraça; sem graça; graça; engraçado; qual tua graça? Engraçar; desgraçado, de graça, com graça e as graças.

Tem até uma canção famosa que se chama Amazing Grace, (Espantosa Graça) que tenta definir numa canção o que sente quando se alcança o estado de graça.

Esteja atento à graça, esteja sempre cheio de graça. Ela reside na consciência humana e leva os seres ao desenvolvimento espiritual, e não te falo de religiões.

A graça é como uma rede Wifi do espírito. Está ali disponível, mas precisa de senha para conectá-la.

Às vezes a rede tá fraquinha; sem sinal ou seja, em desgraça. Às vezes a rede está sem graça, lenta ao extremo, sem humor algum.

Estes estados de espírito: sem graça e de desgraça serão facilmente detectados em você ou nos outros.  Cuide deles logo. Não deixe que eles em ti façam morada. Lute para superá-los, queda à queda,  você à você, pessoa à pessoa. Não se perca da graça. A graça nos conecta ao universo. Nos faz presentes e atentos ao milagre do viver.

É bacana viver momentos e estados de graça. Cultivá-los, como a um jardim precioso. Eles estão em todo lugar. É só ter olhos para vê-los e coração para tocá-los.

Está no parquinho de diversões; está no restaurante Cerrado-Japonês; está no Risoto; está no disco de vinil raro; está na árvore galhosas; está no violino; está na chuva fininha que caiu; está no humor de um programa de auditório; está numa criança que se debate contra o sono. Está num chute de futebol, está num vôo ao imaginário - de um goleiro esperto.
Está numa planta abrindo-se ao milagre do sol; está numa mãe passeando com seu filho. Está no arado do jardineiro, está no coro da igreja. Está nas mãos que acolhem, perdoam, abraçam e oram. Está em você, em quem me lê, está ali pertinho, nos corações dos homens e mulheres de boa vontade.

Mas, você precisará de senha para acessar a conexão da graça. Precisará fazer a conexão adequada. Desconectando-se de áreas que sugam a banda larga de teu espírito, e para baixo.
Tem muitas coisas conectando-se ao nosso coração, roubando o sinal da graça.

Um monte de mágoas, ciúmes, inveja, sentimentos de inferioridade, baixa autoestima, “des-perdão” para consigo mesmo e o outro.

Tem gente que delas precisará se afastar. São vilões da graça. Chupa-graça. Vampiro-graça.

Tem formas pelas quais verá o trabalho que dela precisará se afastar. São sem graça.

Tudo isso são conexões que roubam o sinal da graça, tornando-lhe um sem graça: raivoso, rabugento e desprovido de emoções.

Livre-se desses sentimentos que estão roubando sinal de tua banda larga humana, de tua conexão em busca de coisas que realmente valham a pena por elas viver.

Quanto às desgraças, elas virão. Mas passarão. Confie em mim.
Não conte suas desgraças, conte suas bênçãos. Registre suas desgraças na areia, quanto às suas bênçãos: nas rochas.

E, quando sair delas – não se perca dos valores, aí sairá mais capacitado ainda a sintonizar as estações da graça.

Você deve estar curioso para saber a senha da graça, são só quatro letrinhas: amor.

Olhe para vida, pessoas e circunstâncias com a conexão da graça, aberta pela senha do amor, e coisas maravilhosas tu verás.  Elas estão em todas as partes.

Contudo, muitos perderam o encanto, a espantosa graça, de vê-las e vivê-las. A indiferença os envenenou, dia a dia, de modo que tudo agora não mais lhes têm graça. Vacine-se contra a infeção da indiferença: assombrando-se todos os dias com a maravilha de viver, estando atento e presente ao existir.

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